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A Linguística Textual e o processo de interação do texto

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Ramo da linguística, a linguística textual começou a desenvolver-se na década de 60, na Europa, e, de modo especial, na Alemanha. Entendendo o texto como forma específica de manifestação da linguagem, a Linguística Textual nasce como oposição à Linguística Estrutural, e por isso propõe transpor os limites da frase. Toma o texto como unidade básica, e o adota como objeto de investigação. O texto passa a ser conceituado como processo (e não como produto). Nesses processos de construção textual, os participantes do ato comunicativo criam sentidos e interagem entre si.

Na evolução da Linguística Textual, de acordo com Fávero e Koch (2008), encontram-se distintos três momentos principais: o da análise transfrástica, o das gramáticas textuais e o das teorias de texto. No primeiro momento, o percurso da análise ainda é da frase para o texto, com o objetivo de estudar as relações possíveis entre os diversos enunciados que compõem uma sequência significativa. O texto é concebido somente a partir de tessituras frásticas correferenciais, estabelecidas por diferentes elos coesivos textuais (anáforas, elipses, repetições). No entanto esses vínculos coesivos não asseguram unidade ao texto, pois a construção do sentido global do texto requer que o conhecimento intuitivo do homem seja considerado, por isso surge a necessidade de criar outra linha de pesquisa. No segundo momento, o das gramáticas textuais, procurou-se considerar o texto para além de uma lista de frases, mas um todo, dotado de unidade própria e, sua compreensão e a sua produção derivam da competência textual que todo falante nativo possui. Fávero e Koch (2008) afirmam o seguinte:

todo falante de uma língua tem a capacidade de distinguir um texto coerente de um aglomerado incoerente de enunciados, e esta competência é, também, especificamente lingüística... Qualquer falante é capaz de parafrasear um texto, de resumi-lo, de perceber se está completo ou incompleto, de atribuir-lhe um título ou ainda, de produzir um texto a partir de um título dado (p. 14).

Se todo falante nativo possui essa competência textual, pode-se considerar que a gramática textual tem como tarefa, de acordo com Fávero e Koch (2008), investigar o que faz com que um texto seja um texto, isto é, demarcar os seus princípios de constituição, de coerência e as condições em que a textualidade ocorre; definir o texto como algo completo; diferenciar as várias espécies de textos. Apesar desses avanços, as gramáticas textuais ainda apresentam problemas na sua formulação. Isso porque ao conceituar o texto como uma unidade formal, dotada de uma estrutura interna e gerada a partir de um sistema finito

de regras, segundo Koch, (2003) exclui o indivíduo e todo conhecimento inerente a ele. Outro problema das gramáticas de texto é a separação entre as noções de texto e a situação real de interação. A partir dessas observações, inicia-se a elaboração de uma teoria de texto que discute a relação texto e contexto, então surge uma teoria de texto.

Das gramáticas de texto, segue-se ao terceiro momento, o das teorias de texto, no qual o contexto pragmático, ou seja, as condições externas de produção e recepção se estendem do texto ao contexto comunicativo dando relevância para a compreensão do texto. Nessa perspectiva, o texto considera as condições de produção e de recepção, assim a idéia de que o texto é um produto pronto e acabado cede lugar ao texto como processo. Nesse sentido, Koch (2003) compreende o texto no seu próprio processo de planejamento, verbalização e construção, levando-se em consideração a produção textual como atividade verbal, consciente e interacional. Dessa forma, o texto passa a ser considerado um processo de interação entre o escritor/falante e o leitor/ouvinte, isso porque a construção de sentido do texto, não está apenas dentro dele, mas também fora dele. Essa concepção de texto diz UHVSHLWR WDQWR j OtQJXD IDODGD FRPR j OtQJXD HVFULWD ³SRLV RUDOLGDGH H HVFULWD5 são duas PRGDOLGDGHV GLVFXUVLYDV LJXDOPHQWH UHOHYDQWHV H IXQGDPHQWDLV´ 0$5&86&+,  p.72). Essa nova etapa de desenvolvimento da linguística de texto surge também graças a uma nova concepção de língua, a qual deixa de ser um sistema virtual autônomo, um conjunto de possibilidades e passa a ser entendida como um sistema real de uso em determinados contextos comunicativos (MARCUSCHI, 2008).

