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Capítulo II Atividades para implementação das estratégias de Leitura Literária

9. A interação comunicativa da poesia visual e a leitura literária

9.1. Na etapa da pré-leitura

Para despertar o interesse dos alunos pelo tema a expetativa do sonho, na fase de antecipação da leitura, foi visualizado o vídeo do poema musicado A Pedra Filosofal, poema de António Gedeão, com música de Manuel Freire e interpretado por Luís Arquilino. Com efeito, o poema musicado A Pedra Filosofal convoca o aluno para construção de interseções comunicativas com o corpo textual selecionado, uma vez que todas as personagens buscavam um objetivo comum: a concretização de um sonho pessoal ou social. Tal relacionação teve como finalidade evidenciar a comunicação intertextual e que a sua influência não fica circunscrita no tempo e no espaço; pelo contrário, as ligações intertextuais são um espaço reflexivo incomensurável e são fundamentais na compreensão da relevância histórica e cultural da leitura literária. Nessa ordem de ideias, foram combinadas relações interdisciplinares com a disciplina de História e Geografia de Portugal, para que, em contexto compartilhado, fossem ativados os conhecimentos guardados na memória do aluno-leitor. Além disso, essa atividade também teve como desígnio o incremento do reportório de imagens que os alunos guardam na memória; evidentemente que, quanto mais rica for a bagagem cultural dos alunos, maiores possibilidades terão de interpretar e de compreender as relações intertextuais que ocorrem no âmbito do fenómeno literário.

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Neste seguimento, foi debatido a noção da expetativa de sonho. Não como aceção de projetação dos sonhos, pois este exercício já tinha sido realizado, mas sim na logicidade de delinearem estratégias para concretizarem os seus sonhos ou, então, com a lógica de esboçarem estratagemas internos para lidarem com a desilusão da não concretização do sonho. Nesta ordem de ideias, a leitura literária tem como propósito avaliar a condição humana, proporcionando através das personagens aprendizagens significativas. O objetivo desta atividade de preparação para a leitura literária está relacionado com o facto de almejarmos dotar os alunos de ferramentas que lhes permitam enfrentar todo o género de vicissitudes na sua existência. Evitando, deste modo, que se entreguem à nostalgia, ao desespero e à depressão.

9.2. Na etapa durante a leitura

De seguida, os alunos realizaram a leitura silenciosa do poema O Sonho, de Sebastião da Gama; quando nos preparávamos para realizar a leitura expressiva, fomos surpreendidas pelos alunos que se ofereceram para a realizarem. Neste seguimento, monitorizamos a leitura, recorrendo a estratégias de antecipação, inferências e ao desvendamento de sentidos implícitos. Estes sentidos estão direcionados para o desejo de fuga em relação à realidade ou, também, como referiram os alunos, para o desejo de conquista de algo maior, tal como realizaram os marinheiros portugueses do século XVI.

Após a análise do poema, foi projetado em suporte digital o poema visual intitulado Edifício, de E. M. de Melo e Castro. À primeira impressão, os alunos ficaram surpreendidos com o formato do poema, com a imagem e as palavras que o poema visual apresenta. Afinal, o que estaria ali representado? Foi-lhes perguntado quais as sensações que associavam à imagem: frio, solidão, vazio, a cor cinza e tristeza; estas foram as respostas de alguns alunos baseados na estrutura da imagem e nas palavras expressas no poema. Logo de seguida, foi-lhes pedido que sugerissem um nome para a poesia visual. Por conseguinte, foram avançados os títulos: labirinto , maquete , andaime , ilusão . Por meio dos títulos maquete e andaime , recorrendo à área da realidade de associação com esses dois vocábulos, chegámos ao nome de Edifício. Portanto, munidos

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de sensações, dos dois títulos antecipados: ilusão e labirinto , juntamente com título exato do poema visual, que significados pessoais teriam o poema visual para os alunos? Nesta sequência, os alunos colocaram várias hipóteses de problematização que foram debatidas em conjunto. No quadro foram registadas todas as interpretações emitidas em relação à poesia visual e, com base nestes elementos, fez-se a ponte de diálogo com a atividade de antecipação de leitura: e se os sonhos não se concretizassem? Foram também tecidas redes de diálogo com as personagens dos textos literários estudados, em sessões anteriores, e que infortunadamente não tinham concretizado os seus sonhos, mormente Polifemo, Adamastor e Mostrengo, que viram os seus sonhos dissipados. Também foram realizadas analogias com os emigrantes açorianos que, no século XIX, morriam no Brasil, completamente votados à miséria. Nessa continuidade, os alunos conjugaram os dois poemas O Sonho e o poema visual Edifício e constataram que os sonhos muitas vezes não se concretizam; como tal, é necessário desenvolver estratégias emocionais para lidar com a desilusão. No entanto, como os sonhos têm um cariz infinito, os alunos, fundamentados nas palavras invertidas do poema visual Edifício, perspetivaram soluções para resolução de problemas tal como fizeram os marinheiros portugueses do século XVI, perante o tenebroso mar e, também, a celebre personagem Ulisses, que dissipou os incontáveis obstáculos que surgiram durante a viagem de regresso a Ítaca.

9.3. Na etapa da pós-leitura

Como a memória é uma faculdade que necessita de ser exercitada para ser ativada, os alunos recordaram os sonhos que guardaram em relação ao futuro como se fossem segredos e elaboraram os poemas visuais. Salientando-se, assim, a magia das imagens mentais na organização de um poema em que os alunos imprimiram a plena liberdade de criação. Neste seguimento, os alunos associaram a dimensão imaginativa e lúdica e atribuíram os significados que quiseram aos poemas. Por conseguinte, alguns poemas visuais tiveram uma função mais interventiva; outros, mais lúdica e divertida, e outros, ainda, uniram a imagem visual com outros corpos textuais, num género de poema- colagem. Nessa sequência, os alunos apresentaram as suas poesias visuais em contexto

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compartilhado, para que houvesse espaço para a expressão de sentimentos e para a troca de opiniões.