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2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA JUSTIFICATIVA, FUNDAMENTOS E

2.1 INVISIBILIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO RURAL: POR UMA

2.1.1 A Legislação Brasileira e os Direitos das Pessoas com Deficiência

Embora os instrumentos legais do país, desde a primeira Constituição Federal de 1824, mantidos nas de 1934, 1967 e 1988, exponham a questão da igualdade perante as diferenças físicas, em termos de estatísticas e levantamentos demográficos, a inexistência de uma definição mais específica para o que deve ser considerado deficiência produziu e ainda produz dados inexatos. (DINIZ; MEDEIROS, 2004).

A Constituição Federal de 1988 traz a base legal necessária para o desenvolvimento de políticas públicas para pessoas com deficiência, com alguns artigos específicos para este grupo. Dentre os Direitos Sociais, o inciso XXXI do art. 7º proíbe qualquer discriminação em relação a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência. O inciso II do art. 23º prevê que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios tratarem da saúde e assistência pública, da proteção e da garantia dos direitos das pessoas com deficiência. O inciso XIV do art. 24º define que é competência da União, dos Estados e do Distrito Federal legislar concorrentemente sobre a proteção e integração social das pessoas com deficiência. O art. 37º trata da reserva de percentual de cargos e empregos públicos às pessoas com deficiência. O inciso V do art. 203º confere o direito a um salário mínimo às pessoas com deficiência que comprovem não possuir meios de se manter. Em relação ao direito à educação, o art. 208º garante o atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência. O art. 227º confere a necessidade de eliminação de obstáculos arquitetônicos bem como veículos adaptados de transporte coletivo. (BRASIL, 1988).

A partir da Constituição Federal e das garantias apresentadas no parágrafo anterior, a luta política em prol das pessoas com deficiência e seu reconhecimento e visibilidade enquanto ator social deram um passo importante em 24 de outubro de 1989, com a lei nº 7.853, que estabelece o “pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiências, e sua efetiva integração social”. O artigo 17º da referida lei cria a obrigatoriedade de incluir nos censos demográficos questões específicas sobre “pessoas portadoras de deficiência”, no intuito de quantificar e conhecer sua realidade social e econômica, sem, no entanto, determinar como seria a forma de coleta. (BRASIL, 1989). Com isso, no Censo de 1991 foi inserida uma pergunta sobre o número de portadores de deficiência

subdividida em mental, sensorial (cegueira e surdez) e física (paralisia total, paralisia em um dos lados, paralisia das pernas, falta de membro ou parte dele). Naquele momento, os resultados mostraram que 1,15% da população brasileira do período de referência possuíam algum tipo de deficiência. (IBGE, 1991).

Seguindo tendências mundiais, o censo demográfico de 2000 não se limitou a identificar apenas pessoas com algum tipo de lesão e utilizou dois blocos de perguntas. Um deles baseado nas pesquisas anteriores, relacionado aos atributos corporais e outro com base em uma escala gradativa de dificuldade para realização de tarefas – percepção dada pelo respondente do questionário –, mantendo o critério da permanência, já inexistente nos censos de muitos outros países. Por exemplo, o censo americano prevê questões relacionadas à dificuldade para ouvir, enxergar, locomover-se e comunicar-se, diferenciando entre severa e não severa, sem especificar um critério de permanência. (US CENSUS BUREAU, 2010). Com a adoção do novo bloco de questões, o resultado do censo de 2000 foi aproximadamente 12 vezes maior que os levantamentos anteriores: 14,5% de pessoas com deficiência.

O Censo de 2010 baseou-se nos critérios e definição do Censo de 2000 agrupando em quatro questões que tratavam sobre deficiência auditiva (DA), visual (DV), intelectual (DI) e motora (DM), respondidas pelo entrevistado. O uso da percepção como forma de responder aos questionamentos sobre dificuldade de realizar tarefas corre o risco de produzir informações imprecisas e subjetivas. A respeito disso, Medeiros e Diniz (2004) consideram que assim como as tentativas de propor esquemas de captação de informação “objetiva” (isto é, independentemente de julgamento dos respondentes) sobre cor ou raça mostraram-se ineficientes, a busca por critérios “objetivos” para identificar a dificuldade a partir de características pessoais seria algo de pouca utilidade quando se considera que o grau de desvantagens de PCDS depende do contexto em que vivem. (MEDEIROS; DINIZ, 2004).

