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Capítulo III. O turismo de negócios e o segmento Meetings Industry

3.1. A Meetings Industry: breve evolução histórica

A mais antiga forma conhecida de pessoas que viajavam em negócios remonta a milhares de anos antes do nascimento de Cristo, no tempo em que a troca dos produtos agrícolas entre comunidades predominava. Durante o período medieval, o mercado de troca estava solidamente implementado com grandes feiras estruturadas fisicamente nas principais cidades para onde se deslocavam comerciantes de todas as partes. A famosa Rota da Seda impulsionou, para além do desenvolvimento de alojamento e restauração ao longo do trajeto, novas atividades relacionadas com as viagens de negócios que consistiram nos transportes (negociantes de camelos) e os próprios guias (pessoas conhecedoras das características do trajeto). Outras formas foram surgindo ao longo da história das viagens de negócios, como por exemplo, a divulgação da religião, a deslocação de soldados mercenários para outros pontos geográficos para se juntarem a batalhas ou para ocuparem novos territórios ocupados e os trabalhadores que migravam temporariamente para outras regiões de modo a trabalharem por um período de tempo (caráter sazonal) (Santos & Cunha, 2011).

A Revolução Industrial e a colonização originaram um forte desenvolvimento das atividades relacionadas com as viagens em negócios, entre 1750 e 1900. O desenvolvimento do automóvel, na primeira metade do século XX, impulsionou as deslocações domésticas com carácter comercial e, a partir de cerca de 1950, as atividades relacionadas com as viagens de negócios evoluíram fortemente e originaram o desenvolvimento de estruturas especializadas para acolher grandes encontros de pessoas como centros de convenções e exposições. Mas foi o desenvolvimento do transporte aéreo (a partir da década de 60, com o surgimentos dos aviões a jato) e o surgimento de novos serviços direcionados para este segmento (classe executiva) que transformaram profundamente a organização das viagens associadas ao turismo de negócios (Swarbrooke & Horner, 2001).

Como a concorrência internacional para atrair eventos de negócios aumentou, com o aparecimento das viagens aéreas em massa na década de 1960, os destinos enfrentaram uma crescente influência para proporcionarem boas infraestruturas para os eventos e

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oferecerem incentivos aos organizadores. Para justificar estes investimentos para as autoridades governamentais locais e outras partes interessadas, tornou-se essencial estimar a contribuição económica que estes eventos traziam para os mais variados destinos, através da realização de estudos de impacto económico, que surgiram a partir da década de 1990 (Marques, 2012).

Conforme o Professor Leo Jago (ICCA, 2013), no final do século XIX, um pequeno número de cidades ambiciosas dos EUA, começaram a reconhecer o potencial do Turismo de Negócios para atrair turistas para os seus destinos e para preencher quartos de hotel, criando os primeiros gabinetes de convenções para explorar essa oportunidade. Gradualmente, ao longo da primeira metade do século XIX, esse sentido de entendimento espalhou-se pelo mundo e as economias mais desenvolvidas, construíram infraestruturas para encontros nacionais e internacionais.

Segundo Schuler & César (2014), o diretor de comunicação da federação brasileira de Convention & Visitors Bureau (CVB), Rui Carvalho, refere que o surgimento do primeiro Convention Bureau terá sido motivado pelo jornalista Milton Carmichael que no The Detroit Journal, a 6 de Fevereiro de 1896, se questionava sobre a indiferença dos empresários locais em relação à chegada de visitantes a Detroit. Desta forma, o artigo referia que os empresários deviam parar de promover a concorrência entre os seus empreendimentos e olhar para os seus próprios interesses, privilegiando uma visão global e estratégica do mercado, atuando em conjunto com outros empresários com o intuito de promover o desenvolvimento económico da cidade, o que segundo Carmichael, iria beneficiar cada um dos participantes.

