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A Lei de Capitalização da Petrobras – Lei nº 12.276/2010

4. O MARCO REGULATÓRIO DO PRÉ-SAL

4.3 Descrição das leis do Novo Marco Legal e sua tramitação

4.3.2 A Lei de Capitalização da Petrobras – Lei nº 12.276/2010

A Lei nº 12.276/2010 autoriza a União a ceder onerosamente à Petrobras o exercício das atividades de pesquisa e lavra de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos, de que trata o inciso I do art. 177 da Constituição, em áreas não concedidas e localizadas no Pré-Sal. Conforme consta no art. 1º, § 1º a 3º, a cessão é limitada ao volume máximo de extração de cinco bilhões de barris equivalentes de petróleo, e o pagamento devido pela Petrobras relativo á cessão pode ser concretizados em títulos da dívida pública mobiliária federal, precificados a valor de mercado. A Petrobras terá ainda a titularidade dos volumes de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos cedidos pela União (BRASIL, 2010)12.

Destacam-se, ainda, os artigos que definem que: o contrato e sua revisão deverão ser submetidos à prévia apreciação do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética); os exercícios de pesquisa e lavras desses recursos naturais serão realizados por conta e risco da exploração da Petrobras; os royalties devidos sobre o produto da lavra serão estabelecidos segundo art. 47 da Lei nº 9.478/1997; e por fim, fica a cargo da ANP (Agência Nacional do Petróleo) a fiscalização e a regulação. Segundo Lima (2011, p. 109), a lei descreve:

[...] os contratos de cessão onerosa de direitos de pesquisa e lavra da União, a subscrição de ações do capital social da Petrobras por parte da União, entes federais e entes privados, a emissão e utilização de títulos da dívida pública mobiliária federal fazem parte de um conjunto de ações para promover a capitalização dessa empresa.

Ressalte-se que a capitalização é um processo bastante comum em empresas de capital aberto que, por alguma razão, necessitam de mais dinheiro. Esse processo acontece quando a companhia disponibiliza no mercado a venda de novas ações. O capital arrecadado com a venda dessas ações possibilita o investimento em novos empreendimentos. Um indicador para o sucesso da capitalização, e logo, para uma maior arrecadação de dinheiro é quando aquela empresa possui um projeto com alto potencial de retorno, como é o caso do Pré-Sal (PEIXOTO, 2010b).

No caso da Petrobras, a escolha pela capitalização foi a forma encontrada pelo governo para atrair um maior número de recursos para a companhia, já que a mesma possui projetos e estratégias que necessitam de grandes investimentos para a sua

12 Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Lei/L12276.htm>. Acesso

realização. Além disso, observa-se que a época da proposta desse projeto, e até mesmo agora, a estatal brasileira estava tendo que lidar com uma expressiva dívida, o que auxiliou na decisão pela capitalização da empresa (PEIXOTO, 2010b).

Algumas críticas foram elaboradas quanto à forma que a capitalização da estatal brasileira ocorreu, principalmente no que tange ao fato do modelo adotado ser complexo, ter ocorrido de maneira apressada e com assimetria de informações, o que por muitos foi considerado como sendo um processo pouco transparente. Além disso, o preço do barril de US$ 8,51 estabelecido pelo presidente Lula foi o alvo das mais severas críticas. Para Lima (2011),

[...] admitindo-se um valor do barril de US$ 65,00, a produção dos cinco bilhões de barris cedidos poderia gerar receitas líquidas da ordem de US$ 247,4 bilhões. Com uma curva de produção de 20 anos, obtida a partir da instalação, a partir do quinto ano, de sete unidades de produção, uma por ano, com capacidade de produção de 180 mil barris por dia, e uma taxa de desconto de 5%, o valor presente das receitas seria de cerca de US$ 118 bilhões. Valor muito superior ao da cessão onerosa de cerca de US$ 42,5 bilhões, equivalente a US$ 8,51 por barril. (2011, p. 129).

Tramitação do PL nº 5941/2009:

O Projeto de Lei (PL) nº 5941/2009, depois transformado na Lei nº 12.276/2010 autoriza a União a ceder onerosamente à Petrobras o exercício das atividades de pesquisa e lavra de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos de que trata o inciso I do art. 177 da Constituição, e dá outras providências.

Esse projeto foi apresentado em setembro de 2009 pelo Poder Executivo, sendo constituída uma comissão especial para sua apreciação, conforme determina o art. 34, II, do RICD (Regimento Interno da Câmara dos Deputados), considerando as competências das comissões de: Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC); Desenvolvimento Econômico Indústria e Comércio (CDEIC); Finanças e Tributação (CFT); Minas e Energia (CME) e Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP).

A princípio esse projeto se encontrava sob o regime de tramitação de urgência, conforme o art. 64 da Constituição Federal, mas foi posteriormente cancelado pelo MSC nº 741/2009. O relator designado a comissão especial foi o Deputado João Maria (PR-RN). Em novembro de 2009 o Deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) enviou o requerimento 5836/2009 pedindo urgência para apreciação da matéria; aprovado esse requerimento, a matéria voltou a ser discutida em plenário.

Pode-se dividir a análise do processo legislativo dessa matéria em duas partes: a primeira durante a comissão especial, e a segunda pelas discussões em plenário. Destaca-se que foram apresentadas, ao todo, 82 emendas a esse projeto. As emendas foram apresentadas ainda na comissão especial, contudo, com a aprovação do substitutivo desse projeto por essa mesma comissão, as Emendas de nº 1 a 67 perderam a sua validade, ressalvas as Emendas de nº 68 a 82. Posteriormente decidiu-se – com exceção das Emendas 71,72 e 74 que foram retiradas pelos autores – que as Emendas 81 e 82 fossem aprovadas e as Emendas 68 a 70, 73, 75 e 80 fossem rejeitadas13.

Nota-se que as Emendas nº 77 e nº 78 que tratavam sobre a questão dos royalties do petróleo e das participações especiais foram pedidos de destaque para votação em separado pela bancada do DEM. Essas, mais uma vez foram rejeitas. No próximo capítulo, uma análise sobre a votação dessas emendas será realizada, além de uma investigação a respeito dessas terem sido rejeitadas por tratarem da questão dos royalties. Tema com o qual o governo do presidente Lula não queria trabalhar, principalmente por se tratar de um ano de eleição.

Por fim, destaca-se que o projeto sofreu veto parcial da presidência em artigos que se referiam a contratos e pagamentos à União por parte da Petrobras.