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Contexto Empírico do Estudo e sua Caraterização

CAPÍTULO 4 METODOLOGIA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

4.3 Contexto Empírico do Estudo e sua Caraterização

Conforme tivemos oportunidade de referir, o estudo desenvolveu-se no Agrupamento de Escolas onde a investigadora e os respetivos participantes exercem funções docentes. Assim, tendo por base as questões e os objetivos da investigação, consideramos importante caraterizar o contexto onde decorreu a investigação, de modo a que a interpretação dos sentidos atribuídos ao fenómeno em estudo, pelos sujeitos participantes, possa ser ecologicamente enquadrada.

Sabendo-se que o perfil dos alunos é fortemente modelado e condicionado pela envolvente sociocultural e económica, torna-se importante conhecer as caraterísticas do concelho de X 12, de onde são oriundos. Atendendo a que os dados estatísticos utilizados

têm por base o censo de 2001, percebe-se que possa ter havido, entretanto, alteração de algumas condições.

Nos últimos anos, tem-se verificado um fluxo crescente de imigrantes internos (inter-concelhos) e estrangeiros no concelho X, fator que contraria a tendência nacional para a perda da população por emigração e corresponde a um movimento positivo da população.

12 Referir-nos-emos ao Concelho como Concelho X para salvaguardar o anonimato do Agrupamento em estudo

Os imigrantes supranacionais representam quase 50% dos movimentos imigratórios. As imigrações inter-concelhias, com grande importância para o caso de X, estão fortemente associadas às políticas urbanísticas preconizadas pelos municípios.

Como nota importante, refira-se que a população imigrante mais recente pertence, tendencialmente, a uma faixa etária em início de vida ativa, com menos possibilidades de residir nos concelhos de origem, aproveitando assim condições menos onerosas de vida, facilitadas sobretudo pelas melhorias verificadas nas acessibilidades.

Grande parte da população aufere rendimentos diretos do trabalho que desenvolve, seguindo-se a subsistência por reformas e/ou outro tipo de pensões. No município, predomina o emprego pouco qualificado, saldando-se em pouco mais de 10% o número de quadros superiores e de técnicos profissionais de nível intermédio. É entre a população feminina que se regista a maior taxa de desemprego. Dominando as microempresas, os maiores empregadores são os setores do comércio, da reparação automóvel, dos bens pessoais e da construção. Em 2001, apenas 25,2% da população possuía o 1.º ciclo completo, cerca de 6% o 2.º ciclo, 4,3% o 3.º ciclo, 4,8% o Ensino Secundário e 3% o Ensino Superior13. O concelho de X registava, ainda, um total de 214

cidadãos portadores de deficiência, prevalecendo, neste aspeto, a faixa etária dos que têm menos de 20 anos (95 indivíduos); as deficiências visuais (51) e as motoras (13) são as mais significativas14.

Neste contexto, é necessário o desenvolvimento de algumas dinâmicas no Agrupamento, para perspetivar ambientes propícios às aprendizagens e que contribuam para alterar a situação que acabámos de descrever. Como exemplo, destacamos o Projeto Fénix15 que, com o [ ] acompanhamento da Faculdade de Educação e Psicologia da

Universidade Católica Portuguesa surge, em 2008-2009, como uma solução organizacional específica que se alimenta de uma reflexão na ação e do conhecimento produzido no campo da promoção do sucesso educativo (Alves, 2009: 17). Este projeto, que inscreve na sua ambição educativa fazer com que todos os alunos realizem uma escolaridade obrigatória bem-sucedida, encontra-se em implementação no Agrupamento

13Fonte: Projeto Curricular do Agrupamento em Estudo. 14Idem.

desde o ano letivo transato, e procura adequar as respostas educativas a todos os seus alunos na busca incessante da promoção do sucesso educativo, rumo a uma Escola Inclusiva. Estrutura-se a partir do seguinte conjunto de princípios organizacionais: princípio da adequação; princípio da diversidade; princípio da homogeneidade relativa; princípio do limiar da complexidade; princípio da formação na ação; princípio da flexibilidade; princípio clínico da tomada de decisão e princípio do envolvimento.

Em síntese, o projeto Fénix é uma tentativa de trabalhar o problema do insucesso e, simultaneamente, promover um sucesso de maior qualidade, operando num conjunto articulado de variáveis: o modo de agrupar os alunos, no modo de alocar professores aos alunos, na gestão do tempo curricular e dos espaços, na formação dos docentes, na articulação escola-família, na avaliação contínua e na monitorização externa do projeto através da Universidade Católica Portuguesa (Alves, 2009).

