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4. A LEI DE BIOSSEGURANÇA E O ORDENAMENTO JURÍDICO

4.3. A Lei de Biossegurança e a Convenção Americana Sobre Direitos

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), ratificada pelo Brasil, na Parte I, Capítulo I, ao enumerar os deveres dos Estados signatários, assim preceitua no artigo Io,n°s 1 e 2:

1- Os Estados-partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nelareconhecidos e a garantir seu livre e plenoexercício a toda pessoaque esteja sujeita àsua jurisdição, sem discriminação alguma, por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimentoou qualquer outra condição social.

2- Para efeitos destaConvenção, pessoa é todo serhumano (grifo nosso).

NoCapítulo II, aotratar dos Direitos Civis e Políticos,dispõe em seu artigo 4o sobre o direito àvida, trazendoo n° 1 o seguinteenunciado:

1 - Todapessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pelaleie, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode serprivado da vidaarbitrariamente.

Ora, pela conjugação dos preceitos supracitados, fica evidente a intenção da Convenção Americana sobre Direitos Humanos de resguardar osdireitosdoser humano desde a suaconcepção, o que a toma absolutamente incompatível com a destruição de embriões.

Antes de prosseguirmos, importaressaltara posiçãojurídica dos Tratados e normas de Direito Internacional frenteao direito interno.

Os § 2o do artigo5o da Constituição de 1.988 determina:

§2°. Os direitos e garantiasexpressos nesta Constituição nãoexcluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionaisem queaRepúblicaFederativaseiaparte.

Em que pesem as considerações contrárias, de renomados constítucíonalístas, o posicionamento adotado no presente trabalho, que não está

isolado, é no sentido de que as normas internacionais sobre direitos humanos, que reconhecem direitos e liberdades como atributos da pessoa humana, equiparam-se às normasconstitucionais,diferenciando-se dos tratados internacionais de outra espécie.

A análise conjuntados §§ Ioe 2o do artigo5o da Constituição de 1.988 nos leva ao entendimento de que os direitos e garantias assegurados em tratados internacionais, subscritos e ratificados pelo Brasil e que versem sobre direitoshumanos, possuem valorjurídico de norma constitucional de aplicação imediata, estendendo e integrandoo rol de direitos constitucionais expressamente previstos, diferentemente do que ocorre com os tratados internacionais comuns, que têm posição hierárquica infraconstitucional.

Os direitos humanos, no nosso entendimento, estão acima da soberania do Estado, e mesmo que as normas a estes relativas se encontrem em documentos internacionais, devem ser respeitadas por toda a ordem interna, inclusive pela Constituição, que deverá recepcioná-las como normas constitucionais de aplicabilidade imediata.

A emenda constitucional n° 45, de 08 de dezembro de 2004, finalmente reconheceu o status de normas constitucionais aos Tratados e Convenções sobre Direitos Humanos, acrescentando ao artigo 5o da Carta Constitucional um § 3o com a seguinteredação:

Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

Entendemos que Tratados ou Convenções que versem sobre direitos humanos, ratificados pelo Brasil, têm suas normas a integrarem o rol de garantias e direitos consagrados na Constituição, com aplicação imediata, independente de

apreciação pelo Congresso Nacional - isto, por força do que dispõe o § 2o do artigo 5o da Constituição Federal daí permanecer o pensamento de se fazer desnecessária sua aprovação peloCongresso, na forma prescrita no dispositivo acima.

Aliás, outro não é o entendimento de Antonio Augusto Cançado Trindade59, que sustenta:

59TRINDADE, AntonioAugustoCançado. Tratadode Direito Internacional dosDireitosHumanos. Porto Alegre. SAFE. 1997. Vol. I. Pg. 408.

A especificidade e ocaráter especial dostratados de proteção internacional dos direitos humanos encontram-se, com efeito, reconhecidos e sancionados pela Constituição Brasileira de 1988: se para os tratados internacionais em geral, tem-se exigido a intermediação pelo Poder Legislativo de ato com força de lei de modo a outorgar a suas disposições vigência ou obrigatoriedade no plano do ordenamento jurídico interno, distintamente no caso dos tratados de proteção internacional dos direitos humanos em que o Brasil é Parte os direitos fundamentais neles garantidos passam, consoanteo artigo 5o da Constituição Brasileirade 1988,a integrar o elenco dosdireitosconstitucionalmenteconsagrados e direta e imediatamente exigíveis no plano do ordenamentojurídicointerno.

A Convenção Americanade Direitos Humanos (Pacto de San Joséda Costa Rica) também traça normas de interpretação estipulando:

Nenhuma disposição da presente Convenção pode ser interpretadano sentidode:

a)permitir a qualquer dos Estados-partes, grupo ou indivíduo, suprimir o gozo e o exercício dos direitos e liberdades reconhecidos na Convençãoou limitá-losem maior medidado que a nelaprevista;

b) limitar o gozo e exercício dequalquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos em virtude de leis de qualquer dos Estados- partes ou em virtude de Convenções em que seja parte um dos referidos Estados;

c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ouquedecorrem da forma democráticarepresentativadegoverno;

d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dos direitos e Deveres do Homem e outros atos internacionaisda mesma natureza.

É, portanto, inadmissível que indivíduos, sejam médicos, cientistas, parlamentares ou sejam lá o que forem, venham a alterar o que já está preceituado na legislação vigentecomo direito inviolável.

Independente de para alguns a vida começar nesse ou naquele momento, prevalece o que está no ordenamento jurídico: a Constituição Federal textualmente

consagra a inviolabilidade do direito à vida e adignidade humana como fundamento da

nossa república; em adição, as normas contidas na Convenção Americana de Direitos Humanos, que têm força de normaconstitucional, determinam que o direito à vida deve ser protegido desde o momento da concepção.

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