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A liberação da soja transgênica: Tempestade ou Bonança?

CAPÍTULO III: IMPACTOS DA SOJA TRANSGÊNICA NO OESTE CATARINENSE

3.2 A liberação da soja transgênica: Tempestade ou Bonança?

No dia 13 de Julho de 2003 a lei 10.688/2003 foi sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva

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Os agricultores e entidades comemoraram a decisão, pois trazia uma ideia de segurança e tranquilidade aos produtores, pôr fim, a longa disputa teve um desfecho favorável a Monsanto, que vinha pleiteando na justiça a liberação comercial da soja RR1.

Na região Oeste de Santa Catarina o ano de 2004 foi emblemático, pois a soja que anteriormente era motivo de polêmica e preocupação finalmente teve uma decisão, não se destaca o caráter da lei, mas os produtores conseguiram uma resposta, os efeitos deste tipo decisão se mostrará adiante.

O jornal Diário do Iguaçu divulgou uma entrevista com o presidente da Cooperalfa, na entrevista foi abordado o tema da soja transgênica. O presidente da cooperativa na época Mário Lanznaster afirmou que não se faria oposição ao plantio transgênico, já que a lei permita, conforme fala: “Se quiser plantar que plante, a lei está aí e não vamos impedir” (Diário do Iguaçu, 21 de outubro, 2004) lembrou porém, que as sementes que os produtores estavam de posse eram ilegais, já que adquiram anterior a liberação, disse ainda, que a cooperativa não teria como separa a soja transgênica da convencional de seus silos de armazenagem por razões técnicas.

Em 18 de outubro de 2004 o Presidente da FAESC comemorou a aprovação favorável dos transgênicos, na matéria no Diário do Iguaçu ele disse que a escolhe entre o plantio de soja orgânica, convencional ou transgênica fica à cargo do produtor rural. Aproveitou para propagandear os possíveis benefícios da soja transgênica, como maior produtividade, menor uso agrotóxicos e melhor aproveitamento dos solos. O Presidente da FAESC citou tais dados sem citar fontes de estudos que comprovem suas afirmações.

No Brasil existe um ditado popular “Depois da tempestade vem a bonança”, invertendo este ditado é possível fazer uma relação com a soja transgênica, alguns produtores comemoraram a liberação do plantio de soja transgênica, depois de um turbulento processo jurídico, mas o preço chegou em forma de royalties, a Monsanto detinha os direitos de propriedade, ou seja, a patente da tecnologia transgênica .

A cobrança dos direitos de propriedade tecnológica (royalties) não foi uma surpresa, a maioria dos produtores tinham entendimento de como iria funcionar, inclusive por seminários

extensamente explorados na região, seja por empresas, ou por organismos governamentais e sindicatos rurais. O principal ponto era como a Monsanto iria aplicar as taxas e por quanto tempo.

No ano de 2003 a Monsanto estabeleceu um preço de R$ 0,60 por saca de semente de soja transgênica, em 23 de outubro de 2004 uma matéria no Diário do Iguaçu noticiava: “Produtores desrespeitam lei para não pagar royalties”, uma forma de protesto, pois a taxa da Monsanto havia dobrado de valor, passando para R$ 1,20 o valor por saca, a mesma FAESC que outrora propagandeava os transgênicos, na matéria apoiava o boicote.

Os produtores da região, segundo a notícia anteriormente destacada, tentavam burlar a diretriz da Monsanto para não pagar os respectivos royalties, procurando alternativas, como adquirir as sementes de vizinhos, segundo uma fala de um dos produtores “Não adianta deixar de plantar, porque vem a produção transgênica de fora” (Diário do Iguaçu, 23 de Outubro, 2004) e finaliza afirmando que os catarinenses estão atrasados nesta questão.

As matérias de jornais e falas de produtores resgatadas pela pesquisa, evidenciam arbitrariedades da cobrança de royalties pela Monsanto. A aguardada liberação da soja transgênica não foi acompanhada por regulação federal e com fiscalização ativa para equilibrar a relação entre compradores e vendedores, logo nos primeiros anos, ficou evidente o martírio dos produtores que optaram pela produção de soja transgênica.

Em contraposição a FETRAF-SUL buscou alternativas na época visando atender a agricultura familiar. O jornal diário do Iguaçu publicou uma matéria no dia 03 de outubro de 2005, em que o coordenador da entidade explica o planejamento, ele afirma que na Europa existe grande resistência a soja transgênica, por isso é uma oportunidade de expansão de mercado para soja convencional e orgânica.

Na mesma matéria o coordenador da FETRAF-SUL, no período, Altemir Tortelli, falou sobre os riscos de os pequenos produtores aderirem somente a soja, pois uma eventual crise climática, seja por excesso de chuva ou estiagem, colocaria m risco a produtividade, levando a perda total do plantio. Enfatizou, que era de extrema importância que os agricultores diversificassem suas propriedades com outros cultivos, visando uma segurança econômica, conforme fala: “Para nós a produção de soja não é a melhor alternativa para os pequenos agricultores, por isso, orientamos que não invistam somente na produção de soja, diversifiquem a produção na propriedade” (Diário do Iguaçu, 03 de Outubro de 2005).

Analisando os embates em torno das discussões da soja transgênica, observa-se uma disputa de campo polarizada, de um lado temos quem duvide das promessas futuristas de lucratividade e menor impacto ambiental em decorrência da soja transgênica. Em contrapartida percebesse que existe e existiu discordâncias, dados técnicos foram apresentados pelos dois lados,

tanto os que defendem a transgenia e também por quem discorda de sua utilização. O meio ambiente continua sendo subjugado, a racionalidade dos seres humanos proporciona uma soberba noção de que é possível reverter desastres e eventuais indesejáveis pragas e contaminações.

A próxima etapa da pesquisa está voltada a compreender as mudanças que a soja transgênica trouxe consigo para a região, diferente das análises econômicas, analisa-se os efeitos sociais e ambientais que o uso e adoção desta monocultura acarretou na região. Quando a produção de alimentos e seus produtores (humanos) ignoram o mundo e ambiente a qual pertence, ou seja, onde se fixam as raízes, os animais que fazem parte do processo de polinização, as bactérias e fungos que oxigenam e fertilizam os solos e as águas que alimentam o crescimento.

Quando tais fatores são negligenciados, em favor de produtividade e renda, é uma ação de autossabotagem, não somos, enquanto pertencentes a espécie de seres vivos, imunes aos efeitos que causamos. Necessita-se dos solos férteis para produzir, de água limpa para viver, de mata para assegurar as margens dos rios, evitar erosões, de animais para sobreviver e equilíbrio para manter a biodiversidade. Os próximos subtítulos trazem uma abordagem neste sentido, com dados e análises técnicas, sobre como a soja transgênica, junto com o outros transgênicos, causaram um impacto ambiental que pode ser irreversível a curto e médio prazo.