• Nenhum resultado encontrado

A interação na Comunicação Mediada por Computador (CMC)

2.1 O ciberespaço

2.1.3 A interação na Comunicação Mediada por Computador (CMC)

O caráter de interconexão do ciberespaço torna-o um canal de interatividade. Segundo Pierre Lévy, “a tendência à interconexão provoca uma mutação física na comunicação: passamos das noções de canal e de rede a uma sensação de espaço envolvente.” 238

Assim, todo o espaço se torna um canal interativo. Outra característica, nessa linha, é que a cibercultura aponta para uma civilização da telepresença generalizada. A física da comunicação é superada, ocorre a interconexão da humanidade em um contínuo sem fronteiras. Assim, a interconexão no ciberespaço tece um “universal por contato”.239

A interatividade é um assunto que está na moda, principalmente pelo uso indiscriminado em relação às tecnologias informáticas e de comunicação. Porém, o conceito de interatividade, de acordo com Lúcia Santaella (2004), nasceu com a física, passou pela sociologia e psicologia, antes de chegar à comunicação. Analisando semanticamente o termo, a autora diz que a interatividade tem a ver com ação (sentido de operação), agenciamento (sentido de intertrabalho), correlação (influência mútua) e cooperação (sentidos de contribuição, co-agenciamento, sinergia e simbiose), das quais empresta seus significados.240

Uma definição básica, sugerida por Santaella é que a interatividade “é um processo pelo qual duas ou mais coisas produzem um efeito sobre a outra ao trabalharem juntas.”241 A autora diz que o termo interatividade fica mais significativo em sistemas nos quais o feedback do receptor é utilizado pela fonte, seja ela humana ou computacional, modificando continuamente a mensagem.

236 KOMESU, F. C. Op. cit., 2005, p. 194. 237

Pierre Bourdieu diz que o poder simbólico é “o poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem.” (BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 12ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009, p. 7-8.).

238 LÉVY, P. Op. cit., 1999a, p. 127. 239

Idem.

240 SANTAELLA, L. Op. cit., 2004, p. 153. 241 Idem, p. 154.

67

Na comunicação mediada por computador, o sistema clássico de comunicação (emissor-mensagem-receptor) dá lugar a uma nova modalidade interativa. Segundo Santaella:

O emissor não emite mais mensagens, mas constrói um sistema com rotas de navegação e conexões. A mensagem passa a ser um programa interativo que se define pela maneira como é consultado, de modo que a mensagem se modifica na medida em que atende às solicitações daquele que manipula o programa. Essas manifestações se processam por meio de uma tela interativa ou interface que é lugar e meio para diálogo. Por intermédio de instrumentos materiais (tela, mouse, teclado) e imateriais (linguagem de comando), o receptor transforma-se em usuário e organiza sua navegação como quiser (...).242

Para Santaella, a liberdade na construção ou execução de um percurso entre os agentes no ciberespaço fazem com que a interatividade seja responsável, também, pela construção do hipertexto na rede. O leitor, por meio de nós e redes multilineares, cria um percurso imprevisível no processo de interação com a máquina. A ênfase não está na autoria, mas nas “mensagens em circuito”. “A mensagem em circuito é tanto dirigida quanto dirigível por nós.”243

Os nós hipertextuais, nesse sentido, são conexões que permitem interações tanto com a máquina, como com outros usuários.

Alex Primo (2008) define interação como “ação entre”. Ele classifica a interação mediada por computador em dois tipos: a interação mútua e a interação reativa. Uma das razões dessa classificação é porque o autor acredita que o termo “interatividade” vem sendo utilizado imprecisamente. É preciso que se identifiquem claramente as diferenças de interação no relacionamento entre homens e máquinas.

A interação mútua é caracterizada por ações interdependentes dos interagentes, que têm papel ativo no relacionamento:

Cada ação expressa tem um impacto recursivo sobre a relação e sobre o comportamento dos interagentes. Isto é, o relacionamento entre os participantes vai definindo-se ao mesmo tempo que acontecem os eventos interativos (nunca isentos dos impactos contextuais).244

Assim, a interação mútua é um constante “vir a ser”, atualizado em cada ação entre os interagentes. Nesse sentido, a interação não se caracteriza simplesmente pela soma de ações individuais.

242 Ibidem, p. 163. 243 Ibidem, p. 165. 244

PRIMO, Alex. Interação. CD-ROM - anexo digital do livro Interação mediada por computador:

comunicação, cibercultura, cognição, 2003. Disponível em: http://www6.ufrgs.br/limc/livroimc/autor.htm.

68

Já a interação reativa dá-se por automatismo, são predeterminações que condicionam trocas. Diferentemente das interações mútuas, “as reativas precisam estabelecer-se segundo determinam as condições iniciais (relações potenciais de estímulo-resposta impostas por pelo menos um dos envolvidos na interação).”245

As relações, deste modo, são previsíveis.

Primo diz, ainda, que muitos relacionamentos não se realizam exclusivamente por um único canal. Assim, é possível que haja simultaneidade entre interação mútua e reativa, ocasionando uma multi-interação.246 É o que acontece, por exemplo, quando alguém está em um chat. Ao mesmo tempo em que conversa com outro internauta, interage com a interface do

software, com o mouse, ou teclado.

Quando falamos em processos de interação na comunicação mediada por computadores precisamos entendê-la, também, em relação às características da Web 2.0. Segundo Primo, os novos recursos repercutem na esfera social, pois potencializam os processos de trabalho coletivo, troca afetiva, produção e circulação de informações. Para o autor, mais do que o conteúdo, são as formas interativas que estão em jogo.247 Na primeira geração da Web, os sites eram vistos de forma isolada. Hoje, tratam-se de estruturas integradas. “Mais do que um acúmulo de ações sequenciais ou uma troca “bancária” (de tipo “toma-lá-dá-cá”), os interagentes constroem entre si um relacionamento.”248

Os blogs são um exemplo do que os recursos da web 2.0 podem fazer em termos de interação na rede. A troca de informações, a colaboração entre os blogueiros, que constroem conteúdo coletivo, são características da blogosfera249.