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O Conselho dos Direitos do Idoso e o seu papel na implementação das

1.3 A atuação do Estado e as políticas de cuidado

1.3.3 O Conselho dos Direitos do Idoso e o seu papel na implementação das

A década de 1970 e a luta pela redemocratização do país foram emblemáticas na mobilização de organizações populares que influenciaram políticas sociais do Estado Brasileiro. Dentre os efeitos positivos deste marco histórico, soma-se a Constituição Federal de 1988 e a proposição de ampliar e institucionalizar os espaços de democracia participativa (BORGES, 2009). A ênfase nos direitos sociais de minorias desprivilegiadas incentivou a criação de políticas públicas e reforçou o baluarte universalizante e democrático assentado na Constituição. Os conselhos dos idosos nasceram do processo de delineação política vigente pós-redemocratização e representam uma conquista social com proposta de emancipação popular e enfrentamento de questões relativas ao envelhecimento em diversas esferas e segmentos na interlocução entre governo e sociedade civil.

Como mostram Debert e Oliveira (2013), os conselhos de direitos do idoso são formados por um colegiado de representantes do poder público e da sociedade civil que buscam dinamizar as reivindicações da pessoa idosa. É, pois, um espaço de articulação da representatividade da sociedade em sua diversidade, espaço de autonomia para deliberar e definir diretrizes de políticas sociais, e ainda, fiscalizar serviços e atendimentos de entidades de caráter público e privado. Os conselhos dividem-se em Conselho Nacional, Estaduais ou Distrital e Municipais. Para Demo (1990), a participação pode ser definida como “processo de conquista e construção organizada da emancipação social” (p. 133). O autor fragmenta os conceitos compostos nesta definição, e, sintetizando sua explanação, compreendemos que se trata de um fenômeno histórico fomentado pelos reais interessados, estes formadores de uma cidadania coletiva que focaliza o sujeito social no espaço histórico-estrutural das desigualdades sociais.

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O Conselho dos Direitos do Idoso do Distrito Federal (CDI/DF), órgão de caráter paritário, consultivo e deliberativo, foi criado em 1991, e encontra-se vinculado à Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulher, Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH). O órgão é composto por dezesseis membros e respectivos suplentes, sendo oito representantes governamentais (Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania; Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda; Secretaria de Estado de Fazenda; Secretaria de Estado de Saúde; Secretaria de Estado de Educação; Secretaria de Estado de Transportes; Secretaria de Estado de Segurança Pública; Centro de Assistência Judiciária do Distrito Federal); e oito representantes da sociedade civil (instituições de defesa de direitos do idoso; instituições de ensino superior com programa de atendimento ao idoso; associação de idosos; centro de convivência de idosos; Instituições de Longa Permanência; organizações de caráter técnico-científico com atuação na área do idoso) (BRASIL, 2011).

Durante a pesquisa de campo foi concedida a oportunidade de acompanhar uma reunião extraordinária do CDI/DF convocada no mês de novembro de 2017, cujas pautas em sua maioria tratavam da aprovação de atas e resoluções. Dá-se especial destaque à 6ª pauta da reunião (Anexo II) referente à “Apresentação do(s) parecer(es) da Comissão de Fiscalização e Registro e consequente Deliberação do(s) registro(s) da(s) entidades”. O registro das entidades é o procedimento que habilita as Instituições de Longa Permanência (ILPIs) e os Centros de Convivência do Idoso (CCIs) a iniciarem ou prosseguirem as atividades de atendimento aos idosos e a receberem a verba pública proveniente do convênio com o governo. A avaliação e monitoramento são desempenhados por um ou dois membros do CDI/DF mediante visita in loco. Nessa mesma reunião foram deliberados onze registros expedidos via processo. Cada processo e respectiva instituição foram apresentados pelos membros conselheiros responsáveis pela visita ao estabelecimento. A avaliação das ILPIs esteve centrada nas adequações estruturais, questões sanitárias e a qualidade dos serviços disponíveis nas entidades. Embora algumas instituições não estivessem plenamente adaptadas às exigências legais necessárias, os conselheiros compreendem fatores impeditivos aos reajustamentos quando envolvem a falta de recursos financeiros por parte das instituições. O Conselho entende que atualmente as entidades buscam o aprimoramento de suas condutas, cabendo ao órgão fiscalizador cooperar na educação e orientação da prestação de serviço de qualidade em todos os níveis - assistência

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social, educação e saúde - para que as necessidades e os direitos dos idosos sejam respeitados e garantidos.

