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4. A LEI DE BIOSSEGURANÇA E O ORDENAMENTO JURÍDICO

4.4. A Lei de Biossegurança e o Código Civil Brasileiro

OCódigo Civil prescreve, em seu artigo 2o:

A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, osdireitosdo nascituro (grifo nosso).

É o Código Civil, portanto, que determina omomento em que o ser humano

adquire personalidade e capacidade jurídica: o momento do nascimento com vida -

ainda que essa vidavenhaa se esvair momentosapós.

Antes do nascimentocom vida,o concebido não possui personalidadecivil, mas, como nascituro (gerado, mas ainda não nascido), todos os seus direitos, desde a concepção, são resguardados pela lei, principalmenteo direito à vida.

Frente a esse dispositivo legal, é insustentável qualquer argumentação no sentido de relativizar a proteção jurídica ao embrião; claro está que o Ordenamento Jurídicobrasileiro busca a proteção do ser humano em quaisquer de seus estágiosvitais, incluindo aí o seu estadoembrionário - ora, a única forma de o homem poder gozar de seus direitosé ser resguardado desde a sua concepção; sem isto, rui toda a estrutura de direitos fundamentais inerentesà dignidade humana.

Importa lembraraqui o já anteriormentedito: o "prazo de validade" de três anos estipulado para os embriões congelados, no art. 5o da Lei 11.105/2005, após os quais estes podem ser utilizados em experimentos, é absolutamente fictício, haja vista

que, se mantido em condições adequadas, podem durarindefinidamente - istoé, após os três anos, o embrião ainda carrega em si a vida, algo tão milagroso e raro que, até hoje, não se conseguiu obtê-la artifícialmente, apesar dos esforços científicos. Não é exagero constatarmos que a destruiçãodesses embriões nada mais édo que assassinato.

Roberto Fiúza60, posicionando-se no sentido de que o início legal da consideração jurídica da personalidade é o momento da penetração do espermatozóide noóvulo, mesmo fora docorpo da mulher, pondera:

60FIÚZA, Roberto. (Org). NovoCód

igo Civil Comentado. SãoPaulo. Saraiva.2a ed. 2004. Pg. 05.

(...) na vida intra-uterina, tem o nascituro, e na vida extra- uterina, tem o embrião, personalidade jurídica formal, no que atine aos direitospersonalíssimos, ou melhor, aosdapersonalidade, visto ter a pessoa cargagenéticadiferenciadadesde a concepção, seja elain vivoou in vitro.

Prescreve ainda o Código Civil, em seu artigo 1.597, inciso IV:

Art. 1.597. Presumem-seconcebidosna constância docasamentoosfilhos. (••)

IV- havidos, a qualquer tempo, quando setratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;

Está evidente que o Código Civil Brasileiro percebe o embrião como um ser humano, a serlevado em consideração e protegido. Evidente está também que a Lei de Biossegurança afronta toda a legislação vigente, e que os cientistas passaram a ditar as normas legais, principalmente no que diz respeito à vida, utilizando-se para tanto de manipulações de ordem ideológica que ocultam outros interesses não ligados ao bem comum.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dos fatos ora expostos, sem, evidentemente, a pretensão de exaurir o tema proposto, algumas conclusões se mostram decisivas na busca pela coerência ética, científica e jurídica:

O embrião humano, como exaustivamente demonstrado, é um ser humano inteiro, completo, vivo, detentor pleno da dignidade inerente a cada um de nós. Esta constatação se impõe como critério e parâmetro de valoração a orientar a atividade científica, que não deve jamais utilizar o ser humano como cobaia na busca por resultados, ainda que estes supostamente objetivem a cura de males do próprio. O ser humano - seu bem-estar e dignidade - deve ser sempre o fim; jamais aviltado, degradado, assassinado, seja por que motivo for. A compreensão do embrião como ser humano, com todas as garantias a este inerentes - como a vida, e segurança, e saúde também deve nortear a criação, interpretação e compreensão das leis, tendo em vista que a dignidade humanaé a fonte primária eo objetivo final do Direito.