Outro dos projetos que foi desenvolvido no Agrupamento onde se centra o estudo, e que merece destaque, é o Projeto EPIS (Empresários pela Inclusão Social), que coloca a sua tónica no insucesso escolar e trabalha em colaboração com algumas instituições do 2º e 3º ciclos do básico no nosso país. Esta associação foi criada em 2006 por um grupo de empresários e gestores, com o objetivo de encontrar uma forma de dar resposta ao desafio de estabelecer um compromisso cívico, um compromisso para a inclusão social, no sentido de se romper com o conformismo e o comodismo de relegar para o Estado a solução do problema 16. Pretende-se, desta forma, ajudar os alunos a

recuperar o sucesso escolar ou a retomar percursos de educação ou formação. A sua atividade centra-se na gestão das instituições escolares, partindo do princípio que é uma dimensão fundamental para o sucesso e desempenho das escolas e dos alunos. Mais recentemente, esta organização lançou um fundo de apoio a estágios profissionais, em contexto empresarial, com o objetivo de facilitar a formação e inserção dos jovens que tenham um histórico de insucesso ou abandono escolar e que queiram optar por um caminho profissional, após os 18 anos, independentemente do nível de escolaridade que possuam. No fundo, o EPIS trabalha com o Agrupamento de Escolas e Escolas dos concelhos que são seus parceiros, como é o caso do Agrupamento no qual se desenvolve

o estudo, procurando que todos os parceiros das redes sociais locais adotem uma postura flexível e adaptável ao contexto local e individual, de modo a complementar e colmatar eventuais limitações ou requisitos legais dos programas públicos, sem os desvirtuar ou competir com os mesmos 17.

Concretamente, no Agrupamento em destaque, o EPIS centra-se na identificação de ações de melhoria contínua do contexto de trabalho, na autoavaliação das práticas educativas, com vista a uma escola de qualidade, na quantificação de indicadores de desempenho e no controlo do progresso e de resultados18.

Ainda neste contexto das dinâmicas desenvolvidas pelo Agrupamento com vista ao fomento da qualidade educativa, evidenciamos os Cursos de Educação e Formação19.

Os CEFs são uma possibilidade para gerir o currículo de forma flexível, oferecendo novas oportunidades aos alunos de prosseguir os seus estudos, de acordo com os seus interesses, permitindo-lhes a entrada no mundo do trabalho de forma mais qualificada. Tem como objetivos a recuperação dos défices de qualificação escolar e profissional, ajudando os alunos que a frequentam na aquisição de competências escolares, técnicas, sociais e relacionais, que lhes permitam ingressar no mercado de trabalho. Destina-se aos jovens, que se candidatam ao primeiro ou a um novo emprego, com idade igual ou superior a 15 anos e inferior a 23 anos, que se encontram em risco de abandono escolar, ou que abandonaram o ensino regular, e que são detentores de habilitações escolares que variam entre o 6.º ano de escolaridade (ou inferior) e o ensino secundário. Estes cursos apresentam uma estrutura curricular profissionalizante e integram quatro componentes de formação: a componente sociocultural, a científica, a tecnológica e a prática em contexto de trabalho. O curso permite, ainda, que estes alunos realizem um estágio complementar pós-formação, com uma duração máxima de seis meses.

Como referimos anteriormente, este estudo de caso decorre num Agrupamento de escolas do distrito de Aveiro que abrange diversos níveis de ensino, desde a Educação

17EPIS Fundo de Inserção Profissional EPIS: Regulamento em vigor a partir de 18 de outubro de 2012. V. 1.

18 Para mais informações acerca deste estudo, consultar:

Pré-escolar até ao 3º ciclo do Ensino Básico. É composto por dezoito Jardins de Infância, vinte Escolas do 1º ciclo do Ensino Básico (1º CEB) e uma Escola Básica do 2º e 3º Ciclo do Ensino Básico (EB23)20.

O Agrupamento conta com um total de 1939 alunos, distribuídos pelos diferentes níveis de ensino, da seguinte forma: 400 alunos na Educação Pré-escolar, 919 no 1.º CEB, 314 no 2º CEB e 306 no 3º CEB. Do total de alunos, 4,5% apresentam Necessidades Educativas Especiais (NEE) de caráter permanente e 6,4% são oriundos do estrangeiro.

O corpo docente é constituído por 189 docentes, dos quais 19 são educadores de infância e 170 professores. Destes, 52 são professores do 1º CEB e os restantes 118 dos 2º e 3ºciclos do Ensino Básico. Dos 189 docentes que trabalham no Agrupamento, 165 pertencem ao quadro de nomeação definitiva a maioria, 83,6%, leciona no Agrupamento há mais de dez anos ,13 são professores do Quadro de Educação Especial e 4 de Apoio Educativo. Os restantes 7 são professores contratados. Do pessoal não docente, num total de 50 funcionários, fazem parte 8 assistentes técnicos, 41 assistentes operacionais e 1 psicólogo.

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