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A INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

No documento E MELI MARQUES COSTA LEITE (páginas 52-56)

3.1 C ARACTERIZANDO A INTERPRETAÇÃO

3.1.2 A INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

Considerando que a proposta deste trabalho é uma pes- quisa que tem como foco a interpretação em LIBRAS, é fun- damental apresentar algumas das principais questões já obser- vadas sobre os aspectos que envolvem a interpretação em línguas de sinais.

Metzger (1999a), por exemplo, ao considerar a impor- tância de se fazer uma distinção entre tradução e interpretação, traz à reflexão a necessidade de se distinguir, também, a inter- pretação entre línguas faladas e línguas sinalizadas. No tocante à interpretação em língua de sinais, um aspecto importante registrado pela autora é o impacto que a língua sinalizada cau- sa na interpretação. Os pré-requisitos para a realização da tare- fa são os mesmos, diz Metzger, tanto para a tradução como para a interpretação: ambas as línguas requerem o entendimento do sentido do enunciado original e suas relações com o con- texto em que ocorrem; todavia, a língua de sinais causa um grande impacto na interpretação, devido às especificidades pró- prias dessas línguas. Fatores relativos à modalidade da língua, ao tempo, à impossibilidade do uso de recursos que auxiliem no momento da interpretação são algumas das diferentes ca-

racterísticas existentes na interpretação entre língua oral/lín- gua de sinais e na interpretação entre em línguas orais. Essas diferenças terão grande impacto sobre a natureza desses dois processos distintos, diz Metzger. (cf.1999a:18).

Metzger ao fazer uma avaliação comparativa entre as dife- renças resultantes do fator tempo, lembra a existência de dis- tinções relacionadas à natureza da interpretação. Intérpretes de línguas orais podem trabalhar de diferentes formas. Vejamos tais diferenças, a seguir, no quadro (2):

QUADRO 2

Interpretação simultânea • é realizada com a mensagem da fonte em andamento e o in- térprete vai produzindo o seu texto até que a mensagem fon- te sofra uma pausa;

• é considerada mais eficiente em relação ao fator tempo;

• é relativamente nova em rela- ção às línguas orais, sendo mais ou menos tradicional em inter- pretações das línguas de sinais;

Interpretação consecutiva • o intérprete leva em conta a quantidade de informação que entra, aproveitando a oportuni- dade de um fechamento na sen- tença em curso para iniciar a in- terpretação ou aproveitar para tomar nota;

• exige que o intérprete primei- ro receba a mensagem da fonte e depois a interprete;

• permite que a mensagem da fonte seja apresentada em par- tes ou no todo; é considerada mais acurada em relação à simul- tânea.

Metzger (1999a) amplia as distinções relativas à interpreta- ção em língua oral e a interpretação em língua de modalidade gestual. Ressalta as diferenças existentes entre esses dois modos de interpretação, as quais apresento no quadro (3), a seguir:

QUADRO 3

interpretação em língua oral

• envolve línguas de modalida- des auditivas;

• por envolver apenas uma mo- dalidade de língua, se um dos participantes do evento inter- pretado for bilingüe, ele terá acesso às duas línguas utilizadas;

• é intermodal;

• não exige que o intérprete fixe o olhar em quem está interpre- tando, ou seja, na fonte da men- sagem, podendo fazer anotações ao realizar uma interpretação consecutiva;

• historicamente tem usufruído de, algum prestígio;

só recentemente tem sido reali- zada com freqüência em contex- tos de conferências e em cenários com outros perfis.

DIFERENÇAS

interpretação em língua de sinais • envolve línguas de modalida- des auditivas e visuais;

• por envolver dois modos dife- rentes de língua, sinais/oral ou oral/sinais, se um dos partici- pantes for bilingüe, mesmo as- sim ele não terá acesso às duas línguas utilizadas no evento in- terpretado;

• além de intermodal é, também, bimodal;

• exige que o intérprete fixe o olhar em quem está sendo in- terpretado, ou seja, na fonte da mensagem, não podendo o in- térprete fazer anotações enquan- to realiza interpretações conse- cutivas;

• não tem usufruído de prestí- gio, pois as línguas de sinais são tratadas como sistemas primiti- vos, não lingüísticos;

tem sido realizada, há muitos anos, em cenários com peque- nos grupos.

Cokely (1982) aprofunda a compreensão sobre as dife- renças existentes na interpretação entre línguas de modalidade oral-auditiva/gestual-visual, e vice-versa. Em pesquisa experi- mental no cenário médico, o autor estuda um atendimento entre enfermeira e paciente surdo, realizado com a presença de dois intérpretes profissionais em Língua Americana de Sinais/ Inglês, em duas ocasiões diferentes. Nesses estudos ele encon- trou quatro fatores que interferem na comunicação, além dos já apresentados na literatura sobre a comunicação médico-pa- ciente, são eles:

a) percepção de erros que ocorrem quando o intérprete, ao acreditar que compreendeu tudo do enunciado original, como, por exemplo, nomes próprios, que são digitados, isto é, escritos com o alfabeto manual, o faz cometendo erros, e, sem perceber, não se corrige;

b)erros de memória que são falhas não intencionais identificadas nas traduções de pequenas porções do discurso original;

c) erros semânticos quando o intérprete usa, incorretamente, certos itens lexicais ou estruturas sintáticas na língua alvo traduzida;

d) falsos inícios de enunciados que estão relacionados a erros na produção do enunciado. O intérprete, ao escrever o nome de um remédio, através do alfabeto manual, interrompe a sua escrita por algum motivo e, ao escrever, novamente, pode parecer ao receptor que as letras digitadas antes também fa- zem parte da palavra. Por exemplo, em português: A-S-P (pausa por algum motivo e recomeça) A-S-P-I-R-I-N-A, a pessoa surda pode entender que a parte digitada anterior- mente também pertence à palavra, da seguinte maneira: A-S-P-A-S-P-I-R-I-N-A.

Cokely conclui que existe um potencial de problemas na comunicação que são específicos da interpretação em língua

de sinais e que esses problemas aumentam as probabilidades de “mal entendidos” em entrevistas médicas.

Estas foram algumas das questões já levantadas sobre a interpretação em línguas de sinais, outras, ainda, precisam ser pesquisadas, como por exemplo, as relacionadas à interpreta- ção em língua de sinais no espaço da sala de aula.

3.2 O

S ESTUDOS DA SOCIOLINGÜÍSTICA INTERACIONAL

No documento E MELI MARQUES COSTA LEITE (páginas 52-56)