³2FRUUrQFLD FRPXQLFDWLYD´ DVVLP %HDXJUDQGH H 'UHVVOHU  apud Bentes, 2008, p.28) definem o texto, o qual satisfaz a sete padrões de textualidade. Ao postularem a textualidade como um princípio organizacional e comunicativo do texto, os autores acima citados tinham em mente a necessidade de contemplar tanto a organização interna do texto quanto, e principalmente, a função comunicativa do texto, uma vez que, como HVFUHYHP ³D TXHVWmR PDLV XUJHQWH p FRPR RV WH[WRV IXQFLRQDP QD LQWHUDomR KXPDQD´ (apuG%(17(6S (VVHGXSORFDUiWHUGRWH[WR³HQTXDQWRDUWHIDWROLQJXtVWLFRH SURFHVVR VRFLRFXOWXUDO´ %(17(6  S  REHGHFH D VHWH FULWpULRV FRQVWLWXWLYRV conhecidos como padrões de textualidade. São eles: coesão, coerência (centrados no texto), intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situcionalidade e intertextualidade (centrados no usuário).

Como já foi dito, a textualização tem o objetivo de contemplar aspectos organizacionais e interacionais do texto, assim centrada no texto, a coesão, de acordo com .RFK  S    p ³R IHQ{PHQR TXH GL] UHVSHLWR DR PRGR FRPR RV HOHPHQWRV lingüísticos presentes na superfície textual encontram-se interligados, por meio de recursos também lingüísticos, formando seqüências veiculadoras de sHQWLGR´WDPEpPFHQWUDGDQR texto, a coerência, ³GL] UHVSHLWR DR PRGR FRPR RV HOHPHQWRV VXEMDFHQWHV j VXSHUItFLH textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de VHQWLGRV´(VVHVVmRGRLVGRVSULQFLSDLVDVSHFWRVGHDERrdagem e discussão da Lingüística Textual, pois são duas formas de observar a textualidade: coesão baseada na forma e coerência baseada no sentido.

A relação entre coesão e coerência tem sido evidenciada como forte influência no processo de produção e compreensão de textos. Sobretudo a questão da coerência, que na busca pela textualidade, extrapola os limites do texto em si, passando a entendê-lo nas suas dependências de ordem linguística, cognitiva, sociocultural e interacional, isso porque autor e leitor de um texto não estão isolados, seja na produção ou na recepção desse texto. Marcuschi, (2008), postula que um texto, como unidade comunicativa, não é um conjunto aleatório de frases, por isso mesmo deve obedecer a um critério de textualização. Para ele, os critérios da textualidade, definidos, primeiramente, por Beaugrande e Dressler devem sofrer algumas ressalvas, principalmente por ver nesses critérios, equivocadamente, SULQFtSLRVGHERDIRUPDomRWH[WXDOXPDYH]TXH³RWH[WRQmRpDSHQDVXPVLVWHPDIRUPal e sim uma realização lingüística a que chamamos de evento comunicativo e que preenche condições não meramente formais´ S 

Charolles (1987), apud Koch; Travaglia,(2003), postula que a coerência do texto GHSHQGH GRV XVXiULRV H GD VLWXDomR SRLV  ³KDverá sempre a necessidade de recursos a conhecimentos exteriores ao texto (conhecimento de mundo, dos interlocutores, da VLWXDomRGHQRUPDVVRFLDLV ´ S $VVLP, um texto incoerente é aquele cujo produtor não o adéqua à situação comunicativa.

Também, pDUD0DUFXVFKL  ³DFRHVmRQmRpQHPQHFHVViULDQHPVXILFLHQWH RXVHMDVXDSUHVHQoDQmRJDUDQWHDWH[WXDOLGDGHHVXDDXVrQFLDQmRLPSHGHDWH[WXDOLGDGH´ (p. 104). Ao contrário, a coerência é fundamental, pois há casos em que a coesão superficial do texto não é necessária para a textualidade, mas também não significa que seja irrelevante. O que ocorre é que a coerência deduz tal coesão por meio de um imenso investimento de conhecimentos partilhados, o qual supre a ausência de outros critérios.