Em 1993 surge a legislação que trata de uma Política Nacional através do decreto nº 914 de 6 de setembro que, no seu artigo 2º reforça o modelo médico e a temporalidade, indicando – também para os levantamentos demográficos – que:

Pessoa portadora de deficiência é aquela que apresenta, em caráter permanente, perdas ou anormalidades de sua estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, que gerem incapacidade para o

desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano. (BRASIL, 1993).

Este conceito geraria a necessidade de um novo: o que é “padrão considerado normal” para o ser humano? Ou será que o decreto refletia a exigência de um padrão “moral”? No século XXI, após tantas conquistas do pensamento humano, seria praticamente impossível definir um padrão humano normal, como pode ser admitido em séculos anteriores.

No mesmo ano, é criada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), nº 8.742 de 7 de dezembro de 1993, que prevê a concessão de benefícios assistenciais à pessoa portadora de deficiência, sendo estas identificadas de acordo com o modelo de atenção à saúde vigente: o biomédico. Para auxiliar a caracterização e o repasse de benefícios, a lei define como “pessoa portadora de deficiência aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho”. Ficou determinado que a comprovação da deficiência seria feita mediante avaliação de uma equipe do SUS ou do INSS. (BRASIL, 1993).

Mais tarde o decreto nº 1.744 de 8 de dezembro de 1995 define como pessoa portadora de deficiência “aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho em razão de anomalias ou lesões irreversíveis de natureza hereditária, congênitas ou adquiridas, que impeçam o desempenho das atividades da vida diária e do trabalho”. Esta caracterização indica novamente a necessidade da permanência mas não necessariamente do tipo de lesão. Além disso, caso o beneficiário viesse a ter maior participação social – inclusive através do exercício de um trabalho remunerado – perderia o direito ao benefício, não importando que sua limitação exigisse cuidados ou custos maiores que de outro indivíduo, tampouco considerando que a renda familiar mínima para o benefício era de um quarto (¼) do salário mínimo! (BRASIL, 1995).

O decreto nº 3.298 de 20 de dezembro de 1999 traz as seguintes definições (BRASIL, 1999):

- deficiência: perda ou anormalidade de sua estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, que gerem incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano.

- deficiência permanente: ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos.

- incapacidade: uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa

receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. (BRASIL, 1999).

Para Medeiros e Diniz (2004), este decreto utiliza um critério rigoroso (permanência) ao lado de um critério vago (incapacidade de integração social) tornando ainda mais complexa a definição de deficiência que acaba por restringir-se novamente às características corporais.

Através da Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, da Organização dos Estados Americanos (OEA), da qual o Brasil é signatário, o termo deficiência “significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social” (OEA, 1999).

Segundo Medeiros e Diniz (2004) esta convenção provocou uma ação civil pública que forçou uma adequação, na LOAS, acerca dos critérios de incapacidade para a vida independente e o trabalho. A redação atual da LOAS é dada pela lei 12.435 de 6 de julho de 2011 e define que pessoa com deficiência é aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2011).

Esta lei estabelece ainda, que impedimentos de longo prazo são “aqueles que incapacitam a pessoa com deficiência para a vida independente e para o trabalho pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos”. Além disso, a nova redação passa a permitir que, caso o indivíduo exerça atividade remunerada seu benefício será suspenso, no entanto retomará o direito ao auxílio logo após cessar a relação trabalhista, sem necessidade de nova perícia, o que anteriormente não era possível. (BRASIL, 2011).

Devido à migração conceitual entendendo a deficiência enquanto incapacidade da sociedade, outro termo que vem sendo utilizado está ligado à acessibilidade e também já está detalhado na legislação. A acessibilidade foi inicialmente definida no Brasil na lei 10.098 de 19 de dezembro de 2000 como sendo a “possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes

e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida”. Define ainda que barreiras são qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento e a circulação com segurança das pessoas, classificadas em arquitetônicas urbanísticas, na edificação, nos transportes e nas comunicações. (BRASIL, 2000).

Como forma de auxiliar nos projetos e na fiscalização dos elementos que permitam a acessibilidade, foi redigida em 2004 a Norma Brasileira Operacional (NBR) 9050, um manual sobre acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. (ABNT, 2004). Assim, o país procura adequar-se para permitir a universalização do acesso a direitos constitucionais, especialmente àqueles que eram considerados incapacitados.

