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Capítulo II Enquadramento teórico

2. A Intervenção Comunitária

Importa nesta exploração teórica da problemática deste estágio compreender em que se assume a intervenção comunitária, tendo em vista, mais à frente neste relatório compreender a metodologia de abordagem ao terreno e a relação da mesma com o educação emocional trabalhada em comunidades e no ambiente coletivo associativo.

A intervenção comunitária aparece como formas claras de atuação em determinada comunidade, em determinado local, dado que “(…) a intervenção comunitária implica a disponibilidade para trabalhar com as pessoas e as comunidades (…)” (Menezes, 2007: 65)

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Pela sua relação com o desenvolvimento local e das comunidades, Hermano Carmo (2007) identifica como elementos do processo de intervenção: o/a interventor/a (conjunto de técnicos/as) que devem procurar conhecer a cultura e a realidade do sistema-cliente (comunidade que aparenta um conjunto de necessidades), para que de facto a ação do interventor seja eficaz, rigorosa e incidente nos verdadeiros problemas; o sistema interventor que corresponde a um (conjunto de pessoas que se apresenta como recurso ao sistema-cliente) para responder às necessidades identificadas; a interação que se estabelece (entre estes dois sistemas), traduz-se num conjunto de comunicações entre ambos, através das quais é possível nomear as necessidades e recursos, e produzir respostas e soluções às mesmas; e por fim, o ambiente de intervenção que adorna a interação, ou seja, proporciona (condições favoráveis ou desfavoráveis) à intervenção do projeto.

Contudo, Isabel Menezes (2007) defende que a intervenção com as comunidades, através de um enfoque psicológico, apresenta diferentes “situações passiveis de intervenção” (2007:41) que tendo o fim de desenvolvimento das pessoas, grupos e comunidades de acordo com diferentes situações de crise ou ausência da mesma, pode assumir posições de remediar, prevenir ou promover o desenvolvimento.

Nesta perspetiva psicológica da intervenção comunitária é possível perceber-se também estratégias de trabalho com a comunidade, e não sem ela ou para ela, sempre com intuito de desenvolvimento de capacidades e de recursos da comunidade o ator social interventor/a que assuma esta perspetiva constrói um diagnóstico prévio da realidade local com a participação e envolvimento das pessoas, potenciando o desenvolvimento de projetos realmente adequados aos sentidos que as pessoas conferem à sua realidade.

Isto é também possível contornando e estando ciente dos quatro “ofícios da intervenção comunitária” Menezes (2007). A autora refere que nos deparamos na consecução de projetos com a comunidade com implicações que surgem do exercício da profissionalidade.

Apresenta então o “ofício da relação (vs. o ofício da récita)” - que defende mais uma vez a relação participada do saber e do envolvimento das comunidades na prossecução dos projetos por oposição a resultados encomendados ou prescritos.

O “ofício do pluralismo (vs. o ofício da verdade)” - em que é preconizada a atenção a diferentes perspetivas de conhecimento e a “vozes comunitárias [que]

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permite[m] aceder à comunidade”(Menezes,2007:140) e desta forma a uma verdade que advém da aceitação e valorização da diversidade presente nos contextos.

O “ofício de se tornar irrelevante (vs. o ofício de ser insubstituível)” – que preza por uma perspetiva de atenção do profissional do contexto que querendo ser reconhecido pelo seu trabalho deve ter consciência de que isso é “secundário relativamente ao projeto de intervir no sentido da autonomia e do empoderamento das pessoas, grupos e instituições da comunidade” (idem:140).

O “ofício de «fazer política por outros meios» (vs. o ofício de «não tomar partido»)” - onde é refletido o facto da intervenção comunitária ser uma caminho no desenvolvimento, cidadania participada propiciador do bem comum “da justiça social e do bem estar pessoal”(Menezes, 2007:138) com fins de desenvolvimento e empoderamento das comunidades, se torna inevitavelmente ligada a questões políticas. Esta ligação é justificada pela “teoria e pela investigação que revelam as implicações devastadoras da falta do poder (…)” (idem,2007:143) e pelo assumir da profissionalidade enquanto espaço de ação defensor destas questões.

Retomando Manuel Matos a intervenção comunitária desenvolve-se segundo três possíveis formas de expressão

“ i) a intervenção científico-técnico-funcionalista; ii) a intervenção assistencial- prestacionista; e iii) a intervenção cidadã. Cada uma destas formas de intervenção, como parece legítimo deduzir-se de cada uma das designações, supõe um contexto sociocultural e político distinto, assim como um quadro teórico e epistemológico igualmente distinto. Em consequência, a base de legitimação da intervenção de cada uma destas formas difere substancialmente entre si.” (2009: 182).

A abordagem da intervenção comunitária possível no contexto educativo não formal que integrei, e com isso patente na identificação de um associativismo cidadão como referi no ponto anterior também referindo Manuel Matos, é a intervenção cidadã que pressupõe a agência dos atores locais no envolvimento na associação e através de uma de cidadania reivindicada o seu envolvimento no contexto. Neste sentido, esta intervenção com as pessoas, grupos e comunidades conjuga

“as dimensões de ação e de intervenção dos potenciais membros que a integram com uma dimensão reflexiva, onde ganhem relevo, por um lado, as questões económicas e sociais que exigem respostas de ordem prática, mas também, por outro, as questões políticas, éticas e culturais susceptíveis de contribuírem para enformar a vida dos indivíduos em sociedade em vidas subjectivamente dotadas de sentido.” (idem: 184).

Posto isto, é importante na intervenção comunitária a relação efetivada com a comunidade sendo que

“ a participação dos actores locais (ao nível da tomada de decisões, concretização das decisões e avaliação dos resultados) é que permite transformar o processo de desenvolvimento num trabalho que uma comunidade realiza sobre si própria,

41 aprendendo a conhecer-se, a conhecer a realidade e a transformá-la.” (Canário,

1999:65).

Conclui-se que, por potenciar e valorizar os processos de envolvimento que preconizam a importância da inclusão, promovendo a integração de todos, a intervenção comunitária é extremamente atenta à informação e significados extraídos dos contextos onde se processam os seus projetos.

3. Importância das emoções e da percepção de empatia nas relações sociais e