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CAPÍTULO II: PRODUÇÃO DE SOJA TRANSGÊNICA NO OESTE CATARINENSE

2.2 A criação, conhecimento e difusão

A introdução da soja transgênica no Estado de Santa Catarina faz alusão a um debate dicotômico: inovação tecnológica ou experimento nocivo? A falta de informações seguras geram controvérsias, de um lado as empresas e multinacionais que defendem seus produtos e uma suposta idoneidade dos mesmos, em contrapartida, Ong’s e alguns institutos governamentais como IBAMA e IDEC, que tentam barrar a difusão por não ter pesquisa suficiente para provar que os transgênicos são seguros.

Existe uma grande diferença na parte alcance do assunto e os principais argumentos que em tese, deveriam ser explicados, apresentados aos produtores do campo e aos consumidores, o grau de proximidade é um fator potencial na propagação de informação, seja através das cooperativas ou a visitação pessoal à propriedade, com demonstrações, exemplos, dentre outros artífices possíveis dentro do cenário de convencimento e adesão, os aspectos físicos da soja transgênica não diferem da convencional, sendo necessário um estudo amplo e completo.

As empresas que fabricam e comercializam sementes, possuem representantes que atuam no campo de maneira constante, vendendo, prestando auxílio e informações (mesmo que tais informes não tenham fonte segura, ou comprovação nos órgão de segurança alimentar) sobre seus novos produtos, neste caso em específico, o desenvolvimento da soja transgênica pela empresa Monsanto, que apresentava como precursora a sua nova semente denominada de “R.R 1” (Roundup Ready), tal

semente já estava em plena atividade (antes de 2000) nos Estados Unidos e no país vizinho, Argentina.

Diferente da empresa e sua proximidade com o agricultor, os órgãos fiscalizadores não possuem todo esse corpo colaborativo para visitar o produtor e explicar que não existem laudos que assegurem o plantio de OGM’s ou mesmo de prestar esclarecimentos, indicando alguns pontos de atenção como: nem toda experiência genética é algo positivo, podem existir riscos eminentes, tanto para a saúde humana ou a biodiversidade ambiental, quanto à segurança dos solos, entre outros fatores.

A liberação da soja transgênica iniciou no ano de 1998, em publicação no Diário Oficial da união nº 18826, com o seguinte parecer: “A CTNBio concluiu que não há evidências de risco ambiental ou de riscos à saúde humana ou animal, decorrentes da utilização da soja geneticamente modificada”, a decisão baseou-se em alguns estudos complementares, porém em 1999 surge um revés jurídico capitaneado pela IBAMA, a Ong Greenpeace e o IDEC; no ano de 2000 o Juiz Antônio Prudente concede uma liminar proibindo o cultivo da soja transgênica da Monsanto, todo esse embate teve fim no ano de 2004 com ganho de causa da Monsanto.

O acirramento dos debates no Oeste Catarinense começou em 1998 e intensificam-se entre o ano de 2002 até 2004 que, coincide com o ano de liberação da comercialização de soja transgênica no País. As cooperativas compram a produtividade de sementes, armazenam para posteriormente comercializar, tem a preocupação com as patentes sobre os transgênicos e, isso fez com que as mesmas investissem em fiscalização e controle para evitar o pagamento de Royalties a Monsanto (na época, antes de sua patente vencer, era a única empresa que detinha a soja transgênica R.R1).

Na capa do Jornal local Diário do Iguaçu, com data em 08 de maio de 2002, (anterior a liberação comercial) trazia ao leitor a seguinte manchete: “CooperAlfa usa kit’s para identificar soja”, logo a seguir faz um adendo antes da matéria: “Cooperativa faz análise de grãos e alerta aos afiliados que não vai receber nenhum carregamento de soja que contenha grãos geneticamente modificados. A decisão parte da diretoria da empresa em cumprimento com a lei que proíbe o cultivo de transgênicos”

O posicionamento da cooperativa não é de sentido contrário a produção de soja transgênica, esta decisão é tomada por precaução em não assumir uma multa por descumprimento a legislação

26Fonte: Diário Oficial da União.

Disponível em:

http://ctnbio.mcti.gov.br/documents/566529/686362/Comunicado+N%C2%BA%2054++Vers%C3%A3o+Portugu%C 3%AAs.pdf/abb7e27a9ac149b88ad0188fb1649d6d;jsessionid=C48EF37531B0093635FF4D2611D4C208.rima?versi on=1.0. Acesso 15/05/2019.

vigente, a lei 8.974 de esfera Federal vigente desde 1995, juntamente com os artigos 4°, 6° e 18° do código de defesa do consumidor proíbe o plantio e comercialização e define medidas punitivas em caso de descumprimento, a decisão da empresa visa a defesa financeira da cooperativa, sem assumir posicionamento favorável ou contrário.

A inciativa da CooperAlfa em adotar kit’s de identificação de soja confirma a hipótese que os plantios ilegais já ocorriam na região. Na mesma matéria a entidade associativa faz um novo alerta em relação ao destino da safra transgênica não comprada por eles: “Acredita-se que, como não será vendido a cooperativa, os produtores podem acabar transformando o grão em ração e servindo de alimento aos animais. O que também causa receio por falta de estudos precisos sobre a mudança que pode causar na espécie”.

Mesmo que o Ministério Público e seus fiscais atuassem na região, não existia aparato suficiente para controlar o plantio ilegal, nem todas as safras eram fiscalizadas e as que foram identificadas como transgênicas não eram denunciadas pelos compradores, portanto algumas safras acabavam chegando ao consumidor final, seja ela através da alimentação de animais ou até mesmo os derivados. O principal foco era identificar os plantios nas propriedades, podendo assim, os órgãos governamentais decidir a ação tomada, seja apreensões ou queima.

Desde a legalização dos transgênicos visualizou-se um aumento expressivo no cultivo. Atualmente a maioria das áreas plantadas de soja é com semente transgênica. Mas o fator primordial para as empresas era controlar as áreas de cultivo, hoje é quase impossível deter a contaminação das lavouras por sementes transgênicas:

O maior perigo representa a contaminação genética que ameaça a diversidade biológica, devido à destruição de plantas e da cadeia alimentar no ecossistema, ao desenvolvimento de novas pragas e enfermidades, bem como pelo surgimento de plantas daninhas resistentes. (ANDRIOLI, 2016, p. 188)

A não ser que se tenha um isolamento e distância considerável e segura de uma plantação para outra, não vai existir a preservação do cultivo de soja tradicional ou orgânica, isso talvez seja a meta central do monopólio de grãos transgênicos, seja de soja, milho ou algodão (que representam mais de 90%27 das plantações com sementes transgênicas no Brasil).

No começo, para obter adesão e controle das áreas e lavouras cultivadas, se estendia todo o tipo de benefício ao produtor, empréstimos, técnicos e insumos necessários, após garantir a quase

27Plantio de transgênicos de soja, milho e algodão avança para 93,4% do total do Brasil. Disponível em:

https://www.sna.agr.br/plantio-de-transgenicos-de-soja-milho-e-algodao-avanca-para-934-do-total-do-brasil/. Acesso em 26/06/2019.

totalidade por alguns anos de plantio com variedade transgênica, o custo da semente aumentou, o agrotóxico com o princípio ativo do glifosato também, os benefícios não foram renovados e o agricultor, temendo o pagamento de royalties, com medo de mudar para o cultivo tradicional, se viu refém da situação.