• Nenhum resultado encontrado

2 A JUSTIÇA RESTAURATIVA NO ÂMBITO DA POLÍTICA DE

2.3 A Justiça Restaurativa no âmbito da violência doméstica: possibilidades e

2.3.1 A Justiça Restaurativa no processo de prevenção e resolução do

Como visto anteriormente o modelo restaurativo surge como uma oportunidade para os sujeitos envolvidos no conflito, de resgatar a convivência pacífica no ambiente afetado pela violência, em especial naquelas situações em que o ofensor e a vítima têm uma convivência contínua e duradoura, como é o caso da violência no ambiente doméstico.

A Justiça Restaurativa atua em vários locais, como escolas, ONGs, comunidades e Sistema de Justiça. Com a aplicação de práticas, que se baseiam em uma metodologia que procura resgatar o diálogo e tem como princípio desarmar as pessoas e uni-las enquanto seres humanos, construindo valores, estabelecendo diretrizes, para somente depois abordar o conflito.

É importante destacar que a prática restaurativa não tem por finalidade a punição, mas sim a reparação dos danos oriundos do delito causados às partes envolvidas e ao desenvolvimento do ciclo restaurativo entre elas. A justiça restaurativa pode reabilitar a família, reconstruir sentimentos e conjugar medidas reparatórias ao dano causado. Essa nova forma de justiça é um novo olhar sendo construído, e surge em decorrência das carências constatadas no sistema punitivo atual, que vem se mostrando ineficiente, especialmente, porque segrega a vítima ao mesmo tempo em que fracassa na responsabilização do autor. (PELLENZ, DEBASTIANI, p.40, 2015).

Sendo assim, o objetivo principal é o de resgatar vínculos, promover valores civilizatórios e construir soluções para reparar os traumas e perdas causadas pelo ofensor, implicando em um processo de natureza consensual e voluntária – princípios norteadores da Justiça Restaurativa – propondo compreender novas formas de solução de conflitos.

O modelo retributivo, além de não atingir os fins propostos, tão pouco se preocupa com a vítima que é colocada em segundo plano. O interesse da vítima ao acionar o sistema penal na maior parte das vezes não é a punição do infrator, mas a resolução do conflito com a reparação do dano gerado pela prática delitiva.

A Justiça Restaurativa se preocupa em especial com as necessidades das vítimas de atos ilícitos, aquelas necessidades que não estão sendo adequadamente atendidas pelo sistema de justiça criminal. Não raro as vítimas se sentem ignoradas, negligenciadas ou até agredidas pelo processo penal. Às vezes os interesses do Estado são diretamente conflitantes com aqueles da vítima. Isso acontece em parte devido à definição jurídica do crime, que não inclui a vítima. O crime é definido como ato cometido contra o Estado, e por isso o Estado toma o lugar da vítima no processo. No entanto, aqueles que sofreram dano muitas vezes tem várias necessidades específicas em relação ao processo judicial. (ZEHR, 2017, p. 28).

Por isso a importância da participação da vítima no processo, mostrando-lhe um rosto, e não apenas uma figura abstrata que deu início ao procedimento criminal, assim abre-se uma oportunidade de diálogo em um foro seguro para dizer como foram afetadas, pois somente elas podem dizer sobre a melhor maneira de reparar o dano sofrido e minimizar consequências futuras.

Bianchini (2012, p. 146), descreve a vítima como:

Juridicamente falando, a vítima é o sujeito passivo do crime, o ente que recebe a conduta do sujeito ativo do delito, a pessoa contra quem se comete o ilícito. Tal conceito, para a Justiça Restaurativa, não exprime toda a amplitude do ser humano que foi sujeito á uma infração. Afinal, o ser humano não é uma máquina que reage automaticamente a estímulos. É um ser singular que possui sentimentos e características individuais.

Para a vítima o crime torna-se traumático por consistir em uma violação do ser, uma invasão daquilo que é o indivíduo, daquilo que acredita e do seu espaço privado. “A experiência de ser vítima de um crime pode ser muito intensa, afetando todas as áreas da vida”. (ZEHR, 2018, p. 31).

Para Zehr (2018, p. 191) “Cura para as vítimas não significa esquecer ou minimizar a violação. Implica num senso de recuperação, num grau de resolução e transcendência. A vítima deveria voltar a sentir que a vida faz sentido e que ela está segura e no controle. [...]”.

