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como proferiu uma liderança, "uma coisa puxa a outra”, que aos poucos foi se construindo o movimento organizado no bairro Para dar continuidade à construção

3.10.2 A saúde como conquista

E, como proferiu uma liderança, "uma coisa puxa a outra”, que aos poucos foi se construindo o movimento organizado no bairro Para dar continuidade à construção

do barracão comunitário no Sol Nascente, a AMSOL já estava planejando realizar um baile no Parque Admar Gonzaga, localizado no Saco Grande II, a fim de viabilizar estes recursos. Surgiu, então, a idéia de organizar este evento em conjunto com o Conselho Comunitário, integrando desta forma a participação dos moradores e fortalecendo a sua organização no bairro. A nossa atuação neste processo ajudou, também, a fortalecer a integração o que possibilitou a análise de aspectos referentes á sua identidade cultural investigados no tema do "lazer".

O "baile da primavera", como foi chamado, seria realizado no dia 17 de setembro de 1993 no Parque Admar Gonzaga. A participação dos moradores neste evento foi muito significativa; dividiram-se em várias comissões para encaminhar as atividades referentes ao mesmo. Contrataram um grupo musical, uma banda para animar o baile, pagando, na época 750 ( setecentos e cinqüenta ) dólares, despesa considerada válida, pois diziam: "onde o grupo toca a casa fica cheia". A festa foi muito bem organizada, contando com a divulgação em várias estações de rádio, além da colocação de faixas e cartazes. No entanto, ao ser realizado o baile houve pouca

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participação da população, cabendo à comissão organizadora o pagamento das despesas significativas.

Em relação a essa festa observamos que, mesmo não resultando lucro, houve uma maior integração entre os moradores da comunidade. A perspectiva do desenvolvimento desta ação possibilitou a conquista da participação coletiva enfrentando e criando interesses sociais comuns, principalmente no fortalecimento da organização popular do bairro. Sendo assim, quando houve eleição para a nova diretoria do COMOSG, o bairro do Sol Nascente elegeu um membro para o conselho fiscal, em 5 de outubro de 1993.

Muito embora deva ser considerado que os conselhos comunitários no Estado quase sempre representaram interesses político-partidários, e isto se registrava com freqüência no Conselho Comunitário do Saco Grande II, no qual as lutas populares, quando travadas no interior do bairro, passavam a ser transformadas em ações em favor da legitimidade dos partidos políticos. Apesar disso, todo o processo de ação e reflexão vivido em conjunto possibilitava, em determinados momentos, a superação destas ideologias partidárias dominantes. Porém, havia lideranças que estavam mais comprometidas com os interesses políticos, usando muitas vezes de mecanismos de cooptação para legitimar a participação popular.

Na verdade predominava uma relação de dependência política entre o COMOSG e alguns partidos políticos. O rompimento desta situação provocaria o fechamento do conselho, não possibilitando com isso uma maior autonomia, levando inclusive à não participação da população no seu interior, já que as reivindicações eram legitimadas a favor de interesses clientelísticos. Conforme pode ser observado por este depoimento:

"a política está em toda parte e não poderia estar no conselho comunitário, mas isso pode ajudar o bairro, só que seria

importante que as pessoas não fossem influenciadas e sim que houvesse uma verdadeira consciência política" (setembro

A conquista de uma organização autônoma no bairro, no entanto, dependia também da população quando passava a reconhecer as contradições existentes entre o discurso ideológico dos partidos políticos e a atuação do conselho comunitário. A superação destas contradições ocorria através da participação da população nas atividades concretas do bairro, porque isto não acontecia por acaso, mas pela práxis de sua busca. Que no dizer de Freire:

“quanto mais ocorre a codificação dos temas mais vão aproximando-se dos núcleos centrais das contradições principais e secundárias em que estão envolvidos os indivíduos da área" ( 1988, p. 106).

As alterações e mudanças que foram ocorrendo, em relação às organizações, atingiam principalmente a associação de moradores do Sol Nascente, cuja necessidade de organização foi maior para resolver os seus problemas de infra estrutura. Em conjunto com grande parte dos moradores e com o desenvolvimento dessa prática através do processo crítico de reflexão ação, tomavam consciência dos seus problemas e em vários momentos tentavam resolvê-los por si mesmos, através dos seus próprios recursos e potencialidades.

Além destas formas de participação a população teve oportunidade de participar de diversas atividades educativas realizadas durante a campanha da

MULTIVACINAÇÃO no dia 23 de outubro de 1993, no Saco Grande II. Estas atividades foram planejadas pela equipe de saúde local, alunos de graduação, pós graduação e professores de Enfermagem, no sentido de possibilitar uma maior integração com a comunidade nas discussões sobre as questões de saúde. Foi aplicado um instrumento de pesquisa para avaliar a baixa cobertura da vacina. Para viabilizar a participação foram exibidos filmes educativos, realizados jogos com as crianças e apresentada a peça "a vacina” em teatro de fantoche, estimulando assim a discussão sobre a importância da vacina e outros temas referentes às condições de saúde.

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A partir disto, houve uma abertura mais democrática em relação à unidade básica de saúde e a comunidade, o que impulsionou a continuidade destas ações em campanhas posteriores. Assim, na segunda campanha, foi desenvolvido o tema do "meio ambiente" considerando o problema das encostas do bairro, criando desta forma percepções em relação a este tema. A terceira campanha desenvolveu o tema das "plantas medicinais", no sentido de divulgar todo o trabalho que estava sendo realizado pela pastoral da saúde e a comunidade.

Todavia, as discussões a respeito do saneamento básico, entendido como conjunto de soluções abrangendo o problema da água, esgoto, lixo e controle dos insetos, transformou-se no principal tema das reivindicações apontadas pelas organizações do bairro. No Sol Nascente, principalmente, onde se encontrava o maior problema do saneamento básico, a associação de moradores em conjunto com o COMOSG, U.B.S. e UFSC já haviam encaminhado as reivindicações dos moradores para os órgãos responsáveis do Estado.

Para encaminhar esta luta, no primeiro momento, contactamos com a CASAN sobre a possibilidade de implantar um sistema para o tratamento de água na região. Observamos, então, que a distribuição dos recursos por parte dessa instituição era nitidamente dispersa e deficitária, dificultando assim a elaboração de um projeto que viesse atender a solicitação. No entanto, para que tal objetivo fosse alcançado, várias ações tiveram que ser realizadas "puxando" a formação de um grupo comum que veio a denominar-se Comissão da Água.