Indo adiante, expomos outra - e relevante - razão que respalda o convencimento acerca da inadmissibilidade de experimentos envolvendo células-tronco embrionárias: a completa ausência de quaisquer resultados terapêuticos positivos advindos destes. Acreditamos que a afronta à dignidade e vida do embrião já constituem, por si mesmas, razão suficiente para a supressão desses hediondos experimentos. Mas, nada se ter apurado de promissor nessas células, em termos terapêuticos, apesar de duas décadas de investimentos pesados em pesquisas e milhares de embriões produzidos e mortos em nome destas, se constitui um agravante, que toma ainda - se possível - mais intolerável a situação, o cenário de "desumanização", de "coisificação" do embriãohumano.

Não é nossa intenção, de forma alguma, desconsiderara dor de milhões de

pessoas que sofrem de doenças degenerativas e outras, bem como de seus familiares.

Mas ludibriá-las com falsas promessas, sem respaldo científico,é cruel. Células-tronco embrionárias estão longe de apresentarem qualquer chance de cura. Ao contrário das células-tronco adultas, que já são uma realidade no tratamento de várias dessas doenças, e com possibilidades palpáveis de avanço. Em soma, entendemos que um embrião humano não pode ser sacrificado para beneficiar outro ser humano. O direito à vida é inviolável, e, ademais,nas palavras do Dr. André Machado Soares61:

61 SOARES, André Machado. Professor de Filosofia e especialista em Bioética. Vida: o Primeiro Direito da Cidadania. Editora CNBB. 2005. Pg. 13.

"Nào hácomo se afirmar, de modoabsoluto, que 'há maisvida humana’ em um adulto ou nascido, do que em um embrião ou feto. A dignidade que a vida humanapossui em seu estágio adulto é a mesma emseu período de vida intra (ou extra) uterina. Sendoassim, uma vidanào pode ser utilizada como meroinstrumento parabeneficiaroutra. Destruir a vidadeum embrião ou fetoédestruir a vidadeum semelhante".

Continuando, analisamos breve e especificamente as questões éticas atinentes ao uso de células-tronco embrionárias e ao congelamento de embriões humanos, trazendo à atenção o fato de que a existência de embriões congelados, muitas vezes utilizada como justificativa para a utilização dos mesmos em experimentos, não o faz de fato; antes, trata-se de um primeiro equívoco ético - pois o congelamento de vidas humanas é grotesco e desnecessário que restou por respaldar um segundo: a utilização desses embriões excedentários em pesquisas médicas. Trata-se da perpetuação de um atentado à dignidade humana, à vida humana, aos princípios de qualquerEstado que seauto-proclame Democrático de Direito.

Por fim, a últimaparte do presente trabalho apresentou a incompatibilidade jurídica com o Ordenamento Jurídico Brasileiro, do art. 5o da Lei 11.105/2005, que

permite, dentro de certos parâmetros, a utilização de embriões em pesquisas médicas. Na realidade, tal incompatibilidade já vinha sendo tratada, indiretamente, no

desenvolvimento da monografia - uma vez que, demonstrado o desrespeito à vida e a dignidade humana, princípios constitucionaisbasilares, automaticamente se evidenciaa discrepância entre o referido artigo e o nosso Ordenamento Mas, então, tratamos mais diretamente, comparando a Constituição, os tratados internacionais e o Código Civil com a Lei de Biossegurança, sempre com o escopo de trazer à tona a aberração jurídica queesta representa.

Finalizadanossa exposição, esperamosdespertar nos que a lerem areflexão sobre os valores em que acreditamos, mormente o respeito ao ser humano, e à sacralidade da vida. Com a exposição de realidades cientificas pertinentes ao tema, da manipulação de informações por parte da mídia e das empresas biotecnológicas, e do desrespeito ao Ordenamento Jurídico e ao próprio ser humano, ocasionado pelo art. 5o da Lei 11.105/2005, objetivamos contribuir para o enriquecimento de uma discussão que necessariamente deve haver, não só no âmbito do Legislativo, mas em toda a sociedade, sobre até que ponto desejamos que a Ciência interfira no que há de mais precioso no mundo: avida humana.

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