A reparação e a resolução do conflito para a vítima, não são os únicos objetivos que devem ser buscados pela justiça restaurativa, deve-se buscar o relacionamento perdido entre a vítima e ofensor.

É preciso considerar que o contexto que envolve as relações entre as pessoas é delicado. Ainda nos dias de hoje, mesmo depois de tantas lutas e conscientização da igualdade de direitos e tratamento, é possível perceber resquícios do instinto dominador do homem em relação à mulher, tendo em vista a frequência em que este utiliza-se da violência para impor à mulher seus posicionamentos. (PELLENZ, DEBASTIANI, 2015, p. 41).

No âmbito da violência doméstica não se trata de restabelecer o vínculo conjugal e, sim que a relação entre vítima e agressor sejam restauradas, permitindo-

se que aflore em seus agentes um arrependimento e um perdão, estabelecendo um relacionamento positivo entre vítima e agressor, principalmente quando o casal possuí vínculos por meio da prole constituída

A introdução de práticas restaurativas nos conflitos de gênero, possibilita que as mulheres vítimas de violência doméstica busquem ajuda, pois muitas vezes, por descrença no sistema penal ou por não atender ele os seus anseios, deixam de denunciar os atos de violência.

Logo, para a vítima, o processo restaurativo representa respostas que não são apresentadas pelo sistema convencional. É a passagem para uma nova etapa com o entendimento do ocorrido e com suas necessidades alcançadas. Trata-se de um procedimento em que são

esclarecidas as motivações que levaram ao cometimento do crime –

não a motivação jurídica, mas sim a motivação pessoal do infrator. (BIANCHINI, 2012, P. 148).

Portanto, com a adoção da justiça restaurativa - onde a ofendida tem a possibilidade de manifestar o que realmente deseja, participando ativamente da solução do conflito instaurado – é possível que cada vez mais mulheres busquem soluções para situações de violência doméstica vivenciadas.

Além de servir ao adequado atendimento dos interesses da vítima a Justiça Restaurativa também pode servir a uma responsabilização mais efetiva do agressor. Isso porque, embora não exclua a possibilidade de responsabilização penal com a imposição de penas, tem como um de seus propósitos oportunizar ao ofensor a possibilidade de que o mesmo assuma a violência cometida, entenda suas consequências e repare o dano, não diante uma perspectiva punitiva/retributiva, mas responsabilizadora, e com um diferencial importante: o cuidado com a vítima.

A vítima recebe apoio e expõe ao infrator o quanto foi lesada. Deste modo, é desenvolvido o senso de responsabilidade. Os ofensores também precisam de cura. Devem ser responsabilizados pelo que fizeram, mas essa responsabilização pode ser um passo em direção a mudança e à cura. (ZEHR, 2018).

Ainda há muita discussão na utilização da justiça restaurativa nos conflitos envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher, principalmente por envolver questões de gênero e muitos grupos do movimento feminista entenderem que somente o modelo retributivo seja capaz de promover as mudanças comportamentais em relação aos papeis definidos pela sociedade a homens e mulheres.

Entretanto, é necessário esclarecer que a Justiça Restaurativa não busca inocentar o ofensor e nem o condenar. Zehr (2017, p. 30-31) afirma que:

A Justiça Restaurativa tem promovido a conscientização sobre os limites e subprodutos. Mais do que isto, vem sustentando que a punição não constitui real responsabilização. A verdadeira responsabilidade consiste em olhar de frente para os atos que praticamos, significa estimular aquele que causou dano a compreender o impacto de seu comportamento, os males que

causou – e instá-lo a adotar medida para corrigir tudo que for

possível. Argumenta-se que este tipo de responsabilidade é melhor para aqueles que foram vitimados, aqueles que causaram dano, e também para sociedade.

A Justiça Restaurativa não afasta a responsabilização do homem-agressor, buscando a reparação dos danos, a resolução do conflito e quando possível a conciliação, não estando, inclusive, afastada na decisão construída pelas partes, a aplicação de uma punição. O que muda é, como dito antes, a forma de enxergar o crime e a justiça, que é diferente do modelo tradicional.

