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4 A INSERÇÃO DO PROCESSO PARTICIPATIVO NA COMUNIDADE

Para estudar o processo participativo na assistência de enfermagem, participamos de várias atividades desenvolvidas durante a realização desta experiência, tais como; assembléias, reuniões, formação do círculo de cultura e Pastoral da saúde, orçamento participativo, contatos formais e informais com os moradores e a Unidade Básica de Saúde (U.B.S.), comissão dos insetos, lixo e água. Essas atividades foram sendo construídas, a partir do processo educativo proposto por Paulo Freire que, mediante a ação e reflexão sobre a realidade da comunidade incluiu os quatro momentos do itinerário de pesquisa.

A população que participou desta experiência foi constituída pelos moradores do Saco Grande II e do Sol Nascente. Para tanto, foi analisado o seu grau de participação junto às atividades do bairro, ou seja tinham participativa ativa, pouco ativa ou não participativam. A análise desta participação possibilitou aprofundar a importância do processo participativo para a conquista de uma melhor condição de saúde.

O início da coleta de dados ocorreu em novembro de 1992 e, em junho de 1994, consideramos como finalizada esta experiência, a fim de concluir a dissertação. No entanto, através da criação do Núcleo de Extensão, Pesquisa de Educação Popular em Saúde-NEPEPS, será possível dar continuidade à ação e reflexão do processo participativo na comunidade deste estudo.

A metodologia utilizada para a coleta de dados não teve procedimentos metodológicos detalhados previamente estabelecidos. O trabalho baseava-se no itinerário de pesquisa de Paulo Freire, que consistia no levantamento dos temas geradores através do dialogo entre os mestrandos e a comunidade, cujo objetivo era a identificação dos problemas e preocupação para sua possível transformação.

O itinerário de pesquisa é um método flexível e aberto e à medida que os temas foram surgindo, outros formaram-se e novos assuntos discutidos.

Áo se desenvolverem estes momentos na prática concreta dos sujeitos envolvidos, buscamos participar e analisar como ocorria a inserção do processo participativo para a conquista de melhor qualidade de vida. Esta análise surgiu pelos depoimentos colhidos durante as assembléias, reuniões e grupos que exprimiram a identificação dos temas geradores, cujo desnivelamento conduziu à organização da comunidade para a conquista de uma melhor infra-estrutura no bairro que, consequentemente, elevaria o seu nível de saúde. Tais reflexões e depoimentos colaboraram para elucidar e avaliar permanentemente a forma com que o itinerário se

aplicava na prática.

Através desta proposta educativa, foi possível também não só analisar a participação dos moradores, mas propiciar e facilitar o fortalecimento do movimento popular no bairro. Além disso, percebemos como se dava a relação dos moradores com a U.B.S., como eram planejadas as ações de saúde e onde se inseria a sua participação para o controle social destas ações. Nos círculos de cultura bem como na Pastoral da Saúde, identificamos as práticas alternativas de saúde que eram utilizadas pelos participantes e analisamos os motivos que os levavam a participar ou não do curso.

A percepção da realidade ocorria através do diálogo com os sujeitos envolvidos neste processo, o que expressava os conteúdos pelos quais eram planejadas as ações a serem desenvolvidas na comunidade.

Para analisar estas ações e reflexões, fazíam-se os registros num caderno de campo, compreendido como notas de campo, teóricas e de reflexão. Diante disto,

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buscamos o consentimento dos sujeitos participantes, tanto para os registros dos dados, quanto para a utilização do itinerário de pesquisa, o que foi obtido no início desta experiência e durante a sua realização, em consulta pessoal, realizada verbalmente.

Em algumas assembléias e reuniões dos círculos de cultura, utilizamos o gravador como recurso para registrar os encontros, cujos dados transcrevemos de forma mais breve possível. Além disso, foram tiradas algumas fotografias para registrar os acontecimentos importantes na comunidade. Os dados colhidos foram validados pelos próprios participantes ao longo dessa experiência.

Entretanto, sentimos que, ao interagirmos com os participantes, estavam sendo evidenciados apenas alguns aspectos do que pensavam e sentiam a respeito da "participação popular". Na verdade, captavam-se dados fragmentados que respondiam as nossas expectativas que estavam sendo referenciadas teoricamente, porém, não se compreendiam os motivos que os levavam a participar ou não. Assim, para complementar estas informações, realizamos entrevistas com os moradores que residiam no bairro do Saco Grande II e Sol Nascente. Para sistematizar as entrevistas foi utilizado um roteiro semi-estruturado ( ver anexo XIX).

Cabe ressaltar que as etapas da entrevista não ocorreram de forma sistemática, pois conforme o seu desenvolvimento os temas surgiam e eram relatados pelos entrevistados. A entrevista era de forma bastante aberta deixando ao entrevistado liberdade para expor suas idéias. Em todos os momentos o entrevistador e o entrevistado eram participantes da entrevista, e ambos dialogavam sobre o tema proposto surgindo, muitas vezes, novos temas.

A partir deste roteiro foram escolhidos quinze(15) sujeitos para a realização das entrevistas, selecionados durante a realização de reuniões dos círculos de cultura, assembléias, visitas à comunidade e posto de saúde. No momento da seleção, procuramos observar a participação de várias pessoas da comunidade e, através da nossa percepção, procuramos entrevistar pessoas com pouca participação, nenhuma participação e participação ativa.

As entrevistas eram marcadas com antecedência, ficando a critério do entrevistado escolher o dia, a hora e o local. Não houve problemas referentes às entrevistas, pois os entrevistados mostraram-se acessíveis e dispostos a participar do processo. As entrevistas foram gravadas e, depois de dois a três dias, transcritas, retomavam aos entrevistados, conforme surgiam oportunidade, porque nem sempre eles se encontravam disponíveis. Após sua concordância eram definitivamente inseridas no relatório.