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A leitura segundo a professora Ana

No documento PATRICIA VIEIRA DA SILVA PEREIRA (páginas 104-108)

5.4 A leitura segundo os professores

5.4.3 A leitura segundo a professora Ana

Como já explicado anteriormente, tivemos, nas aulas de Filosofia, a participação de dois professores. A professora Ana foi a primeira com quem tivemos a experiência das

observações, que, por sinal, não foram muitas devido à sua substituição logo no início do ano letivo.

Apesar de ter sido reduzida, achamos que seria conveniente incluirmos nesta pesquisa essa participação, pois continuamos realizando as observações na turma em que ela foi a primeira professora regente.

Assim, também fizemos uma entrevista com essa docente a fim de conhecer melhor seu trabalho e de esclarecer aspectos que julgamos relevantes.

Na entrevista, a professora Ana demonstra que seu pensamento a respeito da concepção de leitura está voltado para aquele que a vê como uma atividade crítica e emancipadora (FREIRE, 2005), pois está relacionada ao modo como os sujeitos lêem o mundo a sua volta:

Professora Ana: a leitura é a interpretação dos fatos (.) dos acontecimentos (.) não existe só a leitura escrita existe a leitura que você faz de tudo que está a sua volta (.) o reconhecimento (.) a identificação com as coisas (.) é:: a leitura que você faz dentro do contexto social [...]

Em outro momento da entrevista, a professora reforça a idéia anterior de que a leitura não é apenas aquela que se faz do texto em si, destacando o fato de existir “a visão de cada um daquele texto”, o que poderíamos inferir como o conhecimento de mundo de cada aluno:

Professora Ana: porque a leitura (.) não é só a leitura do texto (.) tem também a leitura interpretação da linguagem (.) que é::é::transmitida entre eles (.) a visão de cada um daquele texto (.) o nível de compreensão de cada um.

O conhecimento de mundo dos estudantes é, aliás, uma das maiores preocupações da docente. Em vários momentos da entrevista, ela declarou que o trabalho desenvolvido em sala de aula deve se aproximar da realidade vivida pelos educandos. Conseqüentemente, o trabalho com textos deve seguir esse caminho, pois desvincular a leitura daquilo que permeia o contexto social dos alunos é não atingir os objetivos do ensino-aprendizagem:

Professora Ana: não adianta a gente trabalhar fora da realidade da vida do aluno (.) porque a gente vai tá trabalhando sozinho (.) se a gente não descer até o aluno (.) até a realidade

dele e não despregar também do livro didático (.) indo entremeando na vida dele (.) nos centros de interesse deles (.) a gente não vai ter o retorno desse processo de ensino-aprendizagem a gente vai ficar falando sozinho (.) trabalhando sozinho e os alunos vão achar a gente uma chata (.) vão achar que o professor não ensina nada (.) porque a gente não tá descendo até os centros de interesse deles [...] então o que que eu pego: coisas que estão a volta (.) que estão chamando a atenção deles [...] aí eu vou contextualizando (.) procurando mostrar o autor e as tendências ali (.) pra ver se eles conseguem sentir (.) pelo menos (.) um pouco de motivação pra leitura [...] então (.) eu contextualizo (.) isso que é contextualizar (.) você trabalha a realidade com conhecimento científico (.) tentando fazer uma relação mesmo assim (.) ele têm muita dificuldade na leitura e interpretação porque eles têm preguiça de ler [...] eles gostam mais de usar a internet (.) fazer cópia da internet.

Dentro da concepção de leitura da professora, o bom leitor é aquele aluno que busca outros tipos de leitura, não se restringindo às indicadas pelo professor. Nesse sentido, o bom leitor é aquele que já possui autonomia no ato de ler, inclusive para realizar leituras que vão ao encontro de seus objetivos e desejos:

Professora Ana: um bom leitor é aquele aluno que tem interesse nos livros não só pelos livros que os professores usam em sala (.) mas em tudo que ta em volta dele [...] então (.) o bom leitor é aquele que não só lê as revistas que ele gosta (.) mas também outros tipos de literatura (.) por isso que eu considero os alunos não leitores (.) porque (.) realmente (.) eles não lêem e têm preguiça de ler e não têm motivação (.) estímulo (.) em casa eles também não são estimulados.

Uma das maneiras que a professora considera eficientes de se conseguir o envolvimento dos alunos no trabalho com o texto é o uso da estratégia de trabalho em grupo. Essa questão será abordada no próximo capítulo.

Antes, porém, destacamos que, apesar de todas as dificuldades de acesso aos materiais de leitura, acreditamos que é necessário priorizarmos o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita de nossos estudantes. Para que isso ocorra, é necessário que a concepção de leitura dos docentes, item que verdadeiramente definirá aquilo que será realizado em sala de aula, esteja baseada em um conceito mais abrangente de letramento.

As análises realizadas neste capítulo demonstram que as concepções de leitura dos professores colaboradores priorizam um trabalho pedagógico orientado para as práticas de letramento que podem ser inseridas no modelo autônomo, com ênfase no trabalho individual e de pouco vínculo com o contexto social mais amplo. Prevalecendo, assim, um

discurso que reproduz um modelo de letramento que já não satisfaz as necessidades de formação dos sujeitos.

Apesar dessa constatação, no próximo capítulo veremos por meio da análise do trabalho realizado pelo professor Lucas, como é possível colaborar para o processo de letramento dos estudantes, estabelecendo em sala de aula uma atmosfera construtiva de trabalho de leitura. Nesse espaço, como poderá ser observado, o letramento deixa de ser praticado como uma atividade de cunho individualista e exclusivamente escolar e passa a ganhar uma dimensão de caráter social e situado em que é possível estabelecer o aprendizado por meio de processos formais e informais.

6 AS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS EM SALA DE AULA

Todas as atividades escolares das quais o texto participa precisam ter sentido, para que o texto resguarde seu significado maior.

(Marisa Lajolo, 1985, p. 62)

6.1 Introdução

Neste capítulo atendemos ao nosso objetivo de analisar quais são as estratégias utilizadas pelos professores das duas disciplinas para trabalhar com textos. Nesta análise buscamos confirmar a subasserção formulada que afirmava que o trabalho realizado pelos professores priorizava a utilização das estratégias pedagógicas como recursos externos.

Além de analisar as estratégias como recursos externos, faremos a análise de uma cena de sala de aula em que um dos professores interage com os alunos e constrói andaimes a fim de tornar a leitura do texto compreensível. Nessa atividade, as estratégias utilizadas são aquelas denominadas de estratégias interacionais de andaimagem.

No documento PATRICIA VIEIRA DA SILVA PEREIRA (páginas 104-108)