Em síntese, Pellenz e Debastiani (2015, p. 41) destacam que:

O que as vítimas e as comunidades precisam é ter sua confiança restaurada. A obrigação fundamental do delinquente é mostrar que eles são confiáveis. O objetivo da justiça deve ser para incentivar este processo. O objetivo primordial da justiça, então, deveria ser o restabelecimento da confiança. A tentativa de conseguir isso em ambos os níveis pessoal e social pode fornecer um guarda-chuva unificador para a nossa resposta ao crime. Ao invés de substituir outros, os objetivos mais tradicionais, que se tornaria a principal consideração na sentença, oferecendo razões e limites para a aplicação de metas, como a incapacitação e punição.

Sobre a Justiça Restaurativa no âmbito da violência doméstica, Vieira (2017, p. 97) defende que:

A justiça restaurativa é uma alternativa viável para atuar nessa desconstrução, na medida em que empodera a vítima, incentiva a busca por respostas e a concessão do perdão; reforça a importância de se cultivar uma convivência saudável entre as pessoas; busca a amenização do conflito e, também, compreende o agressor não como um “monstro”, mas sim como uma pessoa que cometeu erros, dando-lhe a oportunidade de reconhecer a extensão de seus atos e, assim, a possibilidade de repará-los.

As práticas restaurativas, quando bem utilizadas, podem se tornar poderosos instrumentos para a reflexão em situações que envolvem violência contra a mulher, contribuindo não apenas para o atendimento de vítimas e responsabilização dos agressores – em situações de violência já existentes -, mas também para a prevenção deste tipo de violência, uma vez que permitem, a partir de círculos de diálogo, inspirados em valores e princípios da Justiça Restaurativa, visando a promoção da educação em questões de gênero e igualdade, fortalecendo vínculos e promovendo educação para a paz.

Não obstante a importância da Justiça Restaurativa como estratégia para o atendimento e superação da violência familiar, algumas críticas são levantadas sobre a possibilidade da utilização das práticas restauradoras em casos de violência de gênero, principalmente sobre a possibilidade de se colocar vítimas e ofensores frente a frente. Vieira (2017, p. 96) destaca que um dos aspectos da Justiça Restaurativa é a informalidade do encontro, assim pode se correr o risco da generalização dos procedimentos restaurativos, podendo resultar em um certo descontrole e revitimização das mulheres.

Segundo Santos e Machado (2018, p. 264):

[...]os caminhos para se enfrentar a violência doméstica não podem ser construídos sem a participação ativa das mulheres em situação de violência, apoiadas por uma ampla rede de grupos e organizações sociais comunitárias e ONGs dedicadas a lutas históricas contra as violências (hetero)sexistas, racistas e classistas. [...]Os projetos de educação jurídica popular das Promotoras Legais Populares e os núcleos especificamente dedicados à implementação da Lei Maria da Penha ocupam uma posição privilegiada para facilitar o diálogo entre mulheres, comunidades e o sistema de justiça. Os serviços especializados das redes de atendimento a mulheres em situação de

violência, especialmente os centros de referência, são também interlocutores que podem aprender com os grupos comunitários de mulheres e com os núcleos universitários de pesquisa e extensão com enfoque na Lei Maria da Penha.

Em que pese as críticas acima suscitadas, observa-se que os valores princípios e ferramentas da Justiça Restaurativa representam importantes estratégias para a prevenção e o atendimento a pessoas envolvidas em situação de violência familiar. Por meio dos processos circulares é possível oportunizar à vítimas e ofensores (em momentos separados ou, em casos específicos, conjuntamente) reflexões sobre as razões que estão na base desta violência, permitindo-se, com o isso, a desconstrução da estrutura cultural do patriarcado, presente nas relações de gênero. Nesta perspectiva torna-se possível, no processo de responsabilização do ofensor e de atendimento à vítima, produzir espaços de reflexão e compreensão sobre a violência em que estes se encontram envolvidos, o que pode contribuir para a superação de modelos de convivência marcados pelo poder, controle e dominação. (HAUSER, NIELSSON, BRONZATTO, 2018).

