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2.5 Formação Musical: Atividade de Aprendizagem e de Desenvolvimento de

2.5.3 A leitura melódica e o ditado musical – estratégias pedagógicas

2.5.3.1 A leitura melódica – estratégias pedagógicas

Para o desenvolvimento de atividades de leitura musical verifica-se que há uma serie de procedimentos e estratégias pedagógicas que devem ser consideradas na ótica de vários autores. Assim, para Wyatt et al (2005) a leitura musical resulta de uma abordagem a um determinado excerto musical em três fases. Na primeira fase é dada especial atenção aos aspetos rítmicos, na segunda aos aspetos melódicos e, por fim, na terceira fase tem-se simultaneamente presente os aspetos rítmicos e melódicos. Este trabalho em separado do ritmo e da melodia tem ainda por base uma reflexão e uma análise musical que é feita ao excerto musical que passa por verificar o tipo de compasso, a tonalidade do excerto, qual a nota a que respeita a tónica, os intervalos predominantes e os que podem exigir uma maior atenção e cuidado.

Os autores consideram ainda que para realização de exercícios de leitura é importante o apoio de um instrumento ou de um diapasão para que se possa obter o som da tónica, nota essa que funcionará como referência às restantes notas, salvo a mudança de tonalidade no decorrer do excerto. Para o caso de não haver instrumento ou diapasão, sugerem os autores a entoação de um som a que se possa atribuir significado de tónica. Definido como tal, e mantendo o padrão de tons e

meios-tons da escala a que respeita a tonalidade do excerto a ler, pode proceder-se à leitura do mesmo.

No momento em que se procede à leitura do excerto musical, as indicações dadas pelos já referidos autores é que se opte por um andamento e uma pulsação estável de forma que a leitura musical possa ser realizada sem paragens ou atropelos. Finalizada a leitura, deve ainda confirmar-se no instrumento a melodia lida de forma a poder retificar-se eventuais erros ocorridos.

As estratégias e procedimentos anteriormente propostos vão ao encontro do que Prosser (2010) sugere na sua obra – Ear training for tody musians. No entanto, o autor chama a atenção para um aspeto importante que é o domínio que o aluno deve ter sobre todos os aspetos associados à duração e altura do som – ritmo e melodia – e que são estudados em separado. Só assim a leitura pode ser feita com sucesso aquando da combinação de ambos – duração e altura do som.

Quanto aos procedimentos pedagógicos propostos por Benjamin et al (2009), verifica-se que há uma incidência inicial na análise teórica ao excerto musical, de forma a que o aluno passa desde logo tomar consciência de aspetos relacionados com a tonalidade do excerto e seu respetivo compasso. A marcação de compasso aquando de um exercício de leitura é importante, pois permite, pelo seu gesto, definir o tempo e o espaço em que a leitura se situa dentro do próprio compasso. A análise ao excerto deve ainda contemplar outros aspetos como a forma, o estilo, a dinâmica, elementos expressivos, articulações, respirações e outros.

Para a componente rítmica, os autores sugerem que a leitura se faça de uma das seguintes formas: percutir o ritmo com ou sem compasso; ler o ritmo com uma sílaba neutra; marcar o tempo com uma mão e com a outra mão percutir o ritmo; percutir o ritmo enquanto, em voz alta se conta o tempo.

Para a componente tonal, os mesmos autores sugerem que inicialmente se faça uma contextualização auditiva da tonalidade do excerto a ler. Para isso propõem que se toque no instrumento a nota a que respeita a tónica do exercício e seguidamente que se cante o acorde da tónica. Antes ainda da leitura definitiva do exercício, deve ter-se bem presente o som a que respeita a sua primeira nota. Por

sua vez, aquando da leitura, deve optar-se por um tempo moderado e ter presente todos os elementos expressivos propostos. Para que a leitura possa ser bem sucedida, deve fazer-se uma leitura em que os olhos sigam ligeiramente à frente do que se está a ler de forma a poder antecipar-se o que seguidamente vai ser lido. Deve ainda ter-se presente os aspetos estruturais do excerto que foram vistos aquando da sua análise prévia – padrões rítmicos, padrões tonais, fragmentos de escala, sequências, repetições, arpejos, cadências, etc.

Também para Krueger (2011) a análise musical antes da leitura é um aspeto fundamental e um procedimento a adotar. Para o autor, a análise musical deve incidir inicialmente nos aspetos tonais como a tonalidade, tónica, nota inicial, notas da melodia que fazem parte do arpejo da tónica, a relação intervalar entre as várias notas, os padrões existentes, os motivos e sequências melódicas. Quanto ao aspetos rítmicos, a análise deve passar pela verificação do compasso, métrica, unidade de tempo, sua divisão e subdivisão de tempo. É essencial ainda que se verifique a presença de padrões rítmicos. Finalmente, a análise musical deve incidir ainda sobre outros elementos musicais como a estrutura e o tipo de frase, a forma, o estilo, a harmonia implícita, etc.

Feita uma rigorosa análise ao excerto musical e ainda antes da leitura propriamente dita, deve ter-se como referência a tónica a que respeita a tonalidade do exercício. Seguidamente Krueger (2011) sugere que para uma contextualização auditiva da tonalidade do exercício a ler se comece por cantar a escala, acorde da tónica e primeiras notas da melodia e respetivas notas estruturais. Deve ainda interiorizar-se um andamento estável da leitura para que nunca se venha a perder a noção de tempo e de divisão de tempo.

Como procedimento último, o autor sugere ainda uma leitura interior (mental) do excerto e só depois a sua leitura em voz alta, a cappella. Tal irá permitir um maior desenvolvimento e uma maior independência do aluno pois trata-se de uma leitura sem apoio instrumental, sem acompanhamento. É importante manter a pulsação estável e, no caso eventuais erros num determinado compasso, procurar manter uma leitura correta logo no compasso seguinte, sem

voltar atrás para correção. Deve ainda procurar-se uma leitura com musicalidade, com sentido de frase e não como fragmentos ou leitura do tipo nota a nota.

Considerada como uma das mais importantes competências musicais, a leitura musical deve ser bastante treinada e aprofundada. Com o tempo, com a experiência e com a prática, todos estes procedimentos se tornam facilmente seguidos resultando num estudo, aprendizagem e desenvolvimento musical eficaz. Krueger, considera por isso que “skill follows drill. Skill can be mastered only by consistent practice” (2011, p xxvi).

Figura 2 – Melodia: elementos rítmicos e tonais (Krueger, 2011, p. xxvi)