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A infraestrutura física do “lar dos velhinhos”

A Instituição de Longa Permanência em foco nesta pesquisa apresenta uma estrutura institucional bastante sólida, alicerçada no voluntariado promovido pela sociedade civil, por empresas do ramo privado, pela iniciativa religiosa, assim como, pela rede de assistência social pública gerida pelo Estado. Após sua construção, alcançou-se certa estabilidade financeira e a corporificação organizacional administrativa.

Nos últimos anos o “lar dos velhinhos” ganhou notoriedade no Distrito Federal, obteve repercussão midiática positiva e tem recebido avaliação satisfatória dos órgãos fiscalizadores. Essa instituição representa um caso exitoso transformado em modelo exemplar de instituição, se comparado a outras instituições de natureza semelhante. Portanto, é importante frisar que esta ILPI destoa das condições e adversidades enfrentadas

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por outras entidades do Distrito Federal e em outras regiões do país. Não podemos generalizar de modo precipitado as características nela apontadas, pois sua realidade exprime certas vantagens em relação às demais realidades institucionais. Sabe-se que muitas ILPIs ainda encontram obstáculos, sobretudo econômicos, que impedem melhorias em seus serviços e infraestrutura, ou que, por outro lado, não assumem o comprometimento com o cuidado integral dos idosos seja por negligência ou irresponsabilidade social.

Integrado ao quadro de instituições parceiras da SEDESTMIDH, o “lar dos velhinhos” mantém suas obrigações legais em conformidade com as exigências da Secretaria. Os critérios relativos às instalações e infraestrutura, número de funcionários, cuidadores, profissionais de saúde, a qualidade dos serviços são seguidos à risca sob a ameaça de desligamento do convênio.

A infraestrutura física do estabelecimento apresenta características semelhantes a uma residência comum. A área externa é preenchida por jardins, pequenos arbustos, árvores frutíferas, alguns bancos distribuídos por toda extensão do local. O panorama da organização espacial da instituição é formado por três principais pavilhões: o setor administrativo; os blocos de dormitórios e o bloco do dormitório dos dependentes. O setor administrativo constitui a secretaria, a contabilidade e o gabinete da direção. Também fazem parte deste prédio duas salas da equipe de apoio administrativo onde atuam os psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais.

O pavilhão residencial está dividido entre o Bloco “A” feminino e o Bloco “B” masculino. Cada bloco é composto por 19 dormitórios; uma sala de televisão; uma sala de repouso para os funcionários; uma rouparia e um almoxarifado. Os dormitórios são suítes compartilhadas entre duas pessoas. A mobília dos quartos é modesta, composta apenas por duas camas, um guarda-roupa e dois criados-mudos. Um espaço livre no centro do cômodo é priorizado para melhor mobilidade dos idosos, principalmente para os cadeirantes. As camas não são padronizadas; algumas são camas comuns, outras são macas hospitalares distribuídas conforme o grau de dependência e necessidade particular dos idosos. Alguns idosos têm seus pertences pessoais expostos no quarto, deixando a vista fotografias, livros, artigos religiosos, cosméticos, bibelôs, presentes recebidos pelos familiares, colchas e cobertores pessoais. Já outros, costumam manter os objetos dentro do guarda-roupa ou possuem poucos pertences de uso próprio. Foi possível observar que as mulheres tem

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apreço maior pelos objetos pessoais, mantendo-os sempre próximos, seja no quarto ou nas áreas comuns da instituição. Algumas idosas têm autorização para criarem animais de estimação que perambulam pelos arredores das áreas comuns, e isso gera, inclusive, conflitos entre as residentes.

Além da preferência feminina em resguardar os bens, são os idosos com capacidades funcionais e cognitivas preservadas que geralmente portam acessórios de uso cotidiano, pertences que reavivam lembranças dos familiares e amigos, e objetos que reafirmam suas próprias identidades, subjetividades, gostos e preferências. Goffman (2015) afirma que os bens individuais tem uma relação com o eu. Trata-se de um “estojo de identidade” usado para se ter controle da aparência pessoal e da maneira de apresentar-se diante dos outros.

O pavilhão dos acamados, ou Bloco “C”, tem estrutura semelhante aos demais blocos, o que difere é o número de quartos disponíveis – nesta área concentram-se 12 quartos-suítes – a enfermaria e a farmácia, onde são manipulados os medicamentos. O bloco é dividido por um corredor que separa os quartos femininos e masculinos. Os quartos acomodam duas pessoas do mesmo sexo em situação de dependência e os banheiros são compartilhados entre dois quartos, servindo como divisória entre eles. Neste bloco, pertences pessoais dão lugar aos equipamentos de uso hospitalar. É raro encontrar objetos e utensílios se não apenas produtos básicos de higiene pessoal, manipulados pelos cuidadores no banho dos idosos.

Cada uma das alas conta com uma varanda, um espaço de socialização, onde os idosos passam as manhãs e tardes, recebem as visitas, interagem entre si. A varanda principal que liga os blocos A e B é o local de maior movimentação de idosos e visitantes ao longo do dia. Lá acontecem algumas atividades da programação semanal, como por exemplo, o jogo do bingo ou a visita de familiares e voluntários.

Outros prédios de menor porte servem como setores funcionais da instituição. A lavanderia, onde é realizado o serviço de limpeza das roupas de cama e vestuário dos idosos. A barbearia, onde são oferecidos serviços estéticos: corte e pintura de cabelo, barba, manicure. A biblioteca, onde são disponibilizados livros (a maioria dos livros são de conteúdo religioso) e computadores para o uso dos idosos. A sala da fisioterapia, local de tratamento de saúde. A sala de reuniões espíritas, para os encontros religiosos matinais aos domingos. O refeitório e a cozinha, recentemente reformados, partilham do mesmo prédio

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e é o local de reunião para as refeições diárias, comemorações e festividades em geral. O almoxarifado, onde estão localizados equipamentos de manutenção das instalações, dentre outros produtos de reabastecimento da instituição. O “cantinho do idoso”, localizado na área exterior, onde está fixada uma horta orgânica para o cultivo de flores e hortaliças pelos próprios residentes. O fraldário, um local reservado para a produção manual de fraldas geriátricas descartáveis, trabalho esse realizado por voluntários da instituição. E a garagem, uma pequena área coberta no exterior dos prédios, reservada para atividades e eventos da ILPI.

Os residentes da instituição transitam principalmente pela varanda, espaço que interliga um bloco ao outro, esse é também o local onde vários cuidadores reúnem-se após cessarem as atividades no interior dos blocos. Vigilantes, eles atuam na observação constante dos idosos. Nos outros espaços da instituição, como por exemplo, a área externa dos jardins, é mais comum encontrar os idosos acompanhados das cuidadoras.