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III Q UADRO T EÓRICO DE R EFERÊNCIA

A S D IRETRIZES DE G OVERNO E A F ORMAÇÃO DE R ECURSOS H UMANOS

O final desse período coincidiu com a implantação das metas previstas no II PND. Mantendo o controle político, o Governo incorporou uma nova postura na relação com as políticas públicas. Essa orientação atingiu também a área de saúde, merecendo de um dos entrevistados essas observações:

“Em 1974 foi a posse do Geisel e foi um momento em que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada começou a se preocupar com a perda do salário mínimo, com os resultados do “milagre brasileiro”, e com o aumento da mortalidade infantil em São Paulo. Geisel deu uma orientada para que as estruturas de Governo assimilassem essas questões, e colocou em marcha alguma abertura em relação à Imprensa, que já noticiava que havia Leishmaniose no Rio Grande do Sul, dentre outras coisas. E foi quando conceberam que o Ministério da Saúde deveria ser dirigido por um sanitarista, indo buscar em São Paulo, o Paulo de Almeida Machado” (Entrevista nº 06 de 09/04/1998).

O Ministro Almeida Machado cumpriu mandato entre março de 1974 a março de 1979, convidando, para o Cargo de Secretário Geral, o Dr. José Carlos Seixas, professor da Faculdade de Saúde Pública. Em 1975, voltou à função de Secretário de Saúde de São Paulo o Dr. Valter Leser, permanecendo até 1979, com o Governador Paulo Egydio Martins, e, nessa oportunidade, retomou suas convicções quanto à necessidade de profissionais de Saúde Pública para alguns postos de trabalho da Secretaria de Saúde, procurando uma nova estratégia que iria pautar a sua ação junto à Faculdade de Saúde Pública, nesse novo período de Governo.

Coerente com o peso que representava o pensamento de planejamento nas estruturas burocráticas, a partir de 1974, o Governo Geisel também valorizou a Secretaria de Planejamento da Presidência da República, apoiando ações voltadas para o fortalecimento das políticas públicas, abrindo espaços, no interior do Governo para a formulação de projetos, que a partir de 1975 começaram a ser viabilizados (Brasil,1974)

Os anos de 1974 e 1975 foram de intensa atividade para o setor saúde. No período de 05 a 09 de agosto de 1975, realizou-se a 5ª Conferência Nacional de Saúde, quando ocorre com clareza a mudança do discurso de Governo em relação às questões de Saúde e Educação, incorporando as preocupações com o indivíduo e com a formação de recursos humanos de qualidade. A conferência proferida pelo Dr.Edson Machado, representante do Ministério da Educação. Naquela oportunidade, destacou alguns pontos que merecem ser referidos, pela forma com que estavam traduzidas as mensagens de Governo, no plano educacional, na relação com a saúde:

“A formulação de uma política de educação numa sociedade que vem atravessando profundas transformações em sua paisagem sócio-política-econômica e cultural não é tarefa fácil,

principalmente se levarmos em conta que a educação é simultaneamente, um meio e um fim. É meio quando considera apenas os aspectos produtivos, de preparação de mão de obra para o atendimento à demanda e da manutenção do “steady state” entre o sistema formador de recursos humanos e o sistema utilizador desses recursos. De outro lado, não se pode perder de vista, que a educação é também um fim, é consumo, é a melhor forma de proporcionar ao indivíduo a sua auto-realização. Sob esse aspecto, uma política de educação pressupõe uma filosofia da educação, edificada fundamentalmente sob as bases vivas e caracteres contingentes da coletividade, auscultando mesmo as mínimas vibrações sociais, num comportamento “de baixo para cima” a fim de incorporar as grandes linhas de preocupação dessa coletividade” (Ministério da Saúde, 1993:67).

O pensamento expresso pelo Dr. Edson Machado, naquela oportunidade, também se traduzia na postura que algumas instâncias de Governo passaram a adotar, sob a orientação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, como órgão de assessoramento ao Presidente da República (Brasil, 1974:71), abrindo espaços para a revitalização das instituições de Ciência e Tecnologia, entre as quais estava a Fundação Instituto Oswaldo Cruz. A sua fala também alertava para a necessidade de formular programas que abrigassem propostas de capacitação de uma mão de obra com formação sólida, avançando em relação à visão instrumental, até então existente.

