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Herdeiros da revolução verde e grande aceleração

CAPÍTULO II: PRODUÇÃO DE SOJA TRANSGÊNICA NO OESTE CATARINENSE

2.1 Herdeiros da revolução verde e grande aceleração

Os transgênicos são frutos de debates anteriores, como por exemplo, da revolução verde, que sugere o combate à fome no mundo, precisando buscar alternativas eficazes de maior produtividade, menor custo e menos força de trabalho agregado. Partindo de tal premissa, surgem experimentos com engenharia genética, invenção de maquinários e crescimento da indústria química, esta última vista por algumas empresas como aliada na produção de agroquímicos, Umanã (2014) descreve o significado da revolução verde:

Revolução Verde é um conceito que tem um campo semântico aberto e difuso. Este termo pode estar relacionado a um processo centralizado, geográfica e historicamente no Sudeste Asiático. Assim como acontece com um macroprocesso que abrange a generalidade das mudanças tecnológicas do pós-guerra no terceiro Mundo. Sua definição pode referir-se estritamente a uma dinâmica de "aperfeiçoamento técnico" da produção agrícola, particularmente de produção de grãos, enquanto, ao mesmo tempo, pode ser ligada a estratégia geopolítica de contenção do comunismo nos países pobres. Em alguns casos, a revolução é um processo baseado em genética, enquanto em outros é entendido como sistêmico, inclui também a química e a motorização das tarefas de cultivo e colheita. Em vezes é entendida como o período de crescimento, que começa em 1968 e atinge a atualidade, outras abordagens exigem sua extensão temporária até o pós-guerra, Segunda Guerra Mundial e até as décadas finais de século XIX. (UMANÃ. P. Wilson. 2014. p. 491)

Os termos e estratégias da Revolução Verde, ou seja, o conteúdo proposto é concretizado no viés político, analisar o fator relacionado à domesticação e controle da natureza pelo homem, uma tentativa, em vezes frustrada, de corrigir o que classificam de “natureza hostil”. Em princípio, a humanidade que desestabilizou os biomas, fauna e flora; historicamente alterou-se a natureza para nos servir, alguns povos em maior ou menores escalas, Dean (2004) menciona a atividade do homem e sua necessidade em “alterar e modificar o ambiente, tornando o ambiental

habitável as suas necessidades”, isso exige desde queimadas à introdução de plantas exóticas em determinada região, criação de novas florestas artificiais, mudança no curso dos rios, entre outras tantas que foram acontecendo e que até hoje não cessaram.

A grande aceleração do pós-guerra nos trouxe máquinas, alimentos e produtos gerados em laboratórios, florestas e jardins artificiais, muitos destes criados para restaurar o que foi destruído com a guerra e devastação de biomas nativos. A soja transgênica também é um produto criado para suprir uma demanda maior de alimentos. Após 1945, houve um rápido e veloz crescimento industrial, químico e farmacêutico.

Alguns teóricos discorrem sobre as mudanças abruptas que desaguam na sociedade pós- 1945: Bruno Latour, em seu livro “Jamais Fomos Modernos” (1994, p.07), no primeiro capítulo intitulado “Crise”, dialoga com a factível proliferação dos híbridos, uma mistura de saberes, informações, tecnologias, alterações, dentre outras, tais aspectos em síntese, converte-se na sociedade em ebulição:

Na página quatro do jornal, leio que as campanhas de medidas sobre a Antártida vão mal este ano: o buraco na camada de ozônio aumentou perigosamente. Lendo um pouco mais adiante, passo dos químicos que lidam com a alta atmosfera para os executivos da Atochem e Monsanto, que estão modificando suas linhas de produção para substituir os inocentes clorofluorcarbonetos, acusados de crime contra a ecosfera. Alguns parágrafos a frente é a vez dos chefes de Estado dos grandes países industrializados se meterem com química, refrigeradores, aerossóis e gases inertes. Contudo, na parte de baixo da coluna, vejo que os meteorologistas não concordam mais com os químicos e falam de variações cíclicas. Subitamente os industriais não sabem o que fazer. Será preciso esperar? Já É tarde demais? Mais abaixo, os países do Terceiro Mundo e os ecologistas metem sua colher e falam de tratados internacionais, direito das gerações futuras, direito ao desenvolvimento e moratórias. (LATOUR, 1994, p. 07)

As páginas de jornais relatadas por Bruno Latour na citação acima, traz luz a sociedade dos híbridos, em que tudo se mistura, faz-se os filtros individuais que desejam, mas ao mesmo tempo nos conecta aos mais diversos assuntos, saberes e técnicas. Ao passo que a ciência cria uma nova tecnologia, uma descoberta inusitada, a política adquire um novo mecanismo de poder, quem controla o poder também domina as novas práticas, porém a velocidade de inovações não acompanha uma racional distinção ética ou moral, tais fatos se reforçam na teoria de Milton Santos:

A história do homem sobre a Terra é a história de uma ruptura progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do Planeta, armando-se de novos instrumentos para tentar dominá-lo. A Natureza artificializada marca uma grande mudança na história humana da Natureza. Agora, com a tecnociência, alcançamos o estágio supremo dessa evolução. Enquanto esperamos o "dia eterno" com auroras boreais artificiais em todas as latitudes, na previsão de J. Ellul, já

conhecemos a criação humana de tempestades, cataclismos, tremores de terra, hecatombes, fantasticamente artificiais, fantasticamente incompreensíveis. (SANTOS, Milton. 1992. p. 96-97)

Compreender os aspectos da “revolução verde” e a “grande aceleração” não são duas tarefas distintas, é algo complementar, uma incide sobre a outra, ainda que, em vários casos isso seja discutido em teoria de maneira paralela, não ocorrem separadamente, esses dois aspectos auxiliam na compreensão de um campo maior, mas se faz necessário uma revisão dos fatores condicionantes que, se dialogam historicamente.

O subtítulo a seguir trabalha coma difusão dos transgênicos no Oeste Catarinense, concetando os atores sociais (Ong’s, Entidades governamentais, Empresas, Órgãos Reguladores e de controle, entre outros) a discussão deste tema polêmico, discute como foi o processo de convencimento dos produtores e as relações comerciais.