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CAPÍTULO 4 METODOLOGIA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

4.1 A Investigação em Educação

Qualquer tipo de investigação tem o objetivo de produzir conhecimento científico e trabalhar na busca incessante de resultados que poderão solucionar problemáticas colocadas no âmbito de uma determinada temática, sendo, desta forma, necessário e benéfico o alinhamento de dois tipos de conhecimento fulcrais para a obtenção de bons resultados, mais concretamente a união do conhecimento comum com o conhecimento científico (Lakatos & Marconi, 1992). O primeiro visa a transmissão de experiências

pessoais adquiridas de geração em geração, não tendo por base um estudo aprofundado de práticas e procedimentos, mas que, no entanto, contribui para a tomada de certas decisões imediatas. O segundo, o conhecimento científico, enquanto conhecimento objetivo e válido para todos, adquirido através de práticas racionais estudadas e assentes em objetivos, segundo um método pré-definido (idem).

Aliando a essência de ambos, a investigação em educação, definida por Pacheco (1995b: 9) como uma atividade de natureza cognitiva que consiste num processo sistemático, flexível e objeto de indagação e que contribui para explicar e compreender os fenómenos educativos , poderá alcançar a solução para questões que se levantam no seio do sistema pedagógico, ganhando sentido na sociedade dos nossos dias, em constante mutação. Com efeito, é

[ ] através da investigação que se reflete e problematiza o processo de ensino-aprendizagem, que se suscita o debate e que se edificam as ideias inovadoras. Se assim não fosse, teríamos o empedernimento e a trivialização da atividade educativa (ibidem)

sendo fundamental que as instituições escolares acompanhem essas mudanças, adaptando conhecimentos, conceções e processos e modificar as mentalidades.

Neste sentido, surgem duas perspetivas no âmbito da investigação educativa, que percorrem um caminho sistemático e rigoroso, visando uma vertente pedagógica adequada à educação, assentando nas premissas de indagação e interação constantes. Tais premissas, necessárias para alcançar a inovação, contribuem para um eficaz processo de ensino-aprendizagem (ibidem). Na opinião de Deshaies (1992), o questionamento da realidade é imperativo, bem como a comunicação e interação constantes, pois serão estes procedimentos que conduzirão à edificação de práticas consolidadas e eficazes. Deste modo, poderá conseguir-se uma contribuição essencial para a ocorrência de mudanças radicais no seio dos princípios da investigação. É urgente orientar os modelos e os métodos, sejam eles relativos a crenças, valores, técnicas, culturas e/ou teorias de uma sociedade, o que vai refletir-se nos paradigmas em que se enquadram.

Estes paradigmas estruturam-se em torno de duas vertentes. O paradigma positivista (apelidado inúmeras vezes de racionalista), que segue um percurso racional, determinista, explicativo e experimental na formulação de leis, insere-se nos parâmetros

das Ciências Naturais (Pacheco, 1995b). É vulgarmente designado como quantitativo, pois surge-nos como um paradigma que tenta descrever e encontrar explicação para os fenómenos, buscando informações válidas para a aplicação dos resultados. Procura afastar-se da subjetividade e luta pela sua aplicação à generalidade dos casos, adquirindo um caráter preditivo. Quando procedemos à análise das caraterísticas deste paradigma e aos vários estudos efetuados nessa área, verificamos, contudo, que não é um meio viável quando aplicado, individualmente, à investigação educativa, na medida em que nos apresenta um caráter uniforme e regular, incompatível com a complexidade comportamental do Homem, essencialmente subjetiva e irregular.

Daí a necessidade de um caminho mais viável para a adequação de metodologias de estudo à investigação educativa, o que explica a emergência de um novo paradigma, designado de naturalista, ou se preferirmos, qualitativo, hermenêutico, interpretativo, antropológico, orientado para a investigação no domínio das Ciências Humanas (ibidem). Este paradigma inscreve-se numa linha de pensamento aliada à interpretação, tomando conhecimento do interior dos sujeitos, tentando compreender as suas histórias de vida e os seus valores, crenças e opiniões, afastando-se, assim, do modelo explicativo e de verificação. A investigação desenvolvida à luz deste paradigma interessa-se pelo estudo das emoções e dos pensamentos humanos, bem como pelo contexto em que ocorrem, pois o indivíduo está na base de toda a indagação (ibidem: 16). Segue um percurso orientado por determinadas caraterísticas, nomeadamente a descrição, a análise do ambiente natural, o interesse pelo processo e não, unicamente, pelos resultados, a indução e o significado, divergindo assim do paradigma anterior. Neste tipo de investigação, o investigador é o instrumento principal, recorrendo, por norma, a uma observação participante e deslocando-se constantemente ao local de estudo (Bogdan & Biklen, 1994).

Obviamente que um paradigma não exclui o outro (Pacheco, 1995b), podendo ser aplicados, no trabalho da investigação, em simultâneo, quando unidos em torno dos mesmos objetivos, complementando-se mutuamente, originado um paradigma misto.

É, então, urgente o recurso a um leque alargado de estratégias para o alcance de resultados mais aprofundados e conhecimentos alicerçados, não excluindo a necessidade de aplicação da metodologia à natureza do problema.

Segundo Lanthier (1964, citado por Deshaies, 1992: 54), se nos debruçarmos na melhoria e aplicação da reflexão na objetivação do pensamento, na atualização constante do saber técnico, na interrogação e definição dos objetivos da investigação, na clarificação do problema, no controlo dos preconceitos e pressupostos, na escolha das leituras, na tomada de notas, na recolha de informações de forma apropriada e posterior análise e crítica, na adoção de metodologias e métodos que se adaptem ao problema e aos dados de exploração, na sintetização das informações e ideias e na comunicação dos resultados, conseguiremos melhorias significativas no âmbito da investigação. Neste sentido, é essencial possuir um método organizado e rigoroso de trabalho.

Não podemos esquecer que o debate dos investigadores acerca destes dois paradigmas continua bem vivo. Mesmo a metodologia qualitativa tem sido alvo de críticas no que respeita à falta de objetividade e rigor intelectual (Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2005). As opiniões dividem-se, na medida em que uns defendem a oposição total entre estes dois paradigmas e outros defendem que um é apenas a continuidade do outro (idem). Contudo, estamos convictos de que as discussões em torno desta problemática manter-se-ão, proporcionando o enriquecimento e o aprofundamento no campo da investigação.

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