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4.1 Delineamento do perfil dos Coordenadores de Curso da Graduação

4.1.2 A influência para assumir a Coordenação de Curso

Nesta categoria são discutidos os fatores que influenciaram, de modo particular, o docente se disponibilizar para assumir a coordenação de um curso na graduação. O Quadro 10

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apresenta os trechos de relatos sobre esta questão, evidenciando os principais motivos e/ou desejos dos professores-gestores para atuarem na gestão de um curso:

Fator de influência para assumir a Coordenação do Curso

Relatos dos coordenadores Interpretação dos relatos

Conduzir melhor o curso

“Especificamente essa caracterização que nós temos alunos muito bons e que estavam sendo prejudicados pela forma como o curso estava sendo conduzido [...] Então me ofereci exatamente para poder regularizar o

curso e fazer que a coisa funcionasse bem novamente” (PG1).

Melhorar a realização das atividades gerenciais na

coordenação de curso, visando contribuir para o desempenho dos discentes

ao longo do curso.

Contribuir, colaborar para o progresso do

curso

“Na perspectiva de você poder contribuir, de você poder colaborar, então foi mais nesse sentido que eu

me coloquei à disposição da coordenação, de participar, de pleitear essa eleição e de estar à disposição para colaborar com o curso” (PG2). “Eu não quis ser coordenador, mas na verdade alguém tinha que ser responsável pelo curso [...] Tem

muitos problemas no curso, eu acho que eu posso trazer uma contribuição pro curso, pra resolver esses

problemas” (PG3).

“Garantir, proteger, preservar, melhorar este curso [...] Eu poderia prestar um grande serviço à instituição onde trabalho, a posição que ocupo na sociedade [...] então era como se um bastão estivesse

sendo passado pra mim” (PG6). “Então assim eu acho que foi meu compromisso mesmo né, [...] a gente tem um curso que se orgulha

muito, o corpo docente, e a gente tenta cuidar bem dele, e esses últimos anos tem sido a minha função

pra tá nesse lugar” (PG7).

“Acho que mais a vontade de dá prosseguimento a um trabalho que vinha sendo bem feito pela gestão

anterior” (PG11).

“É uma questão de ter o entendimento que todo mundo tem que colaborar um pouco e enriquece muito a sua formação quando você passa por um cargo de gestão [...] Então não era uma coisa que eu

sonhava, mas que depois eu abracei e fiquei realmente com vontade de colaborar pra que o curso

pudesse melhorar” (PG14).

A disponibilização ocorreu mais por necessidade institucional do que por vontade própria de estar em

um cargo gerencial, como forma de contribuir na

gestão acadêmica da instituição de ensino, buscando melhorias para os

cursos de graduação.

Ouvir mais os discentes e diminuir a evasão no

curso

“Muitos alunos que evadiram, eu penso que fazendo esse trabalho de escutar, de procurar soluções, de

buscar caminho, aí eles permanecessem e terminassem concluindo o curso, que a gente aumentasse um pouquinho que fosse a diplomação e

reduzisse um pouquinho que fosse a evasão, na medida do que pode ser dependente da atuação da

coordenação” (PG4).

Oportunidade de acolher mais os discentes e tentar

diminuir, a partir da iniciativa de ouvi-los e

buscar resolver suas demandas acadêmicas, a

evasão e retenção dos discentes nos cursos. Quadro 10: Fatores que influenciaram assumir a Coordenação de Curso

83 “A gente acaba tendo um aumento de retenção no

curso e a gente quer diminuir isso, então participar da vida dos alunos permite isso [...] a influência particular pra coordenar é tentar dirimir, diminuir esses problemas, fazer com que a voz dos estudantes

seja ouvida” (PG17).

Interagir melhor com os discentes do curso

“No que estava vendo, conversando com os meninos era carência dos meninos em ter um coordenador atuante, então um coordenador acessível, eles não

tinham no curso” (PG5).

“Então talvez a minha personalidade de me relacionar bem com os discentes [...] gosto de conversar, gosto de saber como estão, gosto de ter esse feedback como

o curso anda” (PG17).

“Essa facilidade em lidar com o público de forma geral, tenho boas relações com professores, alunos, direção de centro, chefia de departamento, então eu acredito que seja essa facilidade do trânsito que me

deixe confortável na situação de coordenador” (PG18).

Necessidade de proporcionar aos discentes

um coordenador de curso mais acessível e mais próximo para ouvi-los. Além da habilidade de se

relacionar bem com os discentes, e de se preocupar

com o desempenho destes ao longo do curso.

Trabalhar na reforma curricular do curso

“Exatamente pra defender a proposta do curso que vinha sendo, que na minha primeira gestão como coordenadora foi quando houve toda a reformulação,

[...] e como nós estamos outra vez em processo de formulação, eu quis é... participar desse momento”

(PG8).

“O nosso curso aqui, o currículo dele é muito engessado, o aluno tem muita pouca flexibilidade e poucas opções de como ampliar a formação [...] então

essa reformulação vai vir aí com o trabalho da gente e essa era uma vontade que a gente tinha desde

quando chegou aqui lá atrás” (PG10). “Basicamente a vontade de fazer uma reforma curricular mais consistente no nosso curso [...] tentar achar o melhor caminho aí pra reforma curricular do

curso” (PG15).

