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A automação do ato administrativo-tributário aplicado ao processo de execução fiscal:

4. Prerrogativas do processo de execução fiscal

4.3. Automação administrativa:

4.3.1. A automação do ato administrativo-tributário aplicado ao processo de execução fiscal:

Existia até 2003, uma relação desproporcional entre o volume de cobranças pendentes e os meios humanos e informáticos. No sentido de que, as dívidas tendiam a aumentar exponencialmente, enquanto os meios humanos e informáticos ao dispor da administração tributária para efetuar a cobrança continuavam estagnados e obsoletos. Estas condições favoreciam a ideia generalizada de não pagamento das dívidas ao Estado, pelo facto de ao não cumprimento não estar associado um processo executivo capaz de persuadir e levar, em primeiro lugar, a um cumprimento voluntário e posteriormente a uma cobrança coerciva eficaz.

O “cantar dos cisnes” 111 que fez impulsionar a reforma da execução fiscal em Portugal que vem ocorrer em 2005, foi o processo de securitização da dívida do Estado, no qual o Estado português vendeu treze mil milhões de dívida a um sindicato bancário, o qual posteriormente a poderia revindicar, ficando o Estado com a obrigação de proceder à cobrança e à canalização da receita arrecadada para as entidades adquirentes da dívida. Tal como JOSÉ FERNANDES PIRES nos indica, as transformações ocorridas consistiram na automatização e informatização do processo. Nesse sentido, em 2005, o sistema de cobrança sofreu profundas alterações de forma a suprir as suas insuficiências. A reforma teve como grande conquista, o escoamento de processos e a libertação de recursos humanos para a realização de atos decisórios112.

Este aumento da eficácia de cobrança leva a que, em 2010, seja solicitado pela Assembleia da República o processo de auditoria 40/2010, interposto no Tribunal de Contas, o qual posteriormente originou o relatório nº 25/2011. Esta auditoria visava a fiscalização e o controlo dos sistemas informáticos desenvolvidos para a tramitação do processo de execução fiscal, em especial do ato de penhora. As conclusões mais relevantes apresentadas foram: o SIPA (Sistema Informático de Penhoras Automáticas), que tem por objetivo apoiar a realização de penhoras, de forma sistemática e generalizada, em todos os processos de execução fiscal. Compete ainda a esta plataforma informática, proceder à comunicação dos atos processuais aos devedores e as entidades externas,

111 Expressão utilizada por JOSÉ MARIA FERNANDES PIRES na sessão do centro de estudos judiciários realizada a 22 de abril de 2016.

Disponível em suporte digital: https://educast.fccn.pt/vod/clips/c7qcawym7/flash.html.

112PIRES,JOSÉ MARIA FERNANDES,“A tramitação da execução fiscal nos serviços da Administração tributária” in Procedimento e

disponibilizando ao órgão de execução fiscal a informação, por devedor, sobre as dívidas e os ativos penhoráveis constantes do CEAP (Cadastro Eletrónico de Ativos Penhoráveis), produzindo de forma automática, a comunicação processual a dirigir às entidades externas e procedendo ao tratamento das respetivas respostas. Além disto, o SIPA alerta, ainda, para a insuficiência patrimonial registada de forma a mitigar o risco de penhoras indevidas, para proceder às indemnizações dos lesados 113.

Desta forma, a reforma efetuada teve como princípio base a criação de um modelo eletrónico de tramitação, que se oporia a um modelo manual, em que a instauração da execução apenas ocorreria se um funcionário a realizasse manualmente, levando assim a um esgotamento dos recursos humanos logo neste primeiro passo.

Além das conclusões da auditoria, o autor referido indica-nos que outra grande conquista foi o trabalho em rede de todos os serviços, cruzando dados entre as várias repartições dos serviços da administração tributária. Para auxiliar nesta demanda de trabalho em rede surge o SEFWEB (Sistema de Execuções Fiscais em Ambiente web) que funciona em rede com todos os serviços da DGCI e regista todos os atos praticados no processo. Este sistema instaura eletronicamente e automaticamente a execução fiscal por dívidas fiscais, bastando para isso que seja ultrapassado o prazo para pagamento voluntário, e sem qualquer intervenção de funcionário, a execução é instaurada. Existindo, neste caso, a necessidade de proceder à Comunicação com o SECIN (Sistema Eletrónico de Citações e Notificações), ao qual compete realizar a citação para o correio eletrónico dos devedores.

Contudo, este programa não se basta nesta funcionalidade, pois caso tenham as comunicações sido realizadas pelos correios, comunica com estes para a obtenção de informação quanto ao estado da correspondência, de forma a se iniciar a contagem dos prazos de forma, também ela automática114.

Quanto ao ato de penhora, também os sistemas informáticos vão ter um papel fundamental para a celeridade do processo de execução fiscal. Tendo o órgão de execução ao seu dispor o SIPE (Sistema Informático de Penhora Eletrónico), bem como, no caso

113 Cfr. Tribunal de contas auditoria sobre o Sistema Informático de Penhoras Automáticas (SIPA) relatório nº 25/2011. Disponível:

http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2011/2s/audit-dgtc-rel025-2011-2s.pdf [2/2/2017].

114 PIRES,JOSÉ MARIA FERNANDES,“A tramitação da execução fiscal nos serviços da Administração tributária” in Procedimento e

de deteção dos bens e direitos penhoráveis o órgão de execução fiscal ter ao seu dispor o REDET (Rede de Transmissão de Dados de Entidades Terceiras), este sistema assegura a atualização dos dados relativos ao património do devedor, recebendo a informação de entidades terceiras, tais como, entidades bancárias, relativamente a ações e valores mobiliários, contas bancárias registadas, produtos de poupança... E ainda de entidades seguradoras e contas poupança-reforma, entre outras.

