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3. O Processo de execução fiscal

3.4. A legitimidade

A legitimidade processual é aferida em função de quem figura no título executivo como credor e devedor, sendo que ele define, logo à partida, o âmbito subjetivo da execução. Diferentemente é a legitimidade para promover a execução, esta caberá à Administração Tributária que tem uma “legitimidade por inerência”, existindo um desvio no caso de o processo decorrer no tribunal tributário, em que a competência será do ministério público84.

A condição de executado no processo de execução fiscal depende da qualidade de sujeito passivo da relação jurídica tributária, pois, como sabemos, dela podem fazer parte uma pluralidade de sujeitos passivos diretos ou indiretos. Em execução fiscal, podem ser executados e de acordo com o art.º 153.º n.º 1 do CPPT, os sujeitos passivos diretos, os seus sucessores85 e os responsáveis tributários, desde que preenchidos os requisitos para o seu chamamento ao processo.

No caso dos responsáveis tributários, primeiramente, tem de existir uma excussão do património do sujeito passivo direto e apenas após a verificação da insuficiência patrimonial deste é que existirá o ato de reverão e a consequente alteração subjetiva da instância86.

84 Cfr. ROCHA,JOAQUIM FREITAS DA, “Lições de Procedimento e Processo tributário”, 5.ª edição, Coimbra, Coimbra editora, 2014,

p. 332.

85 Quando se verificar que a pessoa constante no título executivo como devedor faleceu, o processo de execução fiscal correrá contra

os sucessores da mesma, salientando-se que a responsabilidade do sucessor é limitada à herança recebida, tal como disposto no art.º 2071 do CC. V. neste sentido PAIVA,CARLOS, “O processo de execução fiscal”, 4.ª edição, Coimbra, Almedina, 2016, p. 142. E ainda, ROCHA,JOAQUIM FREITAS DA, “Lições de Procedimento e Processo tributário”, 5.ª edição, Coimbra, Coimbra editora, 2014, pp. 314 – 315.

86 Os responsáveis tributários serão chamados ao cumprimento da divida tributária com o seu património assim que se verifiquem os

requisitos do art.º153.º nº 2 “ O chamamento à execução dos responsáveis subsidiários depende da verificação de qualquer das seguintes circunstâncias: a)Inexistência de bens penhoráveis do devedor e seus sucessores; b) Fundada insuficiência, de acordo com os elementos constantes do auto de penhora e outros de que o órgão da execução fiscal disponha, do património do devedor para a satisfação da dívida exequenda e acrescido”. Em conjugação com o º23.º, nº 2 da LGT, e dependendo do tipo de responsabilidade que está em causa os artigos 24.º e ss da LGT.

3.4.1. Legitimidade dos exequentes

3.4.1.1. Legitimidade para promover a execução fiscal

Tal como já referido, tem legitimidade para instaurar o processo de execução fiscal o órgão de execução fiscal e ainda o ministério público quando os processos corram em tribunais comuns. Considerando-se órgão de execução fiscal, pelo previsto no art.º 149.º do CPPT, o serviço da Administração Tributária onde deva legalmente correr a execução, competindo ao órgão de execução fiscal a prática de atos no âmbito do processo de execução fiscal.

3.4.1.2. Legitimidade para promover a execução fiscal por dívidas à segurança social

Quando a dívida exequenda seja uma dívida à segurança social, a competência para instaurar o processo de execução fiscal fica a cargo do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, assim como a sua tramitação e prática de atos necessários. Assim, o órgão de execução fiscal não será o serviço de finanças territorialmente competente conforme o previsto no art.º 150.º CPPT, mas sim “a delegação do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social do distrito da sede ou da área de residência do devedor”87.

3.4.1.3. Legitimidade das autarquias locais para intervirem no processo de execução fiscal:

A lei 73/2013 de 3 de setembro estabelece o regime financeiro das autarquias locais e entidades intermunicipais, prevendo no art.º 15.º os poderes tributários atribuídos às autarquias quanto a impostos ou outros tributos dos quais tenham direito à receita, bem como poderes relativamente à cobrança coerciva dos mesmos. Nesse sentido, também a lei 53- E/2006 de 29 de dezembro, no art.º 12.º nº 2 indica que “as dívidas que não forem pagas voluntariamente são objecto de cobrança coerciva através de processo de execução fiscal, nos termos do Código de Procedimento e de Processo Tributário”.

Em suma, pela análise das leis referidas, às autarquias locais é-lhes atribuída competência para intervir no processo de execução fiscal quando se executem dívidas tributárias das quais beneficiarão da arrecadação de receita88. No capítulo seguinte analisamos o processo de execução fiscal ao nível das autarquias locais e as ilegalidades que podem surgir nesse âmbito.

3.4.1.4. Legitimidade para a representação do exequente na fase judicial:

Decorre expressamente do art.º 103.º nº 1 da LGT que o processo de execução fiscal, apesar da forte “componente não jurisdicional”, é uma verdadeira ação judicial. Apesar do enunciado, a intervenção do tribunal tributário apenas vai ocorrer se o executado diligenciar nesse sentido, e caso o faça, torna-se fundamental verificar quem vai representar o exequente perante o mesmo, e como nos indica SERENA CABRITA NETO

e CARLA CASTELO TRINDADE, tal dependerá do órgão de execução fiscal em causa, e por

vezes do credor tributário da dívida exequenda89.

Quando o órgão de execução fiscal corresponder ao serviço de finanças que seja competente nos termos do art.º 151.º do CPPT, terá legitimidade processual para representar a Administração Tributária o representante da fazenda pública, de acordo com o previsto no art.º 15.º n.º 1 a) do CPPT.

No caso de a tramitação da execução fiscal não estar a cargo do serviço de finanças da autoridade tributária, por estarmos perante dívidas à segurança social – em que o órgão de execução fiscal será o instituto de Gestão Financeira da Segurança Social – ou município ou outra entidade de direito público, a representação destas entidades fica a cargo de mandatário judicial e não pelo representante da fazenda pública. Nestes termos, também quando o processo de execução fiscal que seja tramitado pelo serviço de finanças da Autoridade Tributária e Aduaneira, mas cujo credor não seja a Administração Tributária, mas sim outra entidade de direito público, o representante será mandatário judicial a designar pelo credor90.

88 Vd. Neste sentido SOUSA,JORGE LOPES DE,“Código de procedimento e processo anotado e comentado”, Vol. III, 6.ª Edição,

Lisboa, Áreas, 2011, p. 243.

89Cfr., NETO,SERENA CABRITA,TRINDADE,CARLA CASTELO, “Contencioso tributário: Princípios do processo tributário: Vol.II”,

Coimbra, Almedina, 2017, p. 526.