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A influência do grupo Banco Mundial na política educacional brasileira

CAPÍTULO 1 AS “RAÍZES” DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO

1.4 A influência do grupo Banco Mundial na política educacional brasileira

O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) surgiu a partir da Conferência de Bretton Woods22, em julho de 1944, como instrumento para financiar a reconstrução dos países destruídos pela Segunda Guerra Mundial, sobretudo das nações europeias.

O Banco Mundial é composto pelos seguintes Organismos: Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), Associação Internacional de Desenvolvimento (AID), Cooperação Financeira Internacional (IFC), Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (MIGA) e Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre

22 Reunião de 45 países aliados na cidade norte-americana de Bretton Woods, estado de New Hampshire, com o

objetivo de definir os parâmetros que iriam reger a economia mundial após a segunda guerra mundial e estabelecer estratégias para o crescimento econômico e desenvolvimento dessas nações (CARVALHO, 2004).

Investimentos (ICSID). Essas instituições desempenham funções diferentes e complementares com o objetivo de combater a pobreza e promover o desenvolvimento (SILVA, 2002).

Segundo as Nações Unidas no Brasil, o Grupo Banco Mundial, é uma agência especializada independente do Sistema das Nações Unidas, representa a maior fonte global de assistência para o desenvolvimento, proporcionando cerca de US$ 60 bilhões anuais em empréstimos e doações aos 187 países-membros. O BIRD atua como uma cooperativa de países, que disponibiliza seus recursos financeiros, o seu pessoal altamente treinado e a sua ampla base de conhecimentos para apoiar os esforços das nações em desenvolvimento com vistas a atingir um crescimento duradouro, sustentável e equitativo.

A partir da década de 1970, objetivo principal do BIRD passou a ser a redução da pobreza e das desigualdades no mundo (sustentabilidade e equidade), essa ação permitiu ao BIRD emprestar grandes montantes de recursos para os diversos países latinos americanos em processo de desenvolvimento econômico e social, inclusive o Brasil.

Em 1973, com a primeira crise do petróleo, a situação da economia mundial agravou- se, demandando mais empréstimos, conforme explanado anteriormente na caracterização do contexto econômico, político e social do Brasil a partir da década de 1980. Devido à incapacidade dos países em desenvolvimento arcarem com as dívidas, como foi o caso do Brasil, foi permitido ao BIRD intervir nas políticas públicas dos países devedores a partir de 1975, implementando diversas exigências condicionadas à concessão de novos de empréstimos e o financiamento de programas de alívio à pobreza e, sobretudo, prescrevendo as políticas para a educação pública (SILVA, 2002).

Nesse cenário, a atuação do BIRD no Brasil prescreveu a educação como elemento para alavancar o crescimento econômico e o desenvolvimento do país. Mas com o agravamento da crise econômica brasileira, em meados de 1980, o Banco Mundial, em conjunto com o Fundo Monetário Internacional (FMI), assumiram a tarefa de formular e regular a política educacional brasileira com o propósito de articular a educação e produtividade futura.

Com isso, a ideia é que a qualificação por meio da educação seja imprescindível para a inserção do sujeito no mercado de trabalho. Silva (2002) aponta as intencionalidades da política educacional imposta pelo Banco Mundial:

A concepção de educação dos gestores externos subjacente nos documentos setoriais era utilitarista e pragmática definida como meio para que os indivíduos pudessem instrumentalizar e adquirir conhecimentos, comportamentos, atitudes, valores e habilidades, responder ás novas oportunidades, ajustar-se as mudanças sociais, culturais e participar em atividades de produção. (SILVA, 2002, p.69)

A partir da atuação do Banco Mundial no financiamento e regulação da política educacional brasileira ocorreram diversas reformas educacionais, tornando a educação um instrumento de desenvolvimento, mas limitando-a enquanto instrumento para promover o crescimento econômico e a redução da pobreza. Porque a pobreza é um dos elementos que degrada (e denuncia) o nível de desenvolvimento de um país, bem como, a educação na condição de ferramenta de trabalho impulsiona o movimento de crescimento do capital e determina a posição que o país ocupa na organização internacional do trabalho, conforme já discutido no conceito de desenvolvimento por Sen (2010) e Arrighi (1997).

Silva (2002) destaca que os princípios das reformas educacionais impostas pelo Banco Mundial visam transformar a escola como um lugar do mercado, a partir das seguintes ações: a prioridade na educação básica; melhoria da qualidade na educação; reestruturação administrativa dos órgãos responsáveis pela educação e a descentralização das políticas educacionais; maior participação dos pais e comunidades nos assuntos escolares; participação do setor privado e não governamental nas decisões sobre as políticas educacionais; mobilização e a alocação eficaz de recursos adicionais para a educação; a definição de políticas e prioridades baseadas na análise econômica; e, finalmente, enfoque setorial da educação.

Ao passo que o Banco Mundial (1996) esclarece que a prioridade pela educação básica é justificada pelos benefícios sociais e econômicos dessa educação, por se tratar da primeira fase de escolarização do individuo, auxiliando na moldagem de sua concepção de mundo. Já a melhoria da qualidade na educação se refere aos resultados do rendimento escolar em uma perspectiva de descentralização da execução e controle mediante avaliações, por meio da estruturação de um sistema nacional de avaliação escolar (BANCO MUNDIAL, 1996).

Com isso, fica claro que a política nacional de elevação da qualidade na educação, no qual o IDEB é o indicador, é parte do pacote educativo imposto pelo Banco Mundial. Portanto, não se trata de uma noção nacional de qualidade da educação, mas de um processo que traz para a escola pública nacional a mesma métrica de qualidade do modelo capitalista e seus modos de produção, propondo a educação pública como elemento de formação do trabalhador, cujas medidas de desempenho e qualidade estão afins ao mercado.

Compreender a influência do grupo Banco Mundial na política educacional brasileira é elemento essencial para atentar-se a noção de qualidade em educação presente nas políticas públicas educacionais e seus elementos. Assim como, também é necessário entender as bases das diversas reformas educacionais, tal qual, a criação de um sistema de avaliação educacional, que demostra a existência de uma educação básica universal e de qualidade a

todos aqueles que desejam investir no país e para a lógica do pacto federativo de 1988, conforme texto a seguir. Contudo, essa escola abandona a noção de educação para a formação (aumento das liberdades constitutivas), enquanto elemento que proporciona um desenvolvimento sustentado, conforme alerta Sen (2010).

1.5 O pacto federativo de 1988: (des)centralização da educação -