Assim, a coerência liga-se a atividades cognitivas. Ela é assim definida por Marcuschi (2008):

A coerência é, sobretudo, uma relação de sentido que se manifesta entre os enunciados, em geral de maneira global e não localizada. Na verdade, a coerência providencia a continuidade de sentido no texto e a ligação dos próprios tópicos discursivos. Não é observável como fenômeno empírico, mas se dá por razões conceituais, cognitivas, pragmáticas e outras (p. 121)

PaUD &RVWD 9DO  S   FRHVmR p D ³>@ PDQLIHVWDomR OLQJuística da coerência; advém da maneira como os conceitos e relações subjacentes são expressos na VXSHUItFLH WH[WXDO´ 'HSUHHQGH-se a partir dessas palavras que a coesão é um elemento auxiliar na constituição da coerência, mas que sozinha a coesão não garante a obtenção de um texto coerente. Cabe aqui lembrar as palavras de Marcuschi (2008, p.122) que ressalta a importância da coerência para fazer com que um texto seja um texto, e não apenas uma sHTXrQFLDGHIUDVHVDR³IULVDUTXHDFRHUrQFLDpXPDVSHFWRIXQGDQWHGDWH[WXDOLGDGHHQmR UHVXOWDQWHGHOD´

Além da coesão e da coerência, Beaugrande e Dressler apontam outros critérios de textualização. Um desses conceitos é o de intertextualidade, fator que relaciona um dado texto a outros textos relevantes encontrados em experiências anteriores. Já é consenso admitir, entre os teóricos, que todos os textos mantêm um aspecto intertextual, pois, nas SDODYUDV GH 0DUFXVFKL  S  ³QHQKXP WH[WR VH DFKD LVRODGR H VROLWiULR´ 1HVVH mesmo sentido, Koch (2003) diz o seguinte:

Todo texto é um objeto heterogêneo que revela uma relação radical de seu interior com seu exterior; e desse exterior, evidentemente, fazem parte outros textos que lhe dão origem, que o predeterminam, com os quais dialoga, que retoma, a que alude ou a que se opõe (p. 59).

A intencionalidade, critério centrado basicamente no produtor do texto, FRQVLGHUDDLQWHQomRGRDXWRUFRPRIDWRUUHOHYDQWHSDUDDWH[WXDOL]DomR$VVLP³8PDWRGH fala, um enunciado, um texto são produzidos com um objetivo, uma finalidade, que deve VHUFDSWDGDSHOROHLWRU´ 0$5&86&+,S

Relacionado à intencionalidade, tem-se o fator de aceitabilidade que diz respeito ao modo como o receptor do texto reage, aceita, considera ou se engaja nas intenções pretendidas, isso é, assume que o texto terá alguma relevância para ele. Outro critério, também relacionado à intencionalidade é a informatividade. De acordo com Marcuschi,  S   ³R HVVHQFLDO GHVVH princípio é postular que num texto deve ser possível

distinguir entre o que ele quer transmitir e o que é possível extrair dele, e o que não é SUHWHQGLGR´$LQIRUPDWLYLGDGHpUHVSRQViYHOSRUGHWHUPLQDUTXDLVHFRPRDVLQIRUPDo}HV estarão presentes no texto, uma vez que essas informações são condicionadas pela intenção do sujeito, que, por sua vez, é regulada pela situação comunicativa ou situacionalidade. A situcionalidade é um critério que representa a adequação social e cultural do texto.

Assim os critérios de textualidade garantem a compreensão e a unidade do texto. Na leitura de um texto, colaboram com o leitor, no sentido de ajudá-lo a atribuir sentidos à sua leitura, estabelecendo assim, a interação entre quem escreve e quem lê.

Nessa proposta interacionista de linguagem, o indivíduo é compreendido como ser histórico, que tem relação com seu meio ambiente. Leva-se em consideração o sujeito como ser que interage com o seu contexto social imerso em comunidades e culturas heterogêneas. Portanto a abordagem do presente estudo leva em consideração o homem (estudante) e as condições sociais, históricas e econômicas em que ele vive. Por isso emerge a necessidade de um leitor, segundo Braggio  S  TXH ³DR DSURSULDU-se criticamente da linguagem escriWDUHIOLWDHDWXHVREUHVXDUHDOLGDGH´$VVLPHVWHWUDEDOKR não pode separar-se da noção de leitor crítico.

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