Enquanto a legislação aborda aspectos genéricos sobre as pessoas com deficiência, algumas das conquistas são de grupos específicos. Por exemplo, a promulgação da Lei nº 10.643, em 24 de abril de 2002, reconhecendo a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como meio legal de comunicação e expressão, garantindo atendimento em serviços públicos de saúde e educação. Ou ainda a Lei nº 11.126 de 27 de junho de 2005, que dispõe sobre o direito das pessoas com deficiência visual acessarem e permanecerem em ambientes acompanhados de cão-guia. Em 2012, diante do aumento de casos de pessoas com transtorno do espectro autista e a participação política de grupos sociais em defesa dos direitos destas pessoas, é aprovada em 2012 a Lei nº 12.764, assegurando os aspectos legais direcionados às pessoas com deficiência também àqueles diagnosticados com o transtorno (BRASIL, 2012). De acordo com pesquisa de Mello et al (2013), estimava-se que em 2010 no Brasil mais de 1,1 milhão de pessoas eram autistas (0,62% da população), representando uma parcela que até então não tinha direito a benefícios como o BPC, atendimento educacional especializado, entre outros.

Quando o assunto é educação, a Lei nº 10.845 de 5 de março de 2004 institui o Programa de Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência. Através dele, o governo federal repassa recursos financeiros às instituições públicas de ensino para contratação de professores e profissionais especializados, realização de reformas e construções para eliminar barreiras arquitetônicas e ainda oferta de transporte escolar adaptado. Estas ações buscam garantir a universalização no atendimento educacional, pois é um direito de todos os brasileiros.

Com o objetivo de promover o acesso aos direitos das pessoas com deficiência e cumprir os termos da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, foi lançado em 2011 o Plano Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência – Viver Sem Limites, através do Decreto nº 7.612. O Plano, ainda em vigor, é de composição intersetorial e conta com a participação de 15 Ministérios, através de quatro eixos de atuação – atenção à saúde, acesso à educação, inclusão social e acessibilidade – cujos objetivos contemplam direitos como trabalho, habitação, educação, saúde, assistência social, entre outros. (BRASIL, 2011). De acordo com o art. 2º do plano Viver Sem Limites, pessoa com deficiência é aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2011).

Dentre as ações incentivadas através do Plano Viver Sem Limites, destacam-se os recursos para (BRASIL, 2013):

a) Educação: Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), cuja meta era disponibilizar 150 mil vagas até o ano de 2014, de forma gratuita e com incentivos para custos de deslocamento e alimentação. Implantação de salas de recursos multifuncionais e núcleos de acessibilidade nas escolas. Adequação do transporte escolar acessível.

b) Inclusão social: fomento ao BPC Trabalho, residências inclusivas, implantar em cada unidade da Federação os Centros-Dia (para ofertar cuidados pessoais e atividades de convivência às pessoas com deficiência).

c) Acessibilidade: construção de casas adaptáveis no Programa Minha Casa Minha Vida, com espaço para manobra de cadeira de rodas e kits de adaptação conforme o tipo de deficiência. As moradias são destinadas a famílias com rendas mensais de até R$ 1.600,00. Implantação de centros tecnológicos de formação de cães-guia e instituição do Programa Nacional de Inovação em Tecnologia Assistiva. Linhas de microcrédito a partir de R$ 70,00 até R$ 30.000, para aquisição de cadeiras de rodas motorizada, computador portátil

Braille, software de comunicação alternativa, adaptação para veículos.

d) Saúde: criação da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência e dos Centros Especializados em Reabilitação. Identificação e prevenção das deficiências. Revisão do Plano Nacional de Triagem Neonatal. Aquisição de veículos para transporte de pessoas com deficiência que não apresentam condições de mobilidade e acessibilidade de forma autônoma. Ampliação da oferta e distribuição de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção, com inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS).

Para completar o breve resgate sobre a evolução da legislação para pessoas com deficiência no Brasil, é preciso mencionar a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, promulgada no ano de 2015, sob nº 13.146. Decorrente das discussões do Estatuto da Pessoa com Deficiência, esta lei determina que a avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, levando em consideração os impedimentos físicos, os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais, a limitação no desempenho de atividades e a restrição de participação. Para reforçar os direitos das pessoas com deficiência, com base na Convenção Internacional e na Constituição Federal, são elencados o direito à vida, à habilitação e reabilitação, à saúde, à educação, à moradia, ao trabalho, à assistência social, ao transporte e mobilidade, à cultura, esporte, turismo e lazer. (BRASIL, 2015).

Com base nessas informações se reconhece que a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência avança na garantia dos direitos, pois não se restringe a listar os direitos, mas também traz determinações práticas que a sociedade como um todo deverá adequar. Resta verificar se tais ações ocorrem de forma efetiva no dia a dia das pessoas as quais estas adequações poderão fazer diferença para expansão de suas liberdades e, no caso da presente pesquisa, como ocorrem nas áreas rurais.

