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4. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

4.4. A investigação

Investigar é para Kuhn (1989, pp. 277-278):

“(…) uma actividade altamente convergente baseada firmemente num consenso estabelecido, adquirido na educação científica e reforçado pela vida subsequente na profissão. É típico que esta investigação convergente ou de consenso limitado desemboque por fim na revolução” (Kuhn, 1989, pp. 277-278).

Por outras palavras, é através da investigação que se explicam, compreendem e problematizam os problemas práticos surgidos nos fenómenos sociais, pois só assim “se suscita o debate e se edificam as ideias inovadoras” (Coutinho, 2011, p. 9).

O mesmo autor, Kuhn, define o conceito de paradigma como:

“(…) a interpretação que os científicos fazem das observações, que são definidas pelo ambiente em que nos encontramos e pela perceção que temos desse mesmo ambiente” (Kuhn, 1989, p. 22)10.

Os paradigmas de investigação devem responder a três princípios básicos, sendo eles:

- Princípio Ontológico:

“É a natureza da realidade investigada e a crença que mantém o investigador ligado a essa realidade” (Morales, 2003, p. 126)11.

10 Citação original: “la interpretación que hacen los científicos de las observaciones, que son fijadas de una vez por todas por la naturaleza del ambiente y del aparato perceptual.” (Kuhn, 1989, p. 22).

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Citação original: “Es naturaleza de la realidad investigada y cuál es la creencia que mantiene el investigador con respecto a esa realidad

73 - Princípio Epistemológico:

“É o modelo que relaciona o investigador com o objeto de investigação, com base de que o conhecimento é adquirido através de determinados fundamentos. O investigador pode partir do pressuposto de que o conhecimento é objetivo e na sua tentativa de capturar a objetividade nos fenómenos estudados, emprega os métodos e procedimentos das ciências naturais, com base de que o conhecimento científico é obtido através de um distanciamento entre o sujeito e o objeto; ou, inversamente pode considerar que o conhecimento é subjetivo, pessoal e irrepetível, procurando estabelecer uma relação próxima com o objeto de investigação, com a finalidade de penetrar mais profundamente na essência desse mesmo objeto” (Morales, 2003, p. 126)12.

- Princípio Metodológico:

“É a forma de como obtemos o conhecimento sobre determinada realidade. Aqui encontram-se a perspetiva metodológica, os métodos e técnicas de investigação utilizados pelo investigador de acordo com os seus pressupostos ontológicos e epistemológicos, com os quais se estabelece uma relação harmoniosa e lógica” (Morales, 2003, p. 126)13.

Estes três princípios devem ser sempre considerados como interdependentes, pois é isso que atribui as características próprias a cada paradigma.

Na investigação, existem duas grandes abordagens: a qualitativa e a quantitativa. A abordagem qualitativa mostra “interesse pela compreensão, pela interpretação e pela partilha de compreensão” (Marques & Sarmento, 2007, p. 92). As ações dos sujeitos, dos grupos ou das organizações são o principal foco desta abordagem, que coloca de parte a representatividade numérica, as generalizações estatísticas e as relações de causa e efeito, privilegiando um contacto direto entre o investigador e o contexto de investigação para assim captar significados e comportamentos (Neves, 1996, p. 1):

“(…) a pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, ao longo de seu desenvolvimento; além disso, não busca enumerar o medir eventos e, geralmente, não emprega instrumental estatística para análise de dados; seu foco de interesse é amplo e parte de uma perspetiva diferenciada da adotada pelos métodos quantitativos. Dela faz parte a obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação de estudo” (Neves, 1996, p. 1).

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Citação original: “El modelo de relación entre el investigador y lo investigado, la forma en que sobre la base de determinados

fundamentos se adquiere el conocimiento. El investigador puede partir del supuesto de que el conocimiento es objetivo y en su pretensión de captar esta objetividad en los fenómenos que estudia, emplea los métodos y procedimientos propios de las ciencias naturales, partiendo del criterio de que el conocimiento científico se obtiene estableciendo un distanciamiento entre el sujeto cognoscente y el objeto; o por el contrario, puede considerar que el conocimiento es subjetivo, individual, irrepetible y en consecuencia establecer una relación estrecha con el objeto investigado con la finalidad de poder penetrar con mayor hondura en su esencia” (Morales, 2003, p. 126).

