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2 Fundamentação teórica

2.2 Letramento, Competência e Inteligência em informação

2.2.2 A inteligência em informação

Buscando ampliar o entendimento sobre os elementos que permeiam a gestão da informação, aqui se aborda a inteligência em informação, ou inteligência informacional, termos que serão utilizados como sinônimos. Assim, inicialmente discute-se o entendimento e usos do termo inteligência de forma ampla numa perspectiva do indivíduo e organizacional, para na sequência abordar a inteligência informacional.

A construção da inteligência ocorre a partir da descoberta das inúmeras potencialidades que são exploradas ao longo da vida. Emerge de forma mais aparente ao longo da juventude, no entanto, mesmo em outras fases da vida há potencialidades a explorar.

O conceito de inteligência remonta aos gregos e romanos, na construção da inteligência três pressupostos são importantes:

• Hereditariedade: a inteligência e a não-inteligência passariam de pais para filhos, seja pela perspectiva genética ou pelo ambiente de convívio que estimularia tal desenvolvimento;

• Classificação: classificar os sujeitos com uma maior ou menor inteligência;

• Medição: associado à classificação, é a avaliação da inteligência por meio de um coeficiente como QI.

Segundo Goddard (1945), enquanto maneira de reagir a situações, a inteligência pode ser comparada em relação a capacidade que a experiência possibilita ao indivíduo resolver problemas presentes e prevenir os futuros. Uma das definições clássicas sobre inteligência é do psicólogo alemão William Stern, criador do termo Quociente de Inteligência (QI), sendo uma razão entre a idade mental e a cronológica, considerava a inteligência como uma capacidade do indivíduo para resolver desafios novos, fazendo uso do pensamento. Até então, a inteligência circunscrevia-se como sendo um processamento de informação.

Já na década de 80 registra-se a proposição da teoria de inteligências múltiplas por Howard Gardner, que, diferente do definido na psicometria (testes de QI), discordou do entendimento de inteligência como capacidade inata, preconizando uma grande variedade de habilidades cognitivas que são determinadas em função das demandas do meio social e cultural

em que o indivíduo vive (GARDNER, 1999). As dimensões das inteligências múltiplas propostas por Gardner (1999) são: linguística, lógico-matemática, espacial, corporal-cinética, musical, interpessoal, intrapessoal, naturalista e existencial.

Baseando-se em estudos da psicologia desenvolvimentista e na neuropsicologia, Gardner (1999) defendeu na teoria de inteligências múltiplas que todos têm tendências individuais, ou seja, áreas que o sujeito gosta e áreas em que se é competente. Assim, a inteligência pode ser entendida também como um conjunto de ações sobre objetos de conhecimento, ações mediatizadas por meio da cultura e da sociedade.

Na perspectiva do autor, o indivíduo nasce com todas as dimensões, todavia, é na interação com o meio que algumas se sobressairão em relação às outras. Assim, na fase inicial da vida encontram-se estágios mais básicos, já na fase adulta alcançam-se os estágios mais sofisticados do seu desenvolvimento. Autores como Armstrong (1994) pontuam a importância de inclusão no plano educacional de estratégias que apoiem o desenvolvimento de cada tipo de inteligência, entretanto, reconhece a dificuldade de tal incorporação em um plano curricular.

Por fim, um terceiro tipo de inteligência é a emocional, proposta pelo psicólogo Daniel Goleman. Para o autor, o QI não é garantia de sucesso, devendo a emoção ser utilizada como a principal medida da inteligência humana (GOLEMAN, 2011). O indivíduo que possui inteligência emocional tende a perceber os próprios sentimentos e o dos outros (indivíduo ou grupo), conseguindo administrar as emoções em diversos contextos, utilizando-as a seu favor para o alcance de objetivos. Autores como Gardner (1999) colocam que a capacidade de se motivar e de continuar diante de frustrações são capacidades de quem possui inteligência emocional.

De tal modo, inteligência pode ser entendida “como a capacidade humana de solucionar problemas de diversas ordens: afetiva, volitiva e cognitiva” (SOBRAL, 2013, p.44).

Proposta por Raymond Cattell, a inteligência individual geral é composta por dois tipos de inteligência, a fluída e a cristalizada. A inteligência fluída é responsável pelo sistema imediato de armazenamento, é a memória de trabalho, com capacidade limitada. Tende a diminuir ao longo do tempo, envolve a capacidade de pensar e raciocinar de forma abstrata e resolver problemas. Já a inteligência cristalizada, responsável pelo armazenamento das informações adquiridas ao longo da vida, diferente da fluida, aumenta ao longo do tempo, tem relação com a aprendizagem anterior e com a experiência. É alimentada diretamente pela inteligência fluida, processo que ocorre principalmente durante o sono (HORN; CATTELL, 1967).

Visto a conceituação de inteligência, passando por coeficiente de inteligência, inteligência múltipla e inteligência emocional, parte-se para discutir sobre inteligência num contexto organizacional.

Portanto, saindo da perspectiva do indivíduo e direcionando para uma perspectiva organizacional, no campo da administração encontra-se o termo costumeiramente associado à Inteligência Competitiva, vinculado a processos de estratégia organizacional.

Trabalhada por uma abordagem estratégica, nesse caso, aproximando-se da inteligência competitiva, como antecedente possui os dados do ambiente interno e externo como conjunto de fatos prontos para processamento, e assim que processados geram informação ou conjuntos de fatos coletados e contextualizados. Nesse momento, por processos cognitivos geram o conhecimento que permite julgamento para entendimento e predição de algo, possibilitando, assim, a inteligência. Esse processo contínuo e iterativo permite o entendimento de estratégias e tendências do mercado para uma efetiva tomada de decisão. Aqui, a informação emerge no segundo momento, após os dados terem sido processados e contextualizados, compondo a base para um processo de inteligência competitiva, operacionalizado por meio de tecnologia que permite processar e extrair sentido.

