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REVISÃO DE LITERATURA

2.3. A Internet na educação em ciências

2.3.1. A Internet no ensino das ciências: vantagens e modalidades de utilização

Está a estabelecer-se em todo o planeta uma nova estrutura social, a sociedade em rede, que tem transformado a vida das pessoas, independentemente da sua história, cultura e instituições (Castells, 2004). De facto, a Internet fez com que as comunicações e toda a informação se globalizassem, tornando possível contactar com qualquer parte do planeta, transformando-o numa aldeia global, à distância de um simples clique! Com ela foram-se esbatendo muitas barreiras, desde a do género, da idade, da cor, passando pela da distância e do tempo, até à da cultura e da educação (D’Eça, 1998) e, com a sua chegada às escolas, criou-se um novo significado para a comunicação e permitiu-se o acesso a uma enorme quantidade de fontes de informação (Bennett, 2003).

Para D’Eça (1998), falar de Internet é falar da “sala de aula sem paredes, de uma gigantesca biblioteca, de uma gigantesca base de dados, de um gigantesco museu…” (p.23), na medida em que, sem sair da sala de aula é possível aceder a um imensurável volume de informação. O seu atributo principal, a interactividade, quer no acesso a pessoas quer tão-somente no acesso a informação, faz com que seja um meio privilegiado de ensino que contribuirá para a existência de maior motivação e apetência pela aprendizagem, devendo os professores não só olhá-la como um aliado que ajudará a tornar a escola mais atractiva e o ensino muito mais dinâmico e actual, mas também moldar as suas práticas pedagógicas de modo a integrá-la nas actividades desenhadas quer para aliciar os alunos quer para melhorar a sua aprendizagem (Alfonso Pontes, 2001; Dias et al, 2001; Fullick, 2004). Bartolomé (1999) compara a Internet com a face: “agrade-nos ou não, vai- nos tocar viver com ela durante muitos anos, os suficientes para que enfrentemos essa convivência com um espírito desportivo e positivo [mas,] ao contrário da face, em muitas situações, a Internet é algo sempre surpreendente e sempre novo” (p.145).

Com a possibilidade de acesso a toda a informação existente na Internet, através da web, é extremamente útil que os alunos consigam navegar de forma proveitosa, pelo que urge racionalizar a sua utilização (Pickersgill, 2003), dando aos estudantes a orientação necessária para avaliarem a qualidade da informação a que acedem. Isso pode ser feito através da definição e clarificação da tarefa do aluno, tendo em conta o que o aluno procura, se atingirá “sucesso” com relativa facilidade, ou até se a tarefa será suficientemente estimulante (Pickersgill, 2003). Fullick (2004) é da opinião que se a tarefa for bem estruturada e acompanhada de fontes de informação disponíveis

na Internet, e conduzir à produção de apresentações através das TIC, os alunos encará-la-ão de uma forma muito mais motivadora e divertida. O aumento da motivação e entusiasmo pela aprendizagem que provoca, quer porque é um meio de comunicação “novo” na escola quer porque é uma ferramenta de aprendizagem interactiva, dinâmica e poderosa, poderá favorecer a integração e a aplicação de conhecimentos a situações reais, não só porque estabelece a ponte entre a aprendizagem e a vida, mas também porque leva os alunos a assumirem maior responsabilidade pela aprendizagem (D’Eça, 1998; Mentxaka, 2004).

À medida que os alunos se envolvem nas actividades de procura de informação, caminham através de várias fases com diferentes níveis e tipos de exigência (iniciação, selecção, exploração, formulação, compilação e apresentação) e progridem desde a ambiguidade até à clareza, e da busca de informação geral para uma mais específica (Hoffman et al, 2003). A utilização da Internet

permitirá aos alunos converterem-se em peritos na arte de pesquisar e processar informação, tomarem consciência do mundo à sua volta e também da conveniência de uma sociedade cientificamente instruída (Pickersgill, 2003). Assim, a Internet pode funcionar como um catalisador positivo de uma sociedade cientificamente culta em detrimento de uma em que os estudantes apenas aprendem um grande número de factos desligados e sem significado (Pickersgill, 2003).

Outra vantagem educativa da Internet é a viabilização de uma aprendizagem cooperativa, tendo como consequência um maior empenho na procura de qualidade, espírito de entreajuda e capacidade de interagir socialmente (D’Eça, 1998; Mentxaka, 2004). A incorporação da Internet no trabalho de grupo aparece, muitas vezes, associada a trabalho de pesquisa e recolha de informação (Mandel, 2003), o que, de acordo com Mentxaka (2004), leva quer a uma maior cooperação e coordenação entre os alunos quer à estimulação da colaboração entre alunos, professores e especialistas, face a assuntos de interesse comum.

A Internet permite, ainda, comunicar à escala local, nacional ou global, sem quaisquer

preconceitos culturais, raciais, físicos ou outros, levando ao crescimento do interesse por acontecimentos mundiais e por outras sociedades e culturas; promove um interesse crescente pelo mundo dos adultos, através do telementoring (em que há contacto directo com especialistas) na participação em projectos com cientistas, exploradores, arqueólogos, astronautas, entre outros; fomenta a comunicação, preparando os alunos para a vida profissional. Para além disso, proporciona a publicação virtual, on-line, que leva o aluno a ser, simultaneamente, receptor e produtor, incutindo-lhe uma maior responsabilidade e atenção no trabalho que executa, incentivando a criatividade, a vontade de assumir riscos, a curiosidade e a capacidade de resolver

problemas. Pode, ainda, facilitar a construção de pensamento crítico, se fomentar a análise da credibilidade, fiabilidade e validade das fontes consultadas (D’ Eça, 1998).