Desta forma, o jornalista conseguiu despertar o interesse dos empresários que acabaram por fundar o Detroit Convention and Bussinessmen’s League que ambicionava captar convenções para a cidade de Detroit, retirando alguns benefícios económicos, como também o reconhecimento das cidades onde aconteciam as convenções, começando a surgir os Convention Bureau nos EUA e posteriormente na Europa (Carvalho, n.d.). De acordo com Cunha & Abrantes (2013), após a Segunda Guerra Mundial, os esforços da cooperação internacional, o desenvolvimento das facilidades de comunicação e a

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evolução da sociedade determinaram o crescimento em flecha das reuniões nacionais e internacionais com os mais diversos objetivos e sob as formas mais diversas: congressos, convenções, seminários, colóquios, jornadas, assembleias, que originaram um mercado de viagens com características próprias.

Um CVB é, geralmente, constituído e financiado como uma sociedade entre organizações privadas e públicas que estejam ligadas direta ou indiretamente ao setor do turismo e o seu financiamento poderá provir do setor público (em muitos casos, a única fonte de financiamento), da cotização dos associados do setor privado, dos patrocínios, das atividades comerciais elaboradas com membros associados e, em alguns casos, através de comissões cobradas aos espaços que acolhem os variados eventos promovidos pelos CVB’s. Em alguns casos, podem ser estruturados como prolongamento da autoridade turística local através da criação de balcões ou seções específicas, noutros casos podem ser uma organização autónoma e integral dentro ou fora da própria autoridade turística local, trabalhando sempre em cooperação e com o grande objetivo de desenvolver o turismo local (Santos & Cunha, 2011).

Os primeiros centros para a prática de international business, relacionam-se com o desempenho de doing business (realizar negócio) a nível internacional, ou seja, as pessoas e as organizações interagem entre elas, a fim da concretização e troca de transações, trabalho e novos conhecimentos (Hall & Coles, 2008).

Estas reuniões começaram por se realizar em salas que eram aproveitadas para tal fim, construindo-se, depois, palácios ou centros de congressos e, atualmente, a generalidade dos hotéis passou também a dispor de condições para a sua realização.

A MI surgiu nas últimas décadas como um contributo importante para as economias nacionais e tem sido para o turismo, um elemento crescente e significativo. A MI foi inicialmente conhecida por MICE, que se referia a quatro tipologias de diferentes especificidades, Meetings, Incentives, Conventions e Exhibitions. A responsável Linda Pereira, vice-presidente da ADVT, na altura, explicou, em 2007, à Publituris, a mudança de nomenclatura do segmento. “A sigla MICE foi bem recebida em todo o mundo. No entanto, o seu significado em inglês causava algum transtorno em alguns países, daí ter

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surgido a ideia em mudar o nome. MI é, a partir de agora, o nome utilizado para este segmento. O facto de ter o nome “Industry” dá uma maior força ao conceito” (in Publituris, 2007).

Segundo Marques & Santos (2011), existiriam em Portugal, neste ano, quatro CVB’s, nomeadamente no Porto, Lisboa, Estoril/Sintra e Algarve. A existência de um CVB prende-se com o objetivo de promover os locais onde se inserem como destinos ideais para o turismo relacionado com os negócios. A promoção dos equipamentos específicos necessários à realização de reuniões, bem como a promoção de equipamentos e infraestruturas complementares e todo o leque de atrações turísticas torna-se fundamental para cativar a realização de todo o tipo de atividades relacionadas com negócios.

Na tentativa de corrigir esta lacuna, a OMT e Filiados, Reed Travel Exhibitions (RTE) e a ICCA, em colaboração com MPI encarregaram o Sustainable Tourism Cooperative Research Centre (STCRC) da Austrália de incentivar a OMT a concentrar-se mais no MI para realizar um estudo que levasse propostas para a adaptação da Conta Satélite do Turismo (CST) para refletir sobre a verdadeira importância do MI e sua contribuição para o turismo (ICCA, 2011).

O Turismo, é de facto, confrontado com o problema de ser incapaz de demonstrar o seu valor e, portanto, a CST foi desenvolvida, com o objetivo de ser usada como uma ferramenta analítica para medir a relação do turismo com a MI (ICCA, 2011). A fim de obter dados comparáveis, a MI será obrigada a definir conceitos e definições necessárias para se medir e identificar uma lista de produtos apropriados (serviços) para a sua inclusão e promover e cooperar na recolha de dados, tanto do lado da procura como da oferta.