A informação recolhida na REDET é canalizada para o CEAP, tendo este como função registar e guardar de forma automática e permanente todos os bens e direitos penhoráveis pertencentes ao devedor. Este último sistema referido é um importante auxiliar para a realização das penhoras, no qual o funcionário apenas tem de selecionar quais os bens que pretende penhorar. Após essa seleção, o CEAP emite notificações para as entidades terceiras em suporte de papel, e simultaneamente em suporte digital, para as entidades que tenham acesso ao portal das finanças, tendo como vantagem nesta situação a possibilidade de resposta por este mesmo meio. Esta troca de informações entre a entidade terceira prestadora de informação através o portal das finanças torna mais fácil o registo no caso de bens sujeitos ao mesmo. Contudo, e no caso de a penhora incidir sobre bens ou direitos convertíveis em dinheiro, as entidades notificadas efetuam através da internet a transferência dos mesmos115.

No que concerne à venda executiva, também nesta fase a informática é fundamental para a celeridade e rapidez que caracteriza este processo, pois a venda dos bens é gerida pela plataforma SIGVEC (Sistema informático de Gestão e Vendas Coercivas), a qual vai difundir os anúncios relativos às vendas pela internet.

No caso de insuficiência patrimonial do executado, devedores solidários ou responsáveis tribuários, como veremos infra de forma mais detalhada, é emitida a declaração em falhas, ficando o processo de execução fiscal suspenso à espera da entrada de bens no património do devedor. No sentido de gerir e verificar se existe nova entrada de ativo no património do devedor, existe o Sistema de Gestão da Declaração em falhas, que permite efetuar a identificação automática desse acréscimo.

115Cfr. Idem Ibidem, p.38.

Os esquemas seguintes são ilustrativos da importância que as plataformas informáticas representam, para a eficácia da cobrança efetuada mediante o processo de execução fiscal.

Figura 1- Fluxos de informação da penhora e principais sistemas informáticos

Fonte :http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2011/2s/audit-dgtc-rel025-2011-2s.pdf

Fonte: http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2011/2s/audit-dgtc-rel025-2011-2s.pdf Atendendo ao exposto, verifica-se que atualmente se informatizaram praticamente todos os trâmites do processo de execução fiscal, reduzindo a intervenção humana a um

papel secundário116. A economia e a celeridade processual estão “a ser obtidas através da desmaterialização do processo”117, devendo o legislador e a própria administração atender às “inúmeras injustiças que se cometem e que nenhuma boa vontade consegue reparar porque a máquina, no seu eterno movimento, se recusa a parar ou a reverter, exclusivamente por ausência de comandos que o permitam118”.

Em face destas características referidas associadas à celeridade e automação dos seus atos no âmbito do processo de execução fiscal, podemos considerar que estamos na presença de um “super processo” ao qual todos os credores gostariam de aceder. É de realçar que as suas prerrogativas não se limitam às referidas, acresce a estas, o facto de no seu âmbito não se discutir a legalidade da dívida exequenda, exceto e de encontro com o previsto no art.º 204.º nº 1, al) h, quando a lei não tenha previsto outro meio de judicial de impugnação ou recurso para o fazer, e no caso de se verificar essa possibilidade de dedução de oposição tem a sua autuação e tramitação autónoma, como veremos de seguida119.

116 Cfr. FAUSTINO,MANUEL, “O dia em que o fisco vendeu casa de família por dívida de 1900 euros”, in Contabilista nº195, 2016.

p. 34.

117 Vd. Neste sentido, PAIVA,CARLOS, “O processo de execução fiscal”, 4.ª edição, Coimbra, Almedina, 2016, p.160. A utilização e

o beneficio associado à prática de atos informáticos não se verifica apenas a favor da administração tributária, mas pode também beneficiar o executado, ora vejamos o acórdão de 22 de fevereiro de 2012 do TCA-Norte onde se entendeu que é possível a expedição da petição inicial por correio eletrónico para o serviço de finanças, pois aplicando-se subsidiariamente ao processo judicial tributário o disposto no artigo 150.º do CPC. “Nem seria compreensível solução diferente na era da desmaterialização dos processos, não só judiciais como administrativos. Saliente-se que no procedimento administrativo o legislador pretendeu através do DL n.º 135/99, de 22 de Abril, estabelecer medidas de modernização administrativa, designadamente no que toca à comunicação administrativa, tornando-se aplicável a todos os serviços da administração central, regional e local, bem como aos institutos públicos (artigo 1.º). E entre as medidas implementadas conta-se o artigo 26.º que, em matéria de comunicação administrativa, estabelece a possibilidade de transmissão de correspondência por correio electrónico, dispondo o seu n.º 2 que a correspondência transmitida por via electrónica tem o mesmo valor da trocada em suporte de papel, devendo ser-lhe conferida, pela Administração e pelos particulares, idêntico tratamento. Concluímos, assim, pela validade da remessa da petição de oposição por correio electrónico para o Serviço de Finanças e, consequentemente, pela tempestividade da petição.”

118 Cfr. FAUSTINO,MANUEL, “O dia em que o fisco vendeu casa de família por dívida de 1900 euros”, in Contabilista nº195, Lisboa,

2016. , p. 36.

119 Cfr. MARTINS,JESUÍNO ALCÂNTARA,ALVES,JOSÉ COSTA,“Procedimento e processo tributário: uma perspetiva prática”,

4.4. A discussão da legalidade da dívida e a prestação de garantia no