Percebe-se uma relação de dependência informacional nos processos estratégicos para alcance de inteligência competitiva que venham trazer vantagens para a organização no ambiente de negócios.

Para Tarapanoff (2001), a inteligência competitiva é uma atividade voltada a atender demanda informacional de organizações posicionadas em ambientes competitivos, consistindo em transformar dados em informações relevantes que agregue conhecimento estratégico. Já para Oliveira e Teles (2015, p. 29), a inteligência competitiva

é um processo formal e sistematizado, especialmente nas grandes organizações; tem como proposta principal a monitoração contínua do ambiente competitivo e das forças e fraquezas internas das organizações; é operacionalizada por meio de um ciclo de atividades que vai desde o planejamento até o processo de disseminação de inteligência aos responsáveis pela tomada de decisão estratégica; possui orientação para o futuro, buscando antever as mudanças do mercado e as ações e intenções dos concorrentes-chaves; precisa de uma adequada infraestrutura de TI e de profissionais de inteligência com habilidades e competências especiais; por fim, é um processo que se fundamenta nos valores éticos e legais, não se confundindo com espionagem.

Ao analisar as etapas do ciclo de inteligência competitiva, percebem-se elementos comuns com os ciclos de gestão da informação já discutidos anteriormente: planejamento, coleta, análise, disseminação e tomada de decisão estratégica (BERNHARDT, 2004; MILLER, 2002).

Tarapanoff (2001), baseando-se em Tjaden (1996), a partir da informação estabelece como etapas na geração de inteligência nas organizações: como 1ª etapa o dado (coletado, processado e distribuído) virando informação; na 2ª etapa a informação com valor se torna conhecimento, que na 3ª etapa se transforma em inteligência.

Sobre informação, além dos elementos para que ocorra o processo de sua gestão, mencionados na seção 2.1, um ambiente informacional pode ser dividido em três partes: a física com a parte de infraestrutura de plataformas e redes, a parte informacional propriamente dita com o conteúdo passando pelos fluxos informacionais e, por fim, a cognitiva com a competência informacional e os elementos perceptivos do indivíduo.

Trazendo um entendimento que se volta para uma perspectiva de tecnologia, para Porter

(2009)19, “Inteligência em informação é a técnica de transformar grandes volumes de dados

complexos em inteligência relevante e acionável, a fim de gerenciar melhor os riscos e aumentar a lucratividade” [traduzido].

No Brasil, o termo Inteligência informacional é encontrado nos trabalhos de Thiesen (2008, 2010, 2011), posicionando o termo no campo das relações político institucionais, trazendo uma perspectiva da relevância da informação ao longo da história, seja pela ausência ou pelo excesso, entendendo-o num contexto de memória prisional carcerário. Por meio da traçabilidade do ciclo da informação, a autora defende um caminho que a partir da informação chegue-se à inteligência informacional, para daí alcançar a inteligência digital com seus aspectos de redocumentarização.

Segundo Thiesen (2008, p.11), “A inteligência informacional constitui um campo de possibilidades para a atuação de profissionais de diversas áreas, treinados na busca de informações para a tomada de decisões empresariais, comerciais, competitivas, estratégicas, mas também policiais”.

Essa perspectiva policial, militar e carcerária predomina nos resultados revocados nas bases de dados e nos buscadores quando da utilização dos termos similares à inteligência em informação (inteligência em informação, inteligência informacional, informational intelligence, intelligence in information).

Inspirando-se em Goleman (2011) e tentando traçar algumas fronteiras, neste trabalho afirma-se que inteligência em informação determina o potencial do indivíduo para apreender os fundamentos para domínio da informação (da identificação das necessidades ao acesso e

19“ Information Intelligence is the technique of turning large volumes of complex data into relevant and

uso) e afins, enquanto a competência em informação mostra o quanto desse potencial se domina de maneira que se traduza em conhecimento e capacidades.

Ressalta-se que conhecimento implica que a aprendizagem e a experiência foram aplicadas à informação. A diferença entre conhecimento e inteligência é o saber explicitado se tornando uma ação apropriada.

Assim, para ser versado em uma competência em informação é preciso possuir habilidades subjacentes em informação, especificamente saber desvelar os mecanismos do letramento em informação para após processá-la por meios tecnológicos e/ou cognitivos conseguir expressá-la de forma contextual atendendo elementos culturais, sociais e éticos que possibilitem a fonte receber e se apropriar da informação. Ressalta-se que assim como as competências, a competência em informação também pode ser desenvolvida e aprendida.

O enfoque da inteligência em informação e da competência em informação são mais restritos. Empenhando-se sobre especificidades que valorizam a informação num contexto do indivíduo, focando em elementos antecedentes como o gatilho para busca e acesso, que passa pelo letramento para alcançar os dados por meio das fontes e, assim, produzir o conhecimento por meio de competências específicas.

Aqui, defende-se a ideia de uma inteligência e competência diferenciadas, relacionadas especialmente com a informação. No breve exame da literatura, percebem-se distinções defendidas aqui e alguns usos como na perspectiva tecnológica que foca em ferramentas como a inteligência artificial, metodológicas processuais que enfatizam uma vantagem competitiva organizacional, ou mesmo de memória com aplicações militares e de segurança. Desta forma, tais termos aqui empregados são tratados de forma inovadora dentro do modelo conceitual proposto a seguir.