Se usada adequadamente pelo professor, a Internet, pode facilitar a implementação de um ensino em que o seu papel passa a ser de facilitador, guia, orientador da construção de conhecimento pelo aluno, já que, fica mais livre para um melhor acompanhamento da evolução dos alunos, pelo facto de não ter que passar tanto tempo a expor a informação. Permite, ainda, ao professor, a actualização permanente da informação disponível (D’Eça, 1998; Mentxaka, 2004) e a rápida e eficiente comparação de informações provenientes de diversas fontes, ao mesmo tempo que desenvolve um maior espírito de partilha e de ajuda mútua entre professores (D’Eça, 1998).

Finalmente, com a integração da Internet, a escola e a comunidade poderão estar mais próximas, através tanto da publicação on-line de trabalhos, projectos e informações oriundas da escola e de interesse para a comunidade local, como da oportunidade de recorrer on-line a elementos da comunidade experientes em determinadas áreas, para partilha de conhecimento e ideias, aumentando, assim, os recursos educativos (D’Eça, 1998). Acresce, ainda, a possibilidade de auxílio, por parte dos alunos, a membros da comunidade, na sua formação a nível informático, e de partilha, com a comunidade, dos recursos informáticos da escola.

A utilização, da Internet em contexto de sala de aula permite, quer uma aprendizagem activa, dinâmica e em conformidade com o mundo dos alunos, como foi referido atrás, quer a criação de comunidades de aprendizagem, onde se desenvolve um espírito de entreajuda, colaboração e partilha de objectivos e interesses (Dias et al, 2001).

No entanto, não sendo a Internet a panaceia para todos os males (D’Eça, 1998), a sua integração no ensino apresenta também algumas dificuldades (D’Eça, 1998; Bartolomé, 1999; Linn, 2002; Mandel, 2003). Uma das dificuldades mais saliente está relacionada com o aspecto da necessidade de protecção dos alunos aquando da sua navegação pela Internet, uma vez que, como refere Bartolomé (1999), não existem filtros nem processos que permitam fazer uma primeira avaliação da informação, em termos quer de rigor científico quer gramatical. Outra preocupação, enunciada por Setzer & Monke (2002), está relacionada com a exposição, por parte dos alunos, a material não apropriado quer à sua faixa etária quer ao nível de conhecimentos que possuem aquando da procura e utilização dessa informação. Mandel (2003) refere, em relação a essa exposição, a preocupação existente por parte dos pais, encarregados de educação e professores, na prevenção do acesso a sites inapropriados. De modo a promover e criar um ambiente mais seguro na utilização da Internet, sobretudo por parte das crianças, a UE adoptou o programa Safer Internet

Plus (União Europeia, 2005b). Este programa, vem na sequência do programa Safer Internet e, visa abranger uma gama mais vasta de conteúdos ilegais e nocivos e, também, condutas preocupantes, quer para promover uma maior segurança na utilização da Internet quer para proteger o utilizador final contra conteúdos não desejados (União Europeia, 2005b). Setzer & Monke (2002) mencionam, ainda, o problema que pode advir da utilização da Internet no ensino como ferramenta única de trabalho, o que reduziria o ensino apenas ao consumo e troca de informações, em detrimento da formação dos alunos enquanto pessoas com personalidade própria. Também o facto de os alunos se basearem apenas na tarefa de copiar a informação recolhida e de a utilizar sem uma prévia análise, se revela como um dos problemas de utilização da Internet no ensino. Contudo, D'Eça (1998) acredita que se houver uma “planificação bem estruturada, directrizes bem definidas e opções de links bem delineadas” (p. 50), a utilização da Internet no ensino traz muito mais vantagens do que desvantagens.

A integração da Internet no ensino das ciências, pode ser feita também através da utilização do correio electrónico e de listas de notícias, para troca de materiais e mensagens; do intercâmbio de informação e de material através de um canal de discussão chat e da vídeo-conferência; da procura de informação para efeitos de pesquisa, participação em projectos autênticos de natureza diversa; análise e resolução de problemas; criação e análise conjunta de bases de dados; realização de actividades escolares como elaboração de folhetos e apresentação de resultados experimentais; apresentação de simulações de experiências, visualização de uma ideia ou processo, por exemplo, a três dimensões; utilização de simulações interactivas existentes on-line. (D’Eça, 1998; Lowy Frutos, 1999; Krajcik, 2002; Fullick, 2004). Apesar de esta relativamente longa lista, continuam a aparecer novos projectos de utilização da Internet no ensino, como os fóruns de discussão, que têm um leque de participantes variadoque vai desde alunos e professores até especialistas (Lowy Frutos, 1999; Dias et al, 2001).As WQs, que já referimos no capítulo anterior, também são suportadas pela

Internet. Estas apresentam-se como óptimos condutores de iniciação, por parte dos alunos, à

aprendizagem através das novas tecnologias da informação e comunicação, na medida em que lhes permitem a utilização orientada, da web para encontrar informação.