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Percurso histórico

No documento PATRICIA VIEIRA DA SILVA PEREIRA (páginas 67-72)

Ao longo de sua história, o ensino médio esteve dividido entre a educação acadêmica e o ensino profissional. Existia a “formação de caráter propedêutico, destinada a preparar o educando para acesso a níveis superiores de ensino, e uma formação de caráter técnico-profissional” (RAMOS, 2004, p. 38)

Na verdade, a criação do ensino médio ocorreu para atender à necessidade de implantação de um curso que conferisse o grau de bacharel, indispensável à entrada no nível superior, sendo, por esse motivo, criado, durante o período regencial, o Imperial Colégio Pedro II (GOMES, 2000, p. 17). Tratava-se de um curso de caráter propedêutico.

Nessa época, segundo Gomes (idem, ibidem) “não se podia falar sequer de sistema ou sistemas educacionais brasileiros, mas de um arquipélago de estruturas”, que tinham por objetivo servir de ponte às poucas instituições superiores existentes.

Gomes também destaca que, em meio a inúmeras reformas que instituíram novas perspectivas para o ensino médio (Reforma Benjamin Constant, de 1890, que incluía disciplinas científicas e estabelecia a seriação, mas que não foi executada; Reforma Epitácio Pessoa , de 1901, a qual introduziu o curso de Bacharelado em Ciências e Letras dos 10 aos 16 anos de idade; a Reforma Rivadávia Corrêa, de 1911, que desoficializou o ensino; a Reforma Carlos Maximiliano, de 1915, cujos objetivos foram reoficializar o ensino e reformar o Colégio Pedro II; a Reforma Rocha Vaz, de 1925, que seguiu em direção à organização geral da educação), o ensino profissionalizante foi se firmando como a escola destinada aos filhos dos trabalhadores, sendo reservada “explicitamente pela lei e até pela recente Constituição de 1937, às pessoas de baixo nível sócio-econômico” (GOMES, 2000, p. 18).

No entanto, ainda segundo Gomes (2000, P. 19-21), foi somente a partir da Revolução de 1930 que houve a verdadeira organização da educação brasileira, sobretudo com a criação das Leis Orgânicas de Gustavo Capanema. Nesse período, os questionamentos a respeito das finalidades do ensino médio e de suas relações com o trabalho, juntamente com o fato de, em meio às inúmeras reformas ocorridas até então, surgir, também, o ensino profissionalizante que se destinava às classes trabalhadoras, emerge a questão do dualismo no ensino médio, isto é, o fato de se ter uma educação média profissionalizante e uma educação média de formação geral.

Esse mesmo autor afirma (idem, ibidem) que os períodos que se sucederam foram marcados por uma alternância entre as prioridades da educação média no Brasil. Nessa época, várias reformas validavam o ensino médio direcionando-o ora em relação ao ensino profissionalizante, ora no sentido do ensino geral e, muitas vezes, mantendo o dualismo.

Em 1931, a Reforma Francisco Campos manteve o dualismo, existindo escolas profissionalizantes e a escola acadêmica, sendo esta oposição reforçada com a Reforma de 1942, de Gustavo Capanema. Entretanto, apesar de estar destinada às classes sociais mais abastadas, a urbanização favoreceu a entrada das classes médias urbanas nas escolas de ensino médio acadêmico, fato esse que resultou em um ensino que não conseguia preparar os alunos nem para o trabalho e nem para o ingresso no ensino superior, pois a abertura do ensino às classes médias gerou, também, a popularização do magistério, ocasionando, juntamente com outros fatores sociais, declínio na qualidade da educação.

As divergências entre o ensino profissionalizante e acadêmico continuaram nos períodos seguintes, pois por mais que a igualdade de direitos estabelecida pela Lei da Equivalência tenha permitido ao estudante do ensino profissionalizante acesso ao ensino superior, não fornecia as vantagens do curso acadêmico, que era dedicado à educação geral exigida pelos exames vestibulares.

Com a Reforma de 1971, na forma da Lei nº 5.692, tornou-se obrigatório o sistema unitário, onde estavam integrados o ensino profissionalizante e a preparação para o trabalho a todos os alunos do ensino médio. Entretanto, houve um descontentamento quanto a essa obrigatoriedade por parte da sociedade e, em 1982, o dualismo entre ensino acadêmico e profissionalizante voltou a fazer parte do cenário da educação brasileira.

A partir da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que rege o sistema de ensino atual, respondendo aos desafios de aumentar a média de escolaridade da sua população, ficou estabelecido que

a educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. (BRASIL, 1999, p. 57).

