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O S G ESTORES DOS S ERVIÇOS , O S ISTEMA DE S AÚDE E A F ORMAÇÃO DE R ECURSOS H UMANOS

III Q UADRO T EÓRICO DE R EFERÊNCIA

O S G ESTORES DOS S ERVIÇOS , O S ISTEMA DE S AÚDE E A F ORMAÇÃO DE R ECURSOS H UMANOS

humanos; a necessidade de renovação do pensamento administrativo, no início da década, já se expressava no nível estadual, a exemplo das Secretarias de Saúde de São Paulo e de Minas Gerais, que tomaremos como referências importantes para essa discussão. Ambas vivenciaram ciclos de renovação nesse período, com estratégias diferenciadas, como reação à insatisfação com o modelo de gestão instaurado no plano estadual.

No exercício da sua função, o Secretário de Saúde de São Paulo, Dr. Leser, passou a se relacionar com práticas administrativas que lhe chamaram a atenção quanto à legitimidade dos profissionais que eram responsáveis por atividades estratégicas para o estado, nas funções por ele consideradas típicas da Saúde Pública.

“ Nessa primeira gestão, cheguei e encontrei uma pilha de nomeações para assinar. Todos médicos e nenhum sanitarista. O normal era entrar para o lugar da nomeação e depois sair para São Paulo. Baixei um ato que qualquer vaga só seria preenchida por sanitarista formado. Isso impedia a entrada de pára-quedistas e desagradou muita gente. Tinham muitos parentes “bons e competentes” que gostavam de Saúde Pública e acabavam “virando sanitaristas” (Entrevista nº 05 de 07/04/1998).

A inquietação do Secretário também era grande, com a dinâmica da administração. Queria pensar soluções para a Secretaria, mas se via envolvido com o atendimento cotidiano de muitas chefias:

“Cada especialização era um “feudo”; criança era um bicho, Serviço de Tisiologia, Oftalmologia.... havia 20 pessoas para despachar direto com o Secretário. Percebi que se alguém quisesse fazer sozinho aquela reforma estava liquidado” (Entrevista nº 05 de 07/04/1998).

Como perseguia o objetivo de modernizar a Secretaria de Saúde, o Dr. Leser associou-se a um projeto de reforma do Estado, sob o comando da Secretaria da Fazenda, conseguindo a adesão de técnicos especializados em modernização, dedicados à reforma.

“O Secretário mandou a Evelin para a Secretaria de Saúde, que se meteu na obra com convicção. Conhecia administração; quando acabou o Governo ela foi para a Faculdade de Saúde Pública e fez carreira docente” (Entrevista nº 05 de 07/04/1998).

Nesse mesmo período, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais procurava também um caminho de mudança e superação do modelo de administração vigente, elegendo frentes de trabalho que se debruçaram sobre a reorganização dos serviços de saúde do Estado e algumas experiências de Medicina Comunitária, entre as quais a do município de Montes Claros, que se tornou referência pela sua capacidade de formular inovações, pelo projeto político que lhe referenciava e pela capacidade de articulação que o grupo condutor do projeto conseguiu imprimir (Santos, 1995:35).12

Como parte da estratégia adotada pelo nível central estadual, em 1972, a Secretaria de Minas Gerais realizou um diagnóstico detalhado e aprovou um modelo de atenção, partindo da concepção teórica da Teoria de Sistemas, com sete princípios assim definidos: coordenação interinstitucional, máxima cobertura, financiamento multilateral, hierarquização de serviços, relacionamento com o sistema informal, participação da comunidade e utilização da equipe de saúde com delegação de funções (Santos, 1995:44-45).

“O modelo previa uma estrutura hierarquizada, em quatro níveis: domiciliar, local, de área

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Por referência aos grupos engajados no Projeto Montes Claros, Santos ressalta: “como tais grupos dispunham de poucos espaços institucionais para seus experimentos, encontraram na prática da implantação do Projeto

programática e de região, e os serviços distribuídos hierarquicamente entre os quatro níveis” (Santos,

1995:45), compondo um estudo de descentralização que contou com a colaboração do Centro Regional de Montes Claros.

Vale destacar que as atividades realizadas pelo nível central da Secretaria de Saúde de Minas Gerais estavam articuladas à reforma “Neves”, implantada em 1969, naquele estado, e

“conciliava o tradicional dos chefes de Departamento com a absorção da proposta de planejamento, através da Assessoria de Planejamento e Controle, fruto da ideologia de planejamento, já presente na administração pública do Estado” (Santos, 1995:30).

Através do seu processo de implantação “foi possível introduzir algumas propostas da III

Conferência Nacional de Saúde que deveriam ser implementadas através da Assessoria, como o planejamento e a implantação de sistemas regionalizados e hierarquizados de serviços de saúde, ainda chamados de distritos sanitários, com inspiração no modelo da Fundação SESP” (Santos,

1995:30).

Os comentários aqui efetuados sobre essas experiências estaduais, estão longe de expressar o conjunto de insatisfações daquele momento, quanto à organização dos serviços públicos de saúde, mas são exemplos marcantes que se constituíram em embriões de outras propostas, que revelaram um potencial de mudança que existia nas Instituições e em algumas equipes técnicas, e que plantaram as bases para que essas e outras Instituições vivenciassem, com elementos novos, a conjuntura seguinte.

Também nesse período, no âmbito federal, começam a ser gestados alguns planos, com vistas a intervir na disponibilidade de recursos humanos para a saúde. Fruto desse esforço surgiu o Programa de Preparação Estratégica de Pessoal de Saúde-PPREPS, em 1975, através de um Acordo entre os Ministérios da Saúde e da Educação e Cultura e a Organização Pan-Americana de Saúde, que se propunha a “adequar progressivamente a formação de recursos humanos para a

saúde aos requerimentos de um sistema de saúde com cobertura máxima possível e integral, regionalizado e de assistência progressiva, de acordo com as necessidades das populações respectivas e as possibilidades das diversas realidades que o país apresenta” (Teixeira, 1982:63). A

formulação apresentada pelo PPREPS já apontava para a sua possibilidade de interferência no modelo de assistência, ação que se tornou concreta através do Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento-PIASS, também formulado pelo Governo. Os desdobramentos desses programas serão contemplados na fase seguinte.