13 Citação original: “El modo en que podemos obtener los conocimientos de dicha realidad. Aquí se encuentran la perspectiva metodológica y los métodos y técnicas de investigación utilizados por el investigador en dependencia de sus supuestos ontológicos y epistemológicos, con los cuales establece una relación armónica y lógica” (Morales, 2003, p. 126).

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A abordagem quantitativa caracteriza-se pelo facto do investigador não se relacionar com o objeto de estudo, não havendo interesse sobre as histórias individuais de cada um dos sujeitos envolvidos (Marques & Sarmento, 2007, p. 92). Esta abordagem encontra o seu interesse na predição de acontecimentos com base em hipóteses, proposições e questões, considerando a generalização dos resultados como uma realidade universal e independente de qualquer contexto (Marques & Sarmento, 2007, p. 92).

De seguida, apresentamos de forma mais detalhada alguns dos pontos mais

característicos destas duas formas de interrogar a realidade.

As principais características da abordagem qualitativa são (Godoy, 1995, p. 21; Neves, 1996, pp. 1-2):

- o desenho da investigação qualitativa evolui à medida que se descobrem relações entre os fenómenos, o que faz emergir novos pressupostos;

- o investigador tenta compreender os fenómenos pelos quais os participantes passam ou relatam;

- são analisados contextos sociais e culturais específicos, sendo o investigador um elemento principal;

- os dados são recolhidos através de entrevistas e observação (que pode assumir diversas formas e registos), sobretudo, podendo também utilizar documentos existentes no campo;

- a análise dos resultados assumem a forma de narrativa; - a investigação qualitativa tende a ser descritiva;

- o processo que leva o investigador aos resultados e aos produtos são mais importantes que os próprios resultados e produtos;

- a possibilidade de generalização dos resultados obtidos a outros universos é inexistente ou muito limitada, cabendo aos atores exteriores ou leitores essa tarefa, não pondendo ser imputada à pesquisa essa responsabilidade.

A abordagem quantitativa apresenta como principais as seguintes características (Neves, 1996, pp. 2-3):

- pretende enumerar ou medir determinados aspetos, pré-estabelecendo um plano para isso;

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- reúne os dados necessários através de questionários estruturados com questões fechadas, que podem ser aplicados cara a cara, à distância, de forma impressa ou via eletrónica;

- analisa os dados de forma estatística, confirmando hipóteses através da dedução e da predição;

- utiliza uma amostra que seja considerada significativa a até representativa de um dado universo;

- generaliza os resultados para um determinado universo.

Este estudo pode ser metodologicamente caracterizado como híbrido ou misto, dado que utilizou elementos que são típicos das duas abordagens. Num primeiro momento, foi a abordagem qualitativa que esteve presente, pois foi necessário perceber de uma forma mais próxima, o que é que os responsáveis deste projeto de formação pensavam sobre ele. Isto permitiu uma melhor compreensão acerca das ideias e opiniões tidas sobre este novo projeto de formação, por parte de cada um destes sujeitos. Neste primeiro momento foi também importante saber junto dos entrevistados o que gostariam de ver questionado aos trabalhadores dos restaurantes.

Num segundo momento e, aquele que caracteriza todo o estudo, a abordagem

quantitativa tomou lugar, devido ao grande número de trabalhadores inquiridos. Para questionar esta grande amostra relativamente às perceções que têm sobre a Formação e- Learning, optamos pela construção de um inquérito por questionário.

De seguida, centrar-nos-emos nas duas técnicas mais comuns de recolha de informação pertinente em estudos no domínio das ciências sociais e que utilizamos no presente estudo: (1) o inquérito por entrevista e (2) o inquérito por questionário.