De modo a facilitar a visualização da evolução da legislação apresentada neste subtítulo, o quadro 1 sintetiza as principais leis no Brasil que dizem respeito à garantia dos direitos das pessoas com deficiência.

Quadro 1 - Principais instrumentos legais relacionados às pessoas com deficiência no Brasil

Documento Elementos presentes

CF 1988

Art. 6º: Direitos Sociais

Arts. 23º e 24º: Compete ao Estado garantir os direitos das PCDs e legislar

Art. 37º: reserva em cargos e empregos públicos Art. 203º: direito ao salário mínimo

Art. 208º: Atendimento educacional especializado Art. 227º: eliminação de barreiras arquitetônicas e transporte coletivo adaptado

Lei nº 7.853/1989

Pleno exercício dos direitos individuais e sociais de PCD e sua efetiva integração social.

Art. 17º: obrigatoriedade de incluir nos censos demográficos questões específicas.

Lei nº 8.742/1993 (LOAS) Concessão de benefícios assistenciais. Deficiência como incapacidade para vida independente e trabalho. Impede qualquer relação de trabalho.

Lei nº 10.098/2000

Define acessibilidade: condição de uso de forma autônoma de espaços, mobiliários, edificações, transportes, comunicação.

Lei nº 10.436/2002

Reconhece LIBRAS como meio legal de comunicação e expressão, garantindo o atendimento em serviços públicos de saúde e educação

ABNT NBR 9050/2004 Manual sobre acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.

Lei nº 10.845/2004

Institui o Programa de Complementação ao AEE às PCDs, com recursos às instituições públicas de ensino para garantir a universalização do atendimento

educacional. Lei nº 12.435/2011 (nova redação LOAS)

Definição de PCD: impedimentos de longo prazo - 2 anos – (física, mental, intelectual ou sensorial) que podem obstruir a participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições.

Permite trabalhar e voltar a receber o benefício. Decreto 7.612/2011

Plano Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência – Viver sem Limites: atenção à saúde, educação, inclusão social e acessibilidade.

Lei nº 13.146/2015 Estabelece a Lei Brasileira da Inclusão, com avaliação biopsicossocial e discorre sobre os direitos das PCDs. Fonte: elaborado pela autora, pesquisa documental, Porto Alegre, 2016.

Portanto, na perspectiva dos documentos relacionados com base na legislação nacional, as pessoas com deficiência têm direitos específicos mas, ainda assim, devido a sua condição física ou intelectual, limitam sua participação na sociedade e o acesso aos direitos são limitados. O contexto legal reconhece as vulnerabilidades desses indivíduos, visto que seus recursos e capacidades não são equivalentes aos demais cidadãos.

Assim, gradualmente o Brasil adota o modelo social como referência para compreender o significado da deficiência, identificando que a incapacidade não está no indivíduo, mas sim na sociedade em não conseguir criar condições inclusivas

para todos, propondo mudanças que visem a reduzir as barreiras arquitetônicas e atitudinais. Dessa forma, reconhecer a existência de necessidades específicas parece ser o ponto inicial para que políticas públicas sejam formuladas levando em consideração demandas reais, eliminando barreiras impostas pela sociedade, reestruturando seus valores e suas atitudes. No entanto, esse é um passo nessa direção que não garante, na prática, ações concretas.

No que diz respeito ao meio rural, praticamente inexistem determinações legais para as pessoas com deficiência que residem neste espaço geográfico e geopolítico. Seguindo os termos da Convenção Internacional, a Lei Brasileira de Inclusão assegura, no artigo 3.1 que a acessibilidade é um aspecto a ser buscando tanto nas zonas urbanas quanto rurais. (BRASIL, 2015). Portanto, não é adequado falarmos sobre igualdade entre as pessoas se a legislação não se propõe a permitir que a ideia de igualdade deve partir do entorno, da oferta de serviços e o acesso aos direitos, não estando presente apenas nos textos legais.

Neste novo cenário, o entendimento a respeito do tema desenvolvimento não tem mais espaço ao focar seu significado exclusivamente na capacidade econômica e produtiva dos indivíduos e regiões, devendo ampliar sua percepção com base na capacidade das pessoas em buscar melhores condições e qualidade de vida.

No intuito de avançar na questão possibilitando diálogos da temática exposta com a ideia de desenvolvimento social ampliado, serão apresentadas e discutidas ideias de alguns autores que, em nosso entendimento, contribuem para as discussões da problemática na ótica em que está sendo construída e consequentemente para a formulação dos objetivos investigativos deste estudo, a serem apresentados ao final.

2.1.2 Desenvolvimento para quem? Reflexões sobre meios de vida,