No município de Ijuí/RS, muitos projetos são desenvolvidos com foco na Violência doméstica e violência de gênero, como o Projeto de Extensão “Cidadania para Todos” e o projeto “Diálogos: tecendo vidas sem violência de gênero”. O primeiro está vinculado ao Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da UNIJUI, sendo desenvolvido por alunos e professores dos cursos de graduação em direito e psicologia. O projeto tem como objetivo utilizar a educação para os direitos humanos e a cidadania, tendo por base a reflexão crítica, a participação e o empoderamento da comunidade escolar e, em especial, promover transformações culturais e comportamentais visando a prevenção da violência de gênero. Para atingir tais objetivos, se busca construir espaços de diálogo e reflexão nos quais são utilizados princípios, valores e procedimentos próprios da Justiça Restaurativa, cujo a finalidade é proporcionar aos participantes vivências transformadoras. (HAUSER, NIELSSON, BRONZATTO, 2018).

De acordo com Hauser, Nielsson e Bronzatto (2019, p. 10):

O trabalho sobre questões gênero realizado no âmbito do projeto Cidadania para Todos, visa à prevenção da violência contra a mulher e a promoção de transformações culturais necessárias a efetivação

da igualdade e é desenvolvido a partir de princípios, valores e ferramentas da Justiça Restaurativa, em especial por meio de círculos de diálogo, nos quais é utilizado um objeto da palavra como orientação do processo de fala e escuta e a partir do qual se democratiza o uso da palavra e se assegura a participação de todos, bem como a vivência de valores como o respeito, a igualdade e a responsabilidade.

Já o projeto Diálogos: tecendo vidas sem violência de gênero, vincula-se ao Programa de Pós-graduação Strictu sensu em Direitos Humanos da Unijui, tendo por objetivo geral:

Contribuir no desenvolvimentos de projetos e atividades da Rede de Proteção à Mulher de Ijuí e região, promovendo, por meio de espaços de diálogos e princípios restaurativos, atividades de prevenção à violência e educação para a igualdade de gênero, de enfrentamento à violência e responsabilização de agressores, e de assistência às vítimas, para que se tornem capazes de superar a situação de violência e/ou desigualdade. Deste modo, objetiva-se contribuir para a construção e perpetuação de uma cultura de não violência, que supere o machismo estrutural e patriarcal, e a histórica desigualdade de gênero de nossa sociedade (NIELSSON, 2019, p. 6).

Outro projeto desenvolvido no município de Ijuí, que visa estimular a conscientização e a responsabilização de pessoas envolvidos em violência doméstica é o Grupo Reflexivo de Gênero, sendo este objeto do projeto-piloto idealizado pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul em parceria com outras instituições. O mesmo, foi inspirado em experiências de outras comarcas e Estados do país, em especial ela Comarca de Tubarão no Estado de Santa Catarina.

Acredita-se que a educação do autor de violência doméstica é imprescindível para a efetividade do processo preventivo e protetivo preconizado na Lei Maria da Penha. Deste modo, o trabalho desenvolvido em grupo, no seu fundamento, tem um papel educativo, reflexivo e preventivo, à medida que se constitui em espaço de escuta e, em consequência, de troca de experiências, que contribuem positivamente para a redefinição de conceitos e de atitudes.

O Grupo Reflexivo de Gênero trabalha também com mulheres, propondo reflexões que buscam transformar compreensões sobre suas relações familiares, sobre o ciclo da violência no casal, no sentido da construção de relações mais

igualitárias, menos marcadas pelo desejo de controle e de dominação e, portanto, menos violentas.

O procedimento dos encontros se baseia na metodologia de práticas circulares adaptadas à realidade da Comarca e dos órgãos com atuação na área da prevenção e da repressão da violência de gênero, sendo os encontros guiados por roteiros elaborados previamente pelos facilitadores,

A Justiça Restaurativa representa uma importante ferramenta para o enfrentamento da violência contra a mulher, não apenas porque oferece um atendimento mais adequado à vítimas e ofensores, oportunizando à eles espaços de fala e de escuta, de expressão de sentimento e identificação de necessidades que estão na origem da violência, mas sobretudo porque permite, por meio de círculos de diálogo, que as opressões e desigualdades presentes no contexto familiar se tornem visíveis, a partir da expressão dos danos e das dores de todos os envolvidos. Essa visibilidade, aliada a reflexões, sobre o lugar de homens e mulheres numa sociedade democrática e igualitária pode proporcionar transformações significativas na vida das pessoas.

Diante disso, é visível a necessidade de serem criadas políticas públicas, visando institucionalizar projetos dessa natureza, pois isso indica que há um caminho possível e que, com apoio junto às ações já dirigidas às mulheres, contribui afirmativamente para reduzir a violência e para promover a equidade de gênero.

