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A busca da Petrobras por petróleo em águas profundas e o alerta para a

4. O MARCO REGULATÓRIO DO PRÉ-SAL

4.2 A busca da Petrobras por petróleo em águas profundas e o alerta para a

Criada em 1953 durante o Governo de Getúlio Vargas e em meio a um cenário de tentativa de mudança do perfil do país – de agrário para industrial – e de uma transformação social devido à intensa urbanização, a Petrobras tinha como desafio a busca pelo petróleo em território brasileiro e o consequente abastecimento do mercado interno. No entanto, as crises do petróleo da década de 70 modificaram o cenário mundial, fazendo com que a estratégia da empresa fosse alterada, e a meta passasse a ser o alcance da autossuficiência (SAUER, 2011).

Tomada por esse novo objetivo, a Petrobras intensificou as suas investigações e pesquisas. Uma vez não encontrando petróleo no continente, muda o foco das suas buscas indo em direção ao mar, desenvolvendo mais tarde as tecnologias de exploração em águas profundas e ultra profundas (de até sete mil km), além de estabelecer parcerias com centros de pesquisas e universidades. Isso possibilitou, no ano de 2006, a descoberta do Pré-Sal e o alcance da autossuficiência9 (SAUER, 2011).

Localizada na plataforma continental, a província do Pré-Sal é na realidade, uma área formada por um:

[...] conjunto de rochas localizadas em águas profundas de grande parte do litoral brasileiro, com potencial para geração e acúmulo de petróleo. Convencionou-se chamar de pré-sal porque forma um intervalo de rochas que se estende por baixo de uma extensa camada de sal, que em certas áreas da costa atinge espessuras de até 2.000 m. O termo pré é utilizado porque, ao longo do tempo, essas rochas foram sendo depositadas antes da camada de sal. A profundidade total dessas rochas, que é a distância entre a superfície do mar e os reservatórios de petróleo abaixo da camada de sal, pode chegar a mais de 7 mil metros (PETROBRAS, 2014)10.

Segundo estimativas da própria Petrobras, a descoberta dessa localidade petrolífera pode representar o acumulo de reservas superiores a noventa bilhões de

9 Segundo o site oficial da Petrobras: “O Brasil atingiu a autossuficiência em petróleo em 2006: a

produção de petróleo no País equiparou-se ao volume de derivados consumidos à época. Entre 2007 e 2012, no entanto, o crescimento da demanda por derivados cresceu 4,9% no Brasil, contra um crescimento de 3,4% na produção de petróleo. A partir de 2014, a produção de petróleo no Brasil voltará a atingir a autossuficiência volumétrica, ou seja, volumes iguais de petróleo produzido e de derivados consumidos, contando a produção da Petrobras + Parceiros + Terceiros”. Disponível em: <http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2013/04/18/autossuficiencia-em-petroleo-respostas-ao-

globo/#sthash.W367HsaH.dpuf>. Acesso em: 01 jun. 2014.

10

Disponível em: < http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/areas-de-atuacao/exploracao-e- producao-de-petroleo-e-gas/pre-sal/>. Acesso em: 15 mai. 2014.

barris de petróleo, superando as reservas nacionais já descobertas que seriam de cerca de dezesseis bilhões de barris.

Com a descoberta do Pré-Sal, um novo cenário foi estabelecido: surgiu a possibilidade de se atingir estabilidade econômica, se alcançou a tão desejada autossuficiência, o Brasil passou a ser considerado um dos países detentores das maiores reservas mundial, além de sua importância no cenário geopolítico ter sido alterada. Esse novo cenário fez com que emergisse um sentimento nacionalista para com a proteção desses recursos naturais que são de interesse direto da nação. A própria Constituição, em seu art. 20, estabelece que são considerados bens da União os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva, e sendo bem da União, é consequentemente um bem de toda a população.

É preciso destacar que, ao longo de todo processo das pesquisas da província do Pré-Sal, as autoridades do governo foram constantemente avisadas e recomendadas sobre a necessidade de revisão do modelo regulatório vigente, de modo a adequá-lo ao novo panorama que estava sendo apresentado. Além disso, o governo também foi por diversas vezes aconselhado a suspender os leilões de novos blocos, principalmente os da nona rodada, que já tinham data marcada e iriam acontecer ainda em 2007 (SAUER, 2011), isso porque as análises sobre os impactos, dimensões e consequências da província do Pré-Sal ainda estavam em fase de conclusão.

Apesar disso, tal recomendação não foi completamente acolhida pelo governo, sendo que no “longo período transcorrido desde a confirmação do modelo geológico do Pré-sal, em meados de 2006, até a reunião do Conselho Nacional de Política Energética, em novembro de 2007, com o anuncio oficial do pré-sal, o governo decidiu apenas iniciar os estudos para a revisão do modelo de concessões” (SAUER, 2011, p. 16). De modo que a nona rodada foi mantida, contrariando todas as evidências das informações e pareceres disponibilizados.

Dos blocos licitados, apenas 41 foram excluídos. Esses blocos faziam interface com Tupi e apresentavam registros de acumulação de petróleo, o que se torna difícil de compreender a persistência por parte do governo em mantê-los até o último instante no leilão. Tais blocos foram retirados de última hora pelo presidente Lula após sua visita à Petrobras e a confirmação geológica do pré-sal nas perfurações feitas na área de Tupi. Segundo Sauer (2011), essa pouca abertura para a mudança do marco regulatório vigente dava-se, pelo que se sabe, na rigidez do governo e do agente regulador em alterar o status quo. Persistia entre eles o desejo de se continuar com o antigo modelo e

as rodadas de licitações, pelo sucesso já consolidado desse sistema entre o mercado e os investidores, e pelo receio e dúvidas desses prognósticos da Petrobras sobre os resultados que seriam gerados pelo Pré-Sal.

Nota-se que a realização da manutenção da nona rodada gerou muitas críticas e manifestações no inicio de 2008 – antes mesmo da certeza de sua real potencialidade – por meio da criação da Frente Parlamentar da Petrobras no Congresso Nacional, o lançamento da campanha “O petróleo tem que ser nosso”, além de diversas críticas em jornais e revistas e até mesmo entre o meio acadêmico (SAUER, 2011).

Assim sendo, somente após a confirmação do potencial da exploração do Pré-Sal que o governo decidiu alterar o marco regulatório. Dessa maneira, no dia 31 ago. 2009, o Executivo encaminhou para o Congresso Nacional a nova proposta do marco regulatório, contendo quatro projetos de lei que mais tarde constituiriam as três leis formadoras do Novo Marco Regulatório do Setor Petrolífero.