O desejo de dar continuidade à reformulação curricular, visando melhorar

o currículo dos cursos e proporcionar uma atuação

mais ampla dos discentes como futuros profissionais

nas suas áreas de atuação.

Atender ao pedido feito pelos colegas

“É... eu gosto dessas atividades sabe, eu acho que por isso quando eu voltei do doutorado era unânime a indicação, era uma atividade que eu tinha gosto em fazer, mas se fosse por iniciativa própria eu não iria me é, disponibilizar o meu nome né, eu não iria me

candidatar” (PG9).

“É basicamente foi um pedido dos colegas, eu já tinha uma certa experiência, eu não queria ser coordenador porque eu já tinha exercido vários cargos na universidade e eu não queria [...] então eu

assumi, basicamente foi um pedido deles, mas eu também gostei, gostaria de ter sido coordenador, fui e

estou satisfeito” (PG12).

“Na verdade, não tinha interesse em me tornar coordenadora. Aceitei compor a chapa com o professor [nome] por compreender que me envolver com gestão também faz parte de minhas atribuições

Aceitar a indicação ou pedido feito pelos pares para

assumir a coordenação de curso e dar sua contribuição

na gestão acadêmica, como forma de reconhecimento

que a gestão acadêmica também é uma das atribuições que o docente pode exercer na instituição

84 enquanto professora de Instituição Federal” (PG20).

Preferir lidar com os discentes a lidar com os

docentes do curso

“E também outra coisa que me motivou é porque na coordenação mesmo lidando com aluno, sendo muito

desgastante do ponto de vista psicológico, é menos desgastante do que na chefia de departamento, porque daí a gente lida com o ego dos professores e é

muito difícil a gente lidar com isso” (PG13).

Preferência para atuar na coordenação do curso a

atuar na chefia de departamento, visto que existe mais propensão para

lidar com os discentes.

Adquirir aprendizado sobre a gestão

acadêmica

“Foi minha necessidade de aprendizado [...] precisava de fato conhecer como funciona todo esse sistema

acadêmico dentro da universidade [...] como as instâncias se relacionam dentro da universidade e qual o papel do coordenador, qual papel do aluno, do

professor, do servidor nesse processo” (PG16).

O desejo de adquirir mais conhecimentos sobre a gestão acadêmica, e mais

aprendizado sobre os processos administrativos realizados na instituição de ensino. Topar o desafio de atuar na gestão acadêmica

“O desafio em atuar numa coordenação” (PG19).

Encarar o desafio de estar à frente de uma coordenação

de curso na graduação. Fonte: Elaboração própria com base nas entrevistas (2020).

Os posicionamentos de alguns entrevistados (PG4, PG5, PG17, PG18) convergem com a pesquisa realizada por Silva (2012), enfatizando que o professor-gestor precisa ter uma aproximação mais aberta com os discentes, como forma de estabelecer uma relação mais afetiva e de confiança, com respeito mútuo e empatia, realizando uma parceria para que juntos, coordenação e discentes, busquem a solução de problemas e o alcance dos objetivos compartilhados [grifo nosso].

Outro ponto levantado nestes resultados pela entrevistada PG20 que converge com a teoria apresentada por Palmeiras e Szilagyi (2011), sobre os motivos dos docentes para assumir a coordenação de curso, é o reconhecimento que exercer um cargo de gestão faz parte da carreira do docente. Os resultados na pesquisa dessas autoras apontam, ainda, como motivos a necessidade de dar uma visão estratégica ao curso, bem como o interesse em implementar inovações na gestão acadêmica [grifo nosso].

Alguns entrevistados (PG4, PG6, PG8, PG9, PG12) comentaram que gostam da atividade na coordenação, que é prazeroso, mas que, ao mesmo tempo, não tomaram a iniciativa de se candidatar a coordenação, foi mais a pedido dos colegas docentes, incentivando a candidatura, ou para dar continuidade ao trabalho que estava sendo desenvolvido na gestão do curso. Além disso, dois entrevistados (PG15 e PG16) relataram que a gratificação como coordenador de curso é desinteressante diante de tantas demandas burocráticas e problemas que o coordenador tem que lidar ao longo da sua gestão.

Há coordenadores (PG2, PG7, PG14) que consideram importante que todos os docentes das IFES, em algum momento, se disponibilizem para assumir a coordenação de curso, uma vez que a colaboração na gestão acadêmica é um compromisso que o docente do

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ensino superior tem com o ensino e com a formação dos discentes, além de poder adquirir um conhecimento mais completo sobre os micros e macros processos da gestão em uma universidade.

Foi possível, pois, conhecer um pouco do perfil demográfico e profissional de cada coordenador entrevistado, bem como suas características pessoais e a influência para assumir a coordenação de curso. Identificamos também a preocupação por parte de alguns coordenadores em realizar sua função para contribuir e engrandecer o curso e a formação dos discentes. Ficou evidente que o cargo de coordenador de curso não é muito atrativo para os docentes, visto que há um acréscimo de atribuições gerenciais junto à docência e que existe uma lacuna de formação e preparação na transição de docente a professor-gestor.

Discutiremos na seção a seguir sobre a trajetória dos coordenadores de curso, suas funções e atividades na gestão acadêmica.