Nesse sentido, evidencia-se a importância da atuação do Estado na origem dos conflitos e nas suas mais complexas dimensões, que perpassam aspectos relativos à justiça, não na sua acepção legalista e punitiva, mas de cura e recuperação de todos os envolvidos nos conflitos que envolvem violência doméstica e familiar.

De acordo com o que foi explicitado no decorrer do presente estudo, percebe- se que o sistema penal tradicional possui muitas falhas e não atinge o objetivo que é a prevenção da violência, bem como a adequada reinserção dos ofensores. Assim, por outro lado, na Justiça Restaurativa, vislumbra-se um passo num longo caminho a

ser percorrido em busca da efetivação das garantias fundamentais constitucionais e da construção da cidadania feminina e correspondente desconstrução das ideologias de dominação de um gênero sobre outro.

CONCLUSÃO

O presente estudo se propôs à análise da aplicabilidade dos processos restaurativos em crimes caracterizados pela violência contra a mulher. Nesse

sentido, a tradicional forma de justiça, junto com as teorias clássicas do direito penal, permitiu compreender a atual crise e falência do sistema penal, necessitando urgência na quebra de paradigmas e no rompimento da relação entre a resolução de conflitos e justiça.

O problema se torna mais complexo, quando se adentra no campo da violência contra a mulher, já que muitos fatores influenciam este tipo de violência, desde aspectos históricos que envolvem papéis sociais, desigualdade e a questão de gênero.

A violência doméstica por estar diretamente ligada aos conflitos de gênero os quais envolvem, além de aspectos sócio-culturais, também questões psicológicas e afetivas das partes envolvidas, ocorrendo na maior parte das vezes no âmbito familiar, apresentam uma maior complexidade do que as outras formas de violência.

Assim, verifica-se que a situação das mulheres submetidas à violência doméstica e familiar decorrem de complexos processos históricos que sucedem a composição da sociedade com um desenvolvimento desigual e discriminado. Ainda, se percebe que o pensamento patriarcal, ainda persiste.

Constata-se a necessidade da formação de uma estrutura capaz de colocar- se como alternativa ao sistema de justiça retributiva, uma vez que a mesma não parece oferecer qualquer resultado, seja na recuperação do ofensor, seja na reparação da vítima, seja na diminuição dos crimes, ou mesmo na construção de uma cultura de paz.

Nesse cenário, visando o enfrentamento, redução e prevenção dos índices de violência, desponta a justiça restaurativa como um mecanismo que prioriza as necessidades da vítima, por meio de seus princípios, valores e procedimentos, com a finalidade de reparação do dano e principalmente de prevenção.

Para além da cura e reparação dos danos e do rompimento dos laços do ciclo de violência, as práticas restaurativas também buscam o empoderamento da mulher,

para que consiga lidar com a violência e defender seus interesses, não mais se submetendo a qualquer tipo de opressão.

Políticas públicas e projetos sobre Justiça Restaurativa, tem se mostrado um grande aliado, seja no âmbito da prevenção como na resolução de casos mais complexos, como na resolução. Nesse sentido, fica claro que a Justiça Restaurativa quando operada de forma adequada, se mostra uma alternativa eficiente frente aos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, já que na sua essência se procura a promoção de uma justiça humanizada baseado em princípios e valores.

REFERÊNCIAS

BIANCHINI, Edgar Hrycylo. Justiça Restaurativa: um desafio à práxis jurídica. Campinas. São Paulo: Servanda Editora, 2012.

BITTENCOURT, Ila Barbosa. Justiça restaurativa. Tomo Teoria Geral e Filosofia

do Direito. 2017. Disponível em :

https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/138/edicao-1/justica-restaurativa. Acesso em: 10 nov 2019.

BRASIL. Decreto nº 1.973, de 1º de agosto de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1996/D1973.htm, Acesso em: 01 out 2019.

BRASIL. Decreto nº 4.377, de 13 de setembro de 2002: Promulga a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, e revoga o Decreto no 89.460, de 20 de março de 1984. 2002. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4377.htm. Acesso em: 01 out 2019.

BRASIL. Lei 11.340/2006. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em 29 set 2019.

BRASIL. Lei 12.594/2012. Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12594.htm. Acesso em: 18 jun 2019.

BRASIL. Lei 13.104/2015. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm. Acesso em

Documentos relacionados