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2. Apresentação do tema do projeto

4.1 A investigação-ação como metodologia

A investigação-ação constitui uma das metodologias de possível implementação quando falamos de investigação em instituições educativas, constituindo um recurso para a resolução de problemas, numa determinada área, no âmbito da educação, e para o desenvolvimento dos seus profissionais que, inseridos nestes mesmos contextos, desejam, através da sua implementação, melhorar a qualidade da ação educativa que nela decorre.

A investigação-ação é, pois, segundo Choen & Manion uma metodologia “apropriada en cualquier caso en que se requiera um conocimiento específico para un problema específico en una situación específica; o cuando se vá a incorporar un nuevo método en un sistema ya existente” (Choen & Manion,1990:283).

Ainda que parcelar, a visão que acabamos de apresentar sobre esta metodologia revela-se ilusoriamente simples, dada a complexidade do conceito. Assim, na tentativa de melhor o clarificar, apresentamos, de seguida, algumas propostas, elaboradas por diferentes autores, no sentido de uma melhor compreensão:

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Halsey, citado em Cohen & Manion afirmam que: “investigación en la acción es la investigación a pequeña escala en el funcionamiento del mundo real y un examen próximo de los efectos de tal intervención” (idem, ibidem:271);

James Mc Kernan, citado por Esteves acrescenta que a “Investigação-acção é uma investigação científica sistemática e auto-reflexiva levada a cabo por práticos, para melhorar a aprática” (Esteves, 2008:20).

Cruz, citado em Oliveira et al refere, ainda, que “a investigação-acção é uma processologia que implica um processo tomado como objecto de conhecimento e de intervenção (…) implicando métodos objectivos de diagnóstico, de decisão de estruturação da acção, comportando opções assumidas no quadro das tipologias de investigação” (Oliveira et al, 2004:151).

Dadas as limitações existentes, procuraremos complementar as definições apresentadas ao longo das próximas abordagens, centradas em algumas particularidades deste mesmo método.

Articulando duas metodologias, a da ação (ou mudança) e a da investigação (ou compreensão), este plano investigativo procura questionar a prática social e os valores que a integram para, mediante a obtenção de um conhecimento específico acerca dessa mesma realidade (proveniente da reflexão crítica, do diálogo e da partilha de ações com os diferentes agentes do meio social estudado) a poder compreender, explicar e melhorar. É portanto uma metodologia prática e aplicada que, procurando aliar o conhecimento pessoal e profissional do professor no desenvolvimento da prática reflexiva, revela-se, simultaneamente, informal, formativa e interpretativa.

Na abordagem a esta mesma metodologia, Esteves diz que:

(…) a investigação-acção forma, transforma e informa. Informa através da produção de conhecimento sobre a realidade em transformação, transforma ao sustentar a produção da mudança praxiológica através de uma participação vivida, significada e negociada no processo de mudança; forma, pois produzir a mudança e construir conhecimento sobre ela é uma aprendizagem experiencial e contextual, reflexiva e colaborativa. (Esteves, 2008:11).

Para além de uma metodologia de estudo, a investigação-ação pode ser também entendida como uma forma de ensino onde, todos os processos nela implicados, intervêm na

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melhoria do trabalho das escolas e no processo de formação do professor reflexivo. Através desta mesma investigação, cada profissional docente tem a possibilidade de repensar a sua prática pedagógica, ampliando os seus conhecimentos e a sua competência profissional.

Nesta linha de pensamento, Simões afirma que “(…) o resultado da investigação terá sempre um triplo objectivo: produzir conhecimento, modificar a realidade e transformar os actores” (Simões, 1990:32).

