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O processo de mudança institucional: um caso de “conversão” nos

5 UMA ANÁLISE INSTITUCIONALISTA HISTÓRICA E DE COMUNICAÇÃO

5.2 A trajetória escolhida

5.2.2 O processo de mudança institucional: um caso de “conversão” nos

ambiente ou dos interesses dos atores políticos, respectivamente, estrutura e agentes. Apesar da dicotomia, agente e estrutura não são excludentes entre si na abordagem sobre a mudança institucional em uma dependência de trajetória, o que induz a analisar as fontes externas e internas em um certo contexto institucional histórico.

Portanto, para a melhor aplicação da metodologia de path dependence, é primordial considerar a estrutura e os agentes políticos daquele período, sendo necessário estar atento às diferentes nuances entre estruturas e agentes, captando ambas as dimensões de forma simultânea. Essa interseção entre agentes e estrutura se deve à possibilidade que um se molde em função do outro, ou seja, as decisões dos agentes políticos podem ser tomadas devido às condições contextuais do ambiente, ao mesmo tempo em que as características temporais da estrutura se moldam devido às decisões tomadas pelos agentes políticos envolvidos. Uma abordagem equilibrada e balanceada em função da interação entre agentes e estrutura é necessário para analisar uma mudança institucional (LIMA; MÖRSCHBÄCHER, 2016, p. 113).

No caso da mídia partidária de Malta, como um produto de uma mudança institucional, podem-se destacar dois fatores exógenos, que são contextuais e ambientais. O primeiro é a necessidade de abertura ao pluralismo na mídia audiovisual, em um momento em que grande parte da Europa realizava simultaneamente o mesmo processo, no início dos anos 1990, sendo parte de um contexto ambiental para a conjuntura critica maltesa de 1991. Estruturalmente, haveria abertura ao pluralismo de qualquer forma. O segundo é que, paralelamente, já naquela época, as estruturas institucionais dos dois maiores partidos permitiam a eles possuir os recursos para a instalação e operação de grupos de mídia, em um local em que haviam poucas outras instituições formais com o mesmo potencial e poderio financeiro.

Assim sendo, torna-se mais relevante como elemento explicativo da opção por esse fenômeno a questão da escolha dos agentes políticos – as altas rodas partidárias maltesas que optaram por incluir em seu sistema de mídia alguns veículos de comunicação de propriedade dos partidos políticos.

As causas endógenas nesse fenômeno podem ser apontadas como a ação dos agentes humanos, sujeitos a conflitos de poder e interesses, que, no caso da mídia partidária maltesa, se referem às manobras realizadas pelas lideranças

131 partidárias e membros parlamentares dos dois maiores partidos junto à Broadcasting

Authority. Articulações políticas que, no contexto de abertura ao pluralismo em 1991,

permitiram outorgas de algumas das primeiras concessões de canais de rádio e televisão exatamente para esses partidos.

Não somente os dois maiores partidos malteses foram beneficiados pela outorga de mídia audiovisual, mas também o então terceiro maior partido, sem representação parlamentar, a Alternattiva Demokratika (Alternativa Democrática, em maltês), que iniciou a publicação de um jornal chamado Alternattiva, e recebeu a concessão de uma estação de rádio após a abertura ao pluralismo midiático de 1991, a Capital Radio, sem lograr a mesma importância e audiência dos canais de comunicação dos dois maiores partidos.

Isso significou que com o surgimento de um novo partido, a propriedade de veículos de comunicação não foi exclusividade dos dois maiores partidos, mas que os então existentes alcançaram o benefício da obtenção de canais audiovisuais.

Nesse processo de reconfiguração institucional dos grupos de comunicação de Malta, a formação dos grupos de mídia partidários não foi uma demanda forte e diretamente reivindicada de maneira ativa pela sociedade. Foi um arranjo derivado da dinâmica entre os atores políticos que produzem e implementam as regras – os membros dos dois maiores partidos do país, com destaque aos parlamentares de então. Portanto, é imprescindível considerar os fatores endógenos dessa mudança institucional como decisivos para a escolha e a trajetória que foi desenvolvida.

Os fatores endógenos aqui apontados, o acordo dos agentes políticos para a concessão de canais a ambos os partidos, inserem-se dentro da lógica de path

dependence, podendo ser visto dentro daquilo que Pierson (2000) considera como

ação estratégica para a manutenção ou a obtenção de poder.

As ações e estratégias de cada partido, na função de agente político, para a manutenção, obtenção ou ampliação do poder influiu em várias das escolhas nos estágios iniciais do processo de abertura do país ao pluralismo na transmissão de audiovisual. O Partido Nacionalista estava no poder em 1991 e possuir um canal dentro do espectro de audiovisual do país o ajudaria a amplificar suas plataformas, visando manter-se no poder. Ao Partido Trabalhista, que estava na oposição em 1991, interessava operar um canal de rádio e outro de televisão para ocupar um espaço na arena jornalística do país, amplificando sua voz e difundindo sua plataforma com vistas a obter o poder.

Essa ação estratégica faz parte do cálculo político de ambas as agremiações partidárias e influiu na escolha realizada no estágio inicial do processo de mudança institucional, culminando na concessão de canais de rádio e televisão para ambos, fazendo-os funcionar como porta-vozes dos interesses de seus respectivos proprietários (BULMER, 2014, p. 242).

Como instituições de forte capilaridade social, os dois maiores partidos malteses atravessaram um processo de conversão em sua mudança institucional, cujos fins se transformaram parcialmente ao incorporar em sua estrutura formal grupos de comunicação, cuja função é prover um serviço de informação e conhecimento vinculado com a mensagem do partido, objetivando a manutenção da cultura política de seu eleitorado.

Permanece o objetivo maior, o de vencer eleições, eleger representantes e participar do poder, mas a ele foi agregado outro objetivo: o de participar ativamente e diretamente do jogo da influência da opinião pública, ao prover conteúdo midiático para a mesma. A mudança institucional não precisou ser total.

A mudança institucional no cenário de grupos de comunicação em Malta foi de “conversão” (STREECK; THELEN, 2005, p. 26-29), em que as instituições já existentes – os fortes e socialmente enraizados partidos (CINI, 2002; BALDACCHINO, 2002) – foram redirecionados a novas funções, objetivos e propósitos: no caso maltês, paralelamente prover serviços de comunicação em massa para fins de informação e difusão de mensagem partidária. Tal redirecionamento veio como o resultado de uma mudança ambiental – a necessidade de abertura ao pluralismo em 1991 para minar as críticas de que o noticiário local era gerado somente a partir de uma única fonte estatal –, na qual as lideranças partidárias empregaram os recursos institucionais existentes para esse novo objetivo, enquadrando-se dentro dos interesses dos atores políticos de então. Assim, no que tange aos partidos malteses, analisado seu processo de mudança institucional, segundo o conceito de Streeck e Thelen (2005, p. 26-29), enquadra-se em um caso de conversão.

5.2.3 A retroalimentação da trajetória: versão forte no funcionamento do