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A linguagem da sedução – o mundo da comunicação

CAPÍTULO 5 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

5.6. A linguagem da sedução – o mundo da comunicação

A tecnologia é um recurso que auxilia o desenvolvimento da linguagem da sedução ao criar imagens, movimentos, cores, sons, palavras e estratégias para envolver emocionalmente e trabalhar com o imaginário das pessoas, aguçando seus sentidos e sentimentos e despertando o desejo e a necessidade pelo objeto.

A televisão, o rádio, o vídeo, o cinema, as revistas, os jornais e os livros são formas de comunicação que fazem parte da vida cultural das pessoas, seja para fins mercadológicos ou não.

Kenski traz o conceito de que a linguagem da sedução que o mundo da comunicação expõe para o ser humano tem a intenção de fazer da imagem um objeto de desejo:

As interações feitas com as comunicações midiatizadas abrem os horizontes do pensamento, criam fantasias, envolvem e seduzem emocionalmente. Transmite novas formas de linguagem onde estão presentes o pensar e o sentir. Cultura audiovisual que dá origem a uma nova linguagem, assumida pela sociedade contemporânea (KENSKI, 2003, p. 59).

O processo de envolvimento e sedução que as imagens e sons podem provocar desperta desejos e fantasias no espectador. A linguagem e as imagens unem-se para formar histórias que envolvam e emocionem as pessoas, provocando sentimentos e pensamentos diferentes entre os indivíduos.

Milton J. de Almeida diz que ―o espectador nunca vê cinema, vê sempre o filme. O filme é sempre um tempo presente, seu tempo é o tempo da projeção‖ (ALMEIDA, Milton J. de, 1994, p. 40).

81 É possível trazer este ―tempo presente‖ da comunicação para o tempo presente da educação?

No cinema ou na televisão, o espectador transpõe o seu ―eu‖ para o espetáculo a que está assistindo, como se estivesse conversando com outra pessoa, participando da cena. Ele se coloca no lugar do personagem, viaja nas paisagens e imagens apresentadas, transfere-se para o mundo da imaginação. Segundo Milton J. de Almeida (1994), isso só é possível porque a produção das imagens e sons é realizada a partir de simulações da vida real.

O autor também levanta a questão de que a linguagem audiovisual pode ser utilizada para massificação e que boa parte da população está sendo educada, formada ou informada por esse veículo de comunicação. Diz que é preciso responsabilidade no momento de produção audiovisual, pois quando se tornar um produto final, entregue ao consumidor, poderá influenciar na sociedade.

A imagem/som projetada, por mais fantasiosa que seja, é sempre real; está sendo vista/ouvida como no mundo real. A sua relação com a imaginação é direta e global, quase sem mediações, semelhante à situação da fala (oral). É muito diferente da imaginação reflexiva, mediada pela palavra escrita e pela sintaxe de um texto literário. É essa homologia com a fala (oral) e com a realidade visível/audível que dá ao cinema e à TV sua força e domínio sobre as populações orais atuais. São os instrumentos e o meio dominante da educação cultural massiva (ALMEIDA, Milton J. de, 1994, p. 26-27).

A linguagem utilizada na produção audiovisual está muito distante da linearidade aprendida na educação formal. Ela é uma mistura de movimentos, sons, imagens, gestos, expressões com o objetivo de tornar marcante o momento, de atingir os sentimentos das pessoas.

Para Babin e Kouloumdjian,66 a linguagem audiovisual se define em sete aspectos fundamentais:

Mistura – Mixagem da alquimia som-palavra-imagem, com a intenção

de criar no receptor uma experiência unificada. Linguagem popular.

Dramatização – O drama deseja a ação. Provocar realce, tensão.

Relação ótima entre fundo e figura – distâncias e correspondências

que criam o relevo. Presença – Se vê ou escuta com todo o corpo.

Composição por flashing – aspectos para chamar atenção,

sobressalentes. Concatenamento de mosaico – apresentação não

82 linear, dedutivo ou casual, mas é preciso contemplar o conjunto (FERRÉS, 1996b, p. 15).

A tecnologia dos recursos audiovisuais foi uma das criações mais surpreendentes, pois permitiu a comunicação entre os humanos nos mais longínquos locais e lares, formando uma grande teia e possibilitando a continuidade e o registro da história da humanidade.

A televisão pode ser considerada uma oportunidade para democratizar o conhecimento e a cultura. O fascínio que ela provoca, os estímulos audiovisuais, as luzes, cores e músicas estimulam emoções e conforto em satisfazer uma necessidade. ―O mundo da fantasia, dos sonhos, da poesia, e das fábulas é tão necessário para a saúde mental como o alimento para o corpo‖ (GONZÁLEZ, J. Lorenzo, 1988, p. 86. In: FERRÉS, 1996a, p. 35).

As pessoas necessitam de fantasias, sonhos, imagens, mitos, sons, símbolos para complementar a sua realidade. E a linguagem audiovisual traz esse conforto, pois o espectador participa indiretamente, vivencia em sua imaginação situações de alegria, medo, tristeza, raiva das situações representadas, mas sabe que está confortável, que irá correr riscos, pois as situações não são reais.

Segundo Ferrés:

A televisão age como espelho. As preferências dos telespectadores provêm tanto de um exercício da sua inteligência como de seus sentimentos. Quando o espectador escolhe os seus heróis ou heroínas, está manifestando as suas idéias, interesses, pulsões, esperanças e problemas. Quando ele avalia um programa está avaliando a si mesmo. Produz-se , inclusive, o paradoxo de que o telespectador acode à pequena tela para fugir de si mesmo e na realidade acaba se encontrando, mesmo que seja de forma inconsciente (FERRÉS, J., 1996a, p. 43).

A televisão e os filmes fazem com que simples histórias se transformem em grandes eventos, em grandes fatos. Grandes heróis surgem das telinhas. Campbell disse: ―existe algo mágico nos filmes. A pessoa que se vê está ao mesmo tempo em algum outro lugar. Esse é um atributo de Deus‖ (CAMPBELL, 2009, p.17).

A comunicação utiliza a sedução para envolver e emocionar as pessoas, tentando definir seus valores, códigos, desejos, transformando-os em mapas do comportamento humano.

83 Quando as pessoas aprendem a avaliar o que é recebido, decodificar as informações, relacionar com o que é de seu interesse, elas estão exercendo seu poder de autonomia, liberdade pelas suas escolhas e criticidade em relação ao que está sendo apresentado, não deixando dominar-se pela mídia.

Levy afirma que ―mesmo sentado na frente de uma televisão sem o controle remoto, o destinatário decodifica, interpreta, participa, mobiliza seu sistema nervoso de muitas maneiras, e sempre de forma diferente do vizinho‖ (LEVY, 1999, p. 79). Se o ser humano possui a capacidade de interpretar uma mesma imagem das mais diversas maneiras, também possui competência para selecionar o que deseja assistir.

Fazer leitura crítica das mensagens televisivas oferecidas, não se deixar vislumbrar perante a sedução da televisão e filmes, analisar, compreender e utilizar as informações recebidas para benefício próprio faz com que o telespectador tenha controle da tecnologia disponibilizada.