Segundo o presidente do Conselho dos idosos do Distrito Federal, a principal barreira enfrentada atualmente pelo CDI é a implementação das políticas públicas já existentes. Isto tem ocorrido devido à escassez de recursos dos Conselhos, dificultando o exercício de todo o trabalho técnico e burocrático. O uso de equipamentos e serviços básicos como, por exemplo, telefones e internet, estiveram inacessíveis durante dois anos. Os automóveis utilizados na fiscalização para o deslocamento até as entidades são de propriedade dos conselheiros, bem como o gasto com o combustível é destinado a contas particulares.

Desse modo, o papel designado ao Conselho dos Direitos do Idoso - de cobrar respostas, impulsionar os governos e fiscalizar as entidades - enfraquece perante inúmeras dificuldades de ordem prática. As medidas tomadas pelo Conselho tendem a ser onerosas e insolúveis a ponto de dissipar a estrutura consolidada que representa sua influência política, tendo em vista a participação das organizações da sociedade civil.

O que se defende neste ponto de vista é a consolidação dos direitos e políticas para as pessoas idosas não apenas sob os estratagemas burocráticos do Estado e as ações governamentais, mas pelas vias democráticas que inserem a sociedade civil nas tomadas de decisões. No caso dos conselhos, o papel de fiscalização funciona como apoio fundamental para a estruturação das instituições receptoras de idosos em situação de vulnerabilidade física e social. A existência do Conselho não se resume a aplicação de medidas meramente punitivas, mas de auxiliar a adaptação destas instituições a um regime que possa garantir acessibilidade em condições dignamente apropriadas às pessoas idosas.

O exame das questões acima apontadas faculta a dimensão teórica da responsabilidade do Estado na provisão de políticas de cuidados aos idosos. Como informado, as medidas de fiscalização instauradas pelo poder público estabelecem padrões de manutenção adequados às instituições, estas por sua vez, precisam rigorosamente aplicá-las a fim de manterem os serviços em funcionamento. Tal medida tem sido eficaz no sentido de humanizar as instituições. Por outro lado, muitas instituições não contam com recursos suficientes para a adequação das normas e sucumbem à interdição ou permanecem operando na clandestinidade.

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Com relação às políticas de cuidado, o Estado propõe a Proteção Social Especial de Alta Complexidade como resposta às alternativas de cuidado exigidas pela sociedade diante da inviabilidade das famílias em assumirem sozinhas o cuidado dos idosos. A alternativa da institucionalização é, muitas vezes, a solução para os idosos dependentes e desprovidos de redes de apoio primárias.

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2 A POLÍTICA DE CUIDADO INSTITUCIONAL

A Assistência Social consolida-se na política de proteção social, garantindo a todas as pessoas que dela necessitam sem a necessidade de contribuição prévia à sua provisão (BRASIL, 2004). Já a política de cuidado de longa duração, em sua modalidade institucional, está alicerçada na Proteção Social Especial, especificamente na modalidade de Alta Complexidade, voltada para o acolhimento de pessoas idosas nas Instituições de Longa Permanência. Para o acesso a política de “acolhimento institucional”, o usuário deve percorrer um “caminho” traçado pelas vias institucionais e burocráticas que atuam conjuntamente e de forma transversal.

No presente capítulo será apresentada uma análise do percurso de acesso à política, os fluxos e as instâncias ou equipamentos sociais que analisam e “depuram” as demandas da institucionalização.