A visão defendida por Machado, funcionava como retórica de governo, uma vez que os avanços previstos pela implementação do II PND não pretendiam mudar a direção das questões sociais, como ressalta Teixeira: “a valorização dos recursos humanos enquanto força de trabalho do

país, fundamenta-se nas idéias que embasam o planejamento social originário do pós-guerra: os gastos com “capital humano” que contribuem para o próprio desenvolvimento econômico”; trata-se de “promover a incorporação das chamadas “populações de baixa renda” à dinâmica da produção capitalista, seja como produtor direto, seja como consumidor”. Para ela, “a ênfase na política de emprego e salário, além do componente econômico tem também um conteúdo retórico, utilizado pelo Governo para legitimar-se frente às classes sobre as quais recaiu os efeitos perversos do modelo”

(Teixeira, 1982:51). Nesse sentido, “saúde e educação são consumos específicos, que implicam na

qualificação da força de trabalho - ou seja, na ótica economicista: investimento em capital humano - ao tempo em que contribuem para atenuar tensões - sob a ideologia de favorecer a ascensão social”

(Teixeira, 1982:51).

Essa percepção de dupla face que aparecia nas políticas de governo, permitiu o surgimento de iniciativas no interior de suas equipes que se organizaram através de projetos que passaram a compor um certo caminho de modernização do Estado, nessa fase, incorporando dimensões do social não contempladas pelo I PND (1972/1974).14 Essa perspectiva se fundamentava no item relativo à Política de Valorização de Recursos Humanos, o qual estabelecia que “nas áreas de Saúde

Pública e Assistência Médica da Previdência, cuidar-se-á da reforma de estruturas, para dar capacidade gerencial a esses setores, a exemplo do que já se vem fazendo na Educação, especialmente quanto às Universidades” (Brasil, 1974:72).

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O I PND enfoca a Política Tecnológica Nacional na implantação de Centros de Tecnologia em áreas de infra- estrutura e Indústrias Básicas, como sejam Energia Elétrica, Tecnologia Nuclear, Petróleo, Telecomunicações, Siderurgia, Pesquisa Mineral, Pesquisa Espacial, e se reformulará a carreira de pesquisador, para assegurar-lhe condições de trabalho satisfatórias. Texto correspondente ao publicado no Suplemento do Diário Oficial de 17 de dezembro de 1971, I PND, 72/74, pág. 8.

Ainda no seu capítulo XIV, da Ciência e Tecnologia, o Plano estabelecia que seria

“necessário atuar na base de projetos bem definidos e com orçamento delimitado”, recomendando,

para a área de tecnologias de áreas sociais, a ênfase na saúde e educação, assim definida: “no

campo da saúde, desenvolver programas de pesquisa orientados para a eliminação de endemias, como a esquistossomose e o mal de Chagas, assim como sobre a nutrição de grandes contingentes populacionais” (Brasil, 1974:137).

Para atender a essas recomendações, o Governo impulsionou o desenvolvimento da pesquisa, transformando o Conselho Nacional de Pesquisas, em Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e propondo a execução do II Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-PBDCT. Consubstanciando os programas e projetos prioritários do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, nas áreas dos diferentes Ministérios, através do PBDCT, o Governo disponibilizou recursos financeiros de 1975 a 1980 (Brasil, 1974:137- 138).

Essas definições criaram condições favoráveis ao surgimento de projetos importantes no interior do Governo, com ações de intervenção na assistência à saúde, impactando as Instituições de Saúde e de Ciência e Tecnologia. Fruto desse contexto, e cumprindo diretrizes governamentais, constantes do II PND, a Secretaria de Planejamento da Presidência da República investiu no reforço das instituições como a Fundação Instituto Oswaldo Cruz e a Financiadora de Estudos e Projetos- FINEP, resultando na formulação do Programa de Estudos Sócio Econômicos em Saúde-PESES e Programa de Estudos e Projetos Populacionais e Epidemiológicos-PEPPE, financiados pela FINEP e executado pela Escola Nacional de Saúde Pública e que também comporão a análise do próximo período (PESES, 1978).