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Segundo Carbone et al. (2009), as competências individuais/profissionais podem ser entendidas como combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo desempenho profissional dentro de determinado contexto organizacional, que agregam valor a pessoas e organizações. Le Boterf (2003) corrobora esse entendimento ao afirmar que a competência profissional é decorrente da aplicação conjunta, no trabalho, de conhecimentos, habilidades e atitudes que representam as três dimensões da competência.

O conhecimento corresponde a informações que, ao serem reconhecidas e assimiladas pelo indivíduo em sua memória, impactam seu julgamento ou comportamento (DURAND,

2000; CARBONE et al., 2009). Refere-se ao saber que a pessoa acumulou ao longo da vida, algo relacionado à lembrança de idéias ou fenômenos (BLOOM et al., 1973).

A habilidade está relacionada à aplicação produtiva do conhecimento, ou seja, é a capacidade da pessoa utilizar os conhecimentos adquiridos e colocá-los em ação (CARBONE et al., 2009). Bloom et al. (1973) defende que a definição operacional mais comum sobre a habilidade é a de que a pessoa pode buscar, em suas experiências e conhecimentos, informações para analisar e solucionar um problema. As habilidades podem ser classificadas como intelectuais, quando se referirem a processos essencialmente mentais de organização de informações, e como motoras, quando exigirem unicamente uma coordenação neuromuscular (GAGNÉ et al., 2005).

Por fim, a atitude se refere a aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho (DURAND, 2000). Gagné et al. (2005) comentam que atitudes são estados complexos do ser humano que afetam o seu comportamento em relação a pessoas, coisas e eventos, determinando a escolha de um curso de ação pessoal. Diz respeito a um sentimento ou à predisposição da pessoa que afeta seu comportamento em relação aos outros, ao trabalho ou a situações (CARBONE et al., 2009).

As definições para o termo competência possuem semelhanças conceituais às proposições de alguns autores da área de pedagogia no que concerne ao conceito de aprendizagem. Para Pestalozzi (LARROYO, 1974), pedagogo que assentou as bases da educação popular moderna, a aprendizagem é o desenvolvimento natural, espontâneo e harmônico das capacidades humanas, que se revelam na tríplice atividade da cabeça, do coração e das mãos, isto é, na vida intelectual, moral e artística ou técnica.

Bloom et al. (1973) desenvolveram uma classificação de objetivos educacionais constituídas de três grandes domínios: os domínios cognitivos (objetivos vinculados à memória e ao desenvolvimento de capacidades intelectuais); psicomotor (objetivos vinculados ao desenvolvimento de habilidades manipulativas ou motoras) e afetivo (objetivos vinculados a mudanças de interesses e valores).

A Figura 5, a seguir, mostra a analogia existente entre as chaves da aprendizagem individual (PESTALOZZI apud LARROYO, 1974), os domínios dos objetivos educacionais (BLOOM et. al., 1973) e as dimensões da competência (DURAND, 2000), explicitando as relações de interdependência entre a aprendizagem e a competência.

Figura 5: Analogia entre as proposições de Pestalozzi (Larroyo, 1974), Bloom et al. (1973) e Durand (2000)

Fonte: Brandão; Guimarães; Borges-Andrade (2001)

Conforme demonstrado na Figura 5, as chaves da aprendizagem individual de Pestalozzi, os domínios de objetivos educacionais propostos por Bloom et al. (1973) e as dimensões da competência propostas por Durand (2000), possuem grande similaridade conceitual. A chave de aprendizagem “cabeça” se relaciona com o domínio cognitivo e a dimensão conhecimento na medida em que se referem às capacidades intelectuais do indivíduo.

A chave de aprendizagem “mão” está relacionada com a capacidade psicomotora da pessoa. Esse conceito é correlato com o domínio psicomotor de Bloom et al. (1973) e com a dimensão habilidade de Durand (2000), visto que, no domínio psicomotor são evidenciados os objetivos vinculados ao desenvolvimento de habilidades manipulativas e na dimensão habilidade o foco é na capacidade do indivíduo de utilizar os conhecimentos adquiridos e colocá-los em ação.

No que se refere à chave de aprendizagem “coração”, o lado afetivo é posto em destaque. Sendo assim, essa chave de aprendizagem se relaciona com o domínio afetivo, haja vista que este domínio possui objetivos vinculados a mudanças de interesses e valores. Conseqüentemente, a chave de aprendizagem “coração” e o domínio afetivo se associam à dimensão atitude, visto que esta dimensão se refere aos aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho.

A aprendizagem representa, portanto, o processo pelo qual se adquire a competência, enquanto a competência representa uma manifestação do que o indivíduo aprendeu. Tanto a aprendizagem quanto à competência estão relacionadas ao conceito de mudança. Na

aprendizagem, a mudança pode ser constatada comparando-se os resultados de testes aplicados antes e depois da estratégia educacional adotada, como é o caso das provas realizadas no início e ao final de disciplinas acadêmicas (FREITAS; BRANDÃO, 2005; CARBONE et al., 2009).

Pozo (2002) afirma que aprender implica mudar conhecimentos, habilidade e atitudes anteriores. Segundo o autor, aprender se constitui numa mudança duradoura no comportamento da pessoa, transferível para novas situações com as quais ela se depara.

No que concerne à competência, a mudança é observada quando se compara o desempenho do indivíduo antes e depois do processo de aprendizagem. Pode-se dizer, então, que a competência é resultante da aplicação de conhecimentos, habilidades e atitudes adquiridas pela pessoa em qualquer processo de aprendizagem, seja ele natural ou induzido (FREITAS; BRANDÃO, 2005).

A competência é revelada quando o indivíduo aprende algo novo porque mudou sua forma de atuar (FREITAS; BRANDÃO, 2005). Por exemplo, quando uma pessoa participa de um curso sobre como liderar e inspirar pessoas, a aprendizagem se dá nesse contexto de sala de aula, mediante assimilação de conhecimentos, simulações e debates. O indivíduo demonstrará a competência se for capaz de liderar seus colaboradores de maneira motivadora e inspiradora. Se isso ocorrer, ele estará demonstrando que aprendeu a utilizar os conceitos abordados no curso, tendo desenvolvido uma competência que pode ser observada.

Segundo Fleury e Fleury (2004), a aprendizagem está intrínseca ao processo de desenvolvimento de competências, pois permitem a criação de novas competências individuais que, somadas, formarão as competências organizacionais. Ainda segundo os autores, a competitividade das organizações no longo prazo dependerá do processo de aprendizagem organizacional adotado, haja vista a necessidade de reforçar e promover as competências organizacionais e dar foco às estratégias competitivas.

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