Além disso, a lei confere novo status ao ensino médio, pois este passa a compor, juntamente com a educação infantil e o ensino fundamental, o quadro da educação básica brasileira, sendo considerada como

etapa do processo educacional que a Nação considera básica para o exercício da cidadania, base para o acesso às atividades produtivas, para o prosseguimento nos níveis mais elevados e complexos de educação e para o desenvolvimento pessoal [...] (BRASIL, 1999, p.22).

No que concerne especificamente ao ensino médio, a LDB afirma, em seu art. 35, que:

Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades:

I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. (BRASIL, 1999, p. 61)

Segundo Ramos (2004, p. 38),

a consolidação dessas finalidades do ensino médio, como etapa final da educação básica, supera o modelo em vigor no Brasil desde 1971, que admitia dois percursos relativos à formação escolar em nível secundário: uma formação de caráter propedêutico, destinada a preparar o educando para acesso a níveis superiores de ensino, e uma formação de caráter técnico-profissional.

No entanto,

a possibilidade de o ensino médio preparar o educando para o exercício de profissões técnicas, porém, foi admitida pelo parágrafo 2º. do artigo 36 da lei, desde que assegurada a formação básica. Ao mesmo tempo, a educação profissional foi tratada em capítulo à parte, nos artigos 39 a 41, como prática educativa a que todos os cidadãos podem ter acesso, devendo integrar-se às diferentes formas de educação, de trabalho, à ciência e à tecnologia. (RAMOS, 2004, p.38).

Diante da possibilidade de preparação para o exercício de profissões técnicas estabelecida pela LDB, regulamenta-se, por meio do Decreto nº 2.208, de 17 de abril de 1997, a educação profissional. Nesse Decreto, em seu artigo 2º, fica determinado que:

Art. 2º A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino médio ou em modalidades que contemplem estratégias de educação continuada, podendo ser realizada em escolas do ensino regular, em instituições especializadas ou nos ambientes de trabalho. (BRASIL, 1997).

A publicação desse decreto, porém, segundo Ramos (2004, p. 40), “impossibilitou a construção de um ensino médio que integrasse formação básica e profissional de forma orgânica num mesmo currículo”.

Após esse período em que o ensino médio se viu novamente dividido, publicou-se o Decreto nº 5.154, de 23 de julho de 2004, revogando o Decreto nº 2.208 e regulamentando o parágrafo 2º do artigo 36 e os artigos 39 a 41 da Lei nº 9.396, a LDB.

O artigo 4º desse novo Decreto, que está em vigor, prevê:

Art. 4º A educação profissional técnica de nível médio, nos termos dispostos no § 2º do art. 36, art. 40 e parágrafo único do art. 41, da Lei nº 9.394, de 1996, será desenvolvida de forma articulada com o ensino médio, observados:

I- os objetivos contidos nas diretrizes curriculares nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação;

II- as normas complementares dos respectivos sistemas de ensino; e III- as exigências de cada instituição de ensino, nos termos de seu projeto pedagógico. (BRASIL, 2004).

Esse Decreto visa à construção de um ensino médio onde possam ser integrados os conhecimentos básicos e os profissionalizantes, indo ao encontro do que, segundo Ramos, deve ser a identidade do ensino médio que,

conquanto seja unitário em seus princípios e objetivos, desenvolva possibilidades formativas que contemplem as múltiplas necessidades socioculturais e econômicas dos sujeitos que o constituem – adolescentes, jovens e adultos -, reconhecendo-os não como cidadãos e trabalhadores de um futuro indefinido, mas como sujeitos de direitos no momento em que cursam o ensino médio. (RAMOS, 2004, p. 41).

Contudo, parece existir um desconhecimento por parte da escola e dos professores em relação às leis que regem o ensino médio, fato esse que pode comprometer o trabalho pedagógico desenvolvido. Como etapa final da educação básica, essas finalidades devem ser:

a formação da pessoa, de maneira a desenvolver valores e competências necessárias à integração de seu projeto individual ao projeto da sociedade em que se situa;

o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

a preparação e orientação básica para a sua integração ao mundo do trabalho, com as competências que garantam seu aprimoramento profissional e permitam acompanhar as mudanças que caracterizam a produção no nosso tempo;

o desenvolvimento das competências para continuar aprendendo, de forma autônoma e crítica, em níveis mais complexos de estudos. (BRASIL, 1999, p. 23).

No documento PATRICIA VIEIRA DA SILVA PEREIRA (páginas 67-72)