Também Altrichter citado por Esteves refere a este mesmo propósito que: “a investigação- acção tem como finalidade apoiar os professores (…) para lidarem com os desafios e problemas da prática e para adotarem as inovações de forma refletida” (Esteves, 2008:18). Esta metodologia pressupõe, assim, que cada docente, assumindo um papel ativo e interventivo na ação, seja investigador reflexivo da sua própria prática educativa, analisando discursos, observando comportamentos, identificando problemas e respetivas estratégias de resolução, de forma sistemática e aprofundada, fazendo da prática o seu principal objeto de reflexão.

Contrariamente a outras metodologias, a componente teórica não se assume como orientadora da ação, mas antes indica possíveis caminhos para a renovação das práticas que podem passar não apenas pela resolução de problemas pessoais práticos, como também pela melhor compreensão dos conhecimentos sobre o currículo, o ensino e a aprendizagem.

Conduzida pelo prático, esta investigação assume como caraterísticas centrais o seu caráter:

 Situacional, pois procura diagnosticar um problema num contexto específico e resolve-lo;

 Colaborativo, na medida em que investigador(es) e alunos se encontram implicados no processo, trabalhando juntos no projeto;

 Participativo, visto todos os membros da equipa tomarem parte, direta ou indiretamente, na execução da investigação;

 Prático e interventivo, no sentido em que não se limita ao campo teórico para a descrição de uma dada realidade, mas intervém nela de forma deliberada;

 Cíclico, porque envolve uma espiral de ciclos autorreflexivos de conhecimento e ação, nos quais as descobertas iniciais, quando promotoras de mudança, são introduzidas e, posteriormente, avaliadas no ciclo seguinte;

 Crítico, pois implica a mudança de um ambiente e a transformação dos agentes promotores desse processo;

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 Auto avaliativo, na medida em que tais alterações são continuamente avaliadas numa perspetiva de adaptabilidade ao contexto e de produção de novos conhecimentos, sempre no sentido de reformular e melhorar a prática educativa.

Prosseguimos a reflexão em torno desta metodologia, centrando a nossa atenção, de um modo muito particular, numa das suas caraterísticas - o carácter cíclico da investigação-ação.

Este, ao referir a espiral de ciclos como parte integrante deste processo, remete-nos para a existência de etapas de planificação – ação – observação – reflexão, possibilitando, assim, a permanente elaboração de avaliações acerca dos efeitos das intervenções do projeto. Deste modo, o profissional estará não apenas a renovar a sua prática, como também o conhecimento que desta detém.

Esteves, na sua obra Visão Panorâmica da investigação-acção referencia estes mesmos aspetos, quando afirma que: “A investigação-ação é um processo em espiral de planificação, ação, observação e reflexão. A ação e a reflexão formam o eixo estratégico do processo de investigação-ação” (idem, ibidem:21).

A presença deste movimento espiralado é importante pois explica as quatro fases em que se divide esta processologia. Assim, ao longo deste processo, o professor/investigador identifica, ou é confrontado, com um problema do meio social e decide estuda-lo; seguidamente, e em função do observado, desenvolve um plano de ação – onde inclui a testagem de hipóteses pela aplicação da ação ao problema – tendo em vista alterar ou melhorar determinada situação. A investigação prossegue com a implementação de um plano, pautado pela observação sistemática da ação, a partir da qual, será feita a avaliação de modo a verificar e demonstrar a eficácia dos seus efeitos (revestidos da devida contextualização). Por fim, com base nos resultados obtidos, o professor/investigador fará uma reflexão que servirá de ponto de partida para uma nova planificação que dará início a um novo ciclo – agora composto de novas abordagens no sentido de melhorar a qualidade da futura ação a desenvolver.

Sabendo que a principal justificação para o uso da investigação-ação no contexto escolar é a melhoria da prática nele desenvolvida e que esta depende, em larga medida, da alteração das atitudes e dos comportamentos do professor/investigador, procurámos, ao longo da nossa intervenção assumir o duplo papel de investigadoras e professoras, na complexidade de um processo em que a primeira procura ajudar a segunda a refletir sobre as suas práticas e a agir no sentido de as conseguir melhorar.

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