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2 A pesquisa da Educação Ambiental

2.5 A internalização das externalidades e a construção de conceitos

sócio-histórica

Os seres humanos, como seres sociais, vivem em constante interação entre si e com o meio no qual se constituem como pessoa. Tal interação, entretanto, pode refletir o modo pelo qual estes seres percebem e valorizam o seu entorno.

Os índios, por exemplo, concebem a natureza de forma diferente do homem branco. A idéia de uma natureza como algo sagrado e indiscutivelmente necessário a sua própria sobrevivência induz estes povos a agirem no sentido de protegê-la e valorizá-la, mesmo quando se apropriam dos recursos naturais para sua sobrevivência. O mesmo comportamento, no entanto, não se observa nas sociedades “civilizadas”, que atribuem aos bens materiais e ao avanço tecnológico um valor muito maior do que ao meio natural que o rodeia, apropriando-se deste

sem respeitar sua capacidade e sustentabilidade. O comportamento desse homem social expressa um sentimento de não envolvimento à trama da vida, como citado por Capra (2003), o qual é constantemente assimilado pelas novas gerações que adotam ações similares a dos seus antepassados no que se refere à apropriação do meio natural e de seus recursos.

Assim, ao citarmos Oliveira (2003, p. 36) “... é o grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que lhe fornece formas de perceber e organizar o real, as quais vão constituir os instrumentos psicológicos que fazem a mediação entre o indivíduo e o mundo”, demonstramos que tal concepção traduz a idéia de que a aquisição de conhecimento do ser humano dá-se pela interação do sujeito com o meio e que seu desenvolvimento é resultado de um processo sócio-histórico.

Para Vygotsky (2000), idealizador da Teoria Sócio-histórica, “Os grupos culturais em que as crianças nascem e se desenvolvem funcionam no sentido de produzir adultos que operam psicologicamente de uma maneira particular, de acordo com os modos culturalmente construídos de ordenar o real”. O autor enfatiza que a cultura fornece ao indivíduo o universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real.

Assim, a percepção do meio é explicada por pressupostos como a mediação simbólica e a origem sócio-cultural dos processos psicológicos superiores (linguagem, memória e reflexão).

Vygotsky (2000, p. 74) chama de internalização “... a reconstrução interna de uma operação externa”, idéia corroborada por Oliveira (2003) que afirma:

Internalizar é como se, ao longo do seu desenvolvimento, o indivíduo tomasse posse das formas de comportamento fornecidas pela cultura, num processo em que as atividades externas e as funções interpessoais transformam-se em atividades internas, intrapsicológicas.

(OLIVEIRA, 2003, p. 38)

É interessante, pois, a observação de que o interior e a subjetividade do homem não sejam cópias autênticas do exterior, mas uma nova criação, conforme menciona Matui (1995) ao enfatizar que o homem é produto da história, ao mesmo tempo em que é autor e sujeito.

Desse modo, o homem é o único animal que internaliza objetos e acontecimentos externos, para deles formar representações mentais.

Ainda segundo Matui, (1995), tal processo de reconstrução perpassa por dois momentos:

• no primeiro momento, participando culturalmente e interpessoalmente, na convivência com os outros.

• no segundo momento, num processo pessoal de experiência mental e reflexiva (de raciocínio) sobre esses patrimônios, passando a reconstruí-los e incorpora-los nas estruturas anteriores mediante assimilação e acomodação.

A construção da mente e do pensamento se faz pelo funcionamento (ação e reflexão) do organismo (sujeito) em interação com o meio físico e social, não sendo uma obra e façanha dos estímulos ambientais sobre o indivíduo, mas sim a reconstrução interna dos estímulos.

(MATUI, 1995, p. 64)

Esta abordagem assim colocada nos permite concluir que a internalização do conhecimento permite que se crie nexo lógico que proporcionem a compreensão do fenômeno de tal forma que o conhecimento não verdadeiro e abstrato se torne verdadeiro, mais objetivo ou mais coincidente com o real, transformando-se assim, em conhecimento concreto, como Marx sugere em sua teoria “Abstrato/Concreto” (MATUI, 1995, p. 103).

Entretanto o processo de internalização de conhecimento é o resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento do indivíduo e deve ser objeto da intervenção pedagógica das mais diversas instâncias educacionais. Assim, em programas de Educação Ambiental, tal como esta presente pesquisa, é importante que se valorize a internalização dos conhecimentos pelos atores, através da observação e análise das externalidades, de forma que possam compreender a dinâmica do Sistema Terra e não somente realizem “decorebas”, isentas de nexo lógico ou de explicação dos fenômenos que nos cercam. A apreensão conceitual gerada pela internalização permite que o sujeito assuma, de forma consciente e crítica, o seu papel de agente das transformações ambientais que muitas vezes podem torná-lo vítima de suas próprias ações.

II OBJETIVO

Mediante a necessidade de encontrar mecanismos que viessem a desvendar os aspectos qualitativos dos resultados atingidos em projetos de Educação Ambiental, a proposta desta pesquisa foi desenvolver método de elaboração e análise de indicadores qualitativos. Tais indicadores permitiram observar a apropriação conceitual, inerente aos conteúdos desenvolvidos em diferentes disciplinas do Ensino Fundamental numa unidade escolar, dentro de uma atividade em Educação Ambiental.

Nesta proposta, o desenvolvimento metodológico consistiu na realização de atividades de educação ambiental no ambiente antropizado (Unidade escolar /cidade) e no ambiente natural (Unidade de Conservação-Núcleo do Curucutu), caracterizadas através de intervenções pontuais, realizadas por mim enquanto pesquisadora, assim como através do diagnóstico prévio e posterior, através da aplicação e análise de dois instrumentos de levantamento de dados na forma de questionários. Esse procedimento diagnóstico prévio permitiu identificar conceitos internalizados pelos atores/alunos na faixa etária de 11 a 13 anos (6ª série do Ensino Fundamental) com relaçãoaos aspectos do meio natural (biótico e abiótico) e os impactos gerados pelas atividades antrópicas, considerando-se, para a análise, os conteúdos desenvolvidos anteriormente ao longo do percurso formativo dos alunos.

III MÉTODO