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Deste princípio decorre que o interessado terá de utilizar o meio processual adequado previsto na lei para atacar determinado ato. Dito isto, pode ocorrer a situação de o interessado ter de utilizar formas processuais distintas, mesmo existindo uma relação de prejudicialidade ou dependência 49. Porém, existem sinais no contencioso tributário de alguma flexibilização ao princípio da tipicidade das formas processuais como a figura da convolação, da correção da petição inicial e aplicação do princípio da adequação formal no processo tributário, por força do art.º 2.º e) do CPPT. Este princípio exige que o juiz tenha uma perspetiva crítica quanto às regras processuais, e quando a tramitação não se adequar às especificidades da causa, deve o juiz oficiosamente, e após ouvir as partes, proceder às alterações necessárias para respeitar a finalidade do processo50.

48 Idem Ibidem. p. 41. E ainda ROCHA,JOAQUIM FREITAS DA, “Lições de Procedimento e Processo tributário”, 5.ª edição, Coimbra,

Coimbra editora, 2014, p. 254.

49 Cfr. NETO,SERENA CABRITA,TRINDADE,CARLA CASTELO, “Contencioso tributário: Princípios do processo tributário: Vol.II”,

Coimbra, Almedina, 2017, p. 41.

Em suma, colocamos em relevo a dimensão qualitativa e quantitativa do princípio da adequação do processo à situação substancial, assim como, a importância da necessidade de conjugação das duas dimensões. Verificamos ainda que, na dimensão qualitativa, existe a necessidade de utilização de meios que tenham a sua tramitação processual formatada de acordo com os requisitos da adequação subjetiva, objetiva e teleológica, de forma a que se permita a salvaguarda dos direitos dos sujeitos processuais. Quanto à dimensão quantitativa, averiguamos a necessidade da existência de uma panóplia de processos que assegurem possibilidades de reação por parte do lesado.

4. Princípio da celeridade processual como dimensão temporal do princípio da Adequação processual aos direitos substantivos.

A adequação de um processo à defesa de um direito afere-se também numa dimensão temporal, e nesse sentido, e de forma a dar cumprimento a essa imposição, o legislador tributário estabelece o princípio da celeridade processual. Este é um corolário do direito à tutela jurisdicional efetiva, e traduz-se no direito de se obter em prazo razoável uma decisão com força de caso julgado para a pretensão regularmente deduzida em juízo. A necessidade de se alcançar uma decisão célere visa a exequibilidade das pretensões, quer a do credor, quer a do obrigado tributário. Assim, como nos indica

WLADIMIR BRITO, “a celeridade processual é factor de utilidade da resolução da lide”51.

A celeridade processual está associada à necessidade de resolução do lígio num prazo plausível, não se impondo que o processo deva ser concluído em tempo recorde, mas sim que se atenda às características dos direitos que se visa protelar. Ora nem mais do tempo que baste, nem menos do tempo necessário, a razoabilidade encontra-se num ponto de equilíbrio, que abstratamente é impossível quantificar. Diante do exposto, percebe-se o motivo pelo qual a CRP não quantificado o que entende como prazo razoável, tendo deixado essa tarefa ao legislador ordinário que, apesar de também não definir o conceito, atribui limites que ajudam a encontrar o tal ponto de equilíbrio52.

Tendo em vista alcançar estes objetivos constitucionais, no âmbito do contencioso tributário, foi atribuído ao juiz um prazo de decisão máximo de 90 dias ou de dois anos contados entre a data da instauração e a decisão proferida em 1ª instância. O prazo máximo de dois anos aplica-se aos processos previstos no art.º 96. º nº 2 do CPPT, já os processos com prazo máximo de 90 dias têm a previsão no nº 3 do mesmo preceito legal e respeita a processos urgentes.

Contudo, e apesar desta imposição temporal de atuação, não está prevista nenhuma consequência no caso do seu incumprimento, exceto a responsabilização do estado pela demora na administração da justiça, tendo para isso que o retardo da decisão causar dano e o mesmo ser imputável à não obtenção de uma decisão em tempo – bem

51 BRITO,WLADIMIR,“Teoria geral do processo -Parte 1”, Braga, AEDUM, 2012;

52 Cfr. RIBEIRO,NUNO CERDEIRA, “O controlo jurisdicional dos atos da administração tributária: - Reflexões acerca da articulação

como preencher os restantes requisitos - poderá o interessado/lesado colocar uma ação de responsabilidade extracontratual do Estado pelo atraso das funções jurisdicionais.

Acresce ainda, e como nos indica, JORGE LOPES DE SOUSA que apesar de ser de louvar o esforço do legislador para assegurar a celeridade judicial, não é de todo suficiente, pois esta imposição é dirigida apenas às decisões proferidas em primeira instância deixando de fora do seu âmbito de aplicação os recursos jurisdicionais “consequentemente, mesmo que venham a ser observados os prazos referidos, esta inovação legislativa é insuficiente para assegurar a tutela judicial em tempo útil que é o que seu objetivo em todos os processos em que seja admissível recursos jurisdicionais” 53.

A resolução dos litígios emergente de relações jurídicas tributárias, e devido à finalidade da receita tributária de financiar bens que satisfação as necessidades coletivas54, implica que a litispendência e morosidade na sua resolução possa afetar a comunidade em geral, verificamos assim que a morosidade das decisões não é apenas lesiva para as partes, mas que atendendo ao referido, terá efeitos erga hommes55.

53 SOUSA, JORGE LOPES DE,“Código de Procedimento e de Processo Tributário Anotado II”, 4.ª edição, p. 30 e ss.

54 Para mais desenvolvimento do tema consultar ROCHA,JOAQUIM FREITAS DA, “Apontamento de Direito tributário (A relação

jurídica tributária)”, Braga, AEDUM, 2009, p. 10 e ss. e ainda SANCHES,J.L SALDANHA,“Manual de Direito Fiscal”, 3.ª edição, Coimbra, Coimbra Editora, 2007, p. 21 e ss.

55 Salvaguardando a ideia de que a administração tributária goza de estatuto de superioridade que se traduz no facto de a vontade

administrativa é manifestada mediante a emanação de atos autoritário e unilaterais que gozam de uma presunção de legalidade, ou seja, em princípio estes atos só serão afastados do ordenamento jurídico mediante revogação ou anulação por se considerarem à partida legais e válidos, além disso podem ser imediatamente executados (privilégio de execução prévia). ROCHA,JOAQUIM FREITAS DA, “Apontamento de Direito tributário (A relação jurídica tributária)”, Braga, AEDUM, 2009, p. 13. Relembramos que, no contencioso tributário não se está perante o uso pleno dessa prerrogativa, podendo sempre o sujeito passivo tributário requerer a suspensão do ato administrativo mediante a prestação de garantia segundo os requisitos do art.º 169 do CPPT.

C

APÍTULO

II

O PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL COMO MODO APELATIVO DE

COBRANÇA DA DÍVIDA

1. Interesse público associado ao processo de execução fiscal. 2.