CAPÍTULO III ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO, RECOLHA, ANÁLISE E
3. Funcionamento da simulação empresarial (SE)
3.2. A metodologia de avaliação na Simulação Empresarial
Conforme já referimos na introdução geral desta investigação, a metodologia de avaliação da unidade curricular em análise será objecto de estudo pela doutoranda Liliana Fernanda Moreira Carvalho Bastos Azevedo. No entanto, não poderíamos deixar de apresentar, ainda que sumariamente, a metodologia em uso, para melhor percepção da nossa pesquisa.
Toda a nova metodologia de avaliação é estruturada na perspectiva da aquisição de competências, sendo mais voltada para o grau de satisfação e sucesso do estudante do que do docente.
Qualquer pretensão de definição de uma metodologia de avaliação pressupõe a clarificação prévia do objecto de incidência e da respectiva finalidade, ou seja, a identificação precisa do que se pretende avaliar concretamente e do propósito que se visa servir.
A multiplicidade dos agentes envolvidos na função didáctica aponta para a necessidade de avaliação de entidades diversas, como os estudantes, os docentes, os programas e a escola.
E um processo avaliativo consistente, não constituindo um fim em si mesmo, tem que ser concebido como uma fórmula de informação subordinada, não só à finalidade que a motiva, mas também ao contexto do alvo da avaliação.
No caso das unidades de Projecto de Simulação Empresarial I e II, pretende-se discorrer sobre a especificidade da avaliação de cada estudante (o objecto diferenciado de avaliação), com o objectivo de apreciar o grau de eficácia do desempenho de cada um daqueles intervenientes no processo de formação, sendo os próprios, os docentes e a escola os destinatários privilegiados da informação correspondente.
A particularidade do processo de formação de competências para que a Simulação Empresarial se orienta molda a metodologia do ensino e o próprio esquema de avaliação, construído numa base dinâmica prioritariamente
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interessada nos progressivos efeitos de mudança esperada nos estudantes, através da aprendizagem de comportamentos complexos, mas também preocupada com a verificação das capacidades adquiridas com vista à sua certificação académica final (Anexo 4 – Caderno de Apoio e Regulamento de Frequência, Inscrição e Avaliação de PSE).
Num caso e noutro, importa sublinhar o especial contexto em que decorrem as aulas ao longo de cada semestre lectivo, merecendo particular destaque as seguintes circunstâncias:
A unidade curricular não se identifica com o conceito tradicional de ensino por transmissão de novos conhecimentos; diversamente, consubstancia-se no envolvimento de todos os agentes num ambiente de trabalho, mediante a criação e exigência de resolução de toda a gama de problemas decorrentes do curso normal da vida de uma empresa, perante os quais haverá que actualizar e aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos noutras unidades curriculares do curso;
Assim, competirá aos estudantes exercitar a aplicação de conhecimentos pressupostamente adquiridos, utilizando-os em circunstâncias práticas concretas e podendo recorrer a fontes disponíveis em manuais, livros, Internet, entre outras, em igualdade de condições com as observâncias da vida real do trabalho;
Ao docente incumbirá, para além da função profissional imposta pelo guião, que o transforma num agente económico ou parceiro de trabalho que interage com cada estudante representante da sua empresa específica, apoiar o trabalho do estudante;
A actividade de cada estudante e/ou empresa, tendo necessariamente efeitos
reflexos na dos demais, insere-se num complexo modelo de
interdependências, pelo que cada uma determina e fica determinada pela dos restantes;
A eficácia do desempenho a medir relativamente a cada estudante diz respeito quer à individualidade de cada uma das acções produzidas, avaliadas em cada sessão à medida que são executadas, quer ao resultado
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final reflectido pelas peças contabilísticas formais de balanço e apuramento dos resultados da empresa em que participa e pela qual é responsável;
Nas tarefas repetíveis, deverá ser diferenciado o peso relativo da importância das executadas pela primeira vez, apoiadas pelo docente, relativamente às realizadas por reiteração.
Tratando-se de uma prática de ensino de formação, cujo objectivo fundamental é a ligação da teoria à prática, transformando a vivência da formação em experiência profissional, onde o estudante ganha um papel activo, a avaliação é interpretada como um processo de recolha sistemática de informação, destinada ambivalentemente à medição dos progressos dos estudantes (por estes e pelos docentes, na dupla dimensão de auto e heteroavaliação) e à decisão de realizar os reajustamentos de formação decorrentes considerados necessários.
Em cada uma das etapas distintas e graduais do percurso de ensino previamente planeadas, importa verificar e qualificar o grau de progressão na trajectória de acumulação de competências, propiciando ao estudante a possibilidade de questionar a sua própria evolução. No termo do processo de formação, em face da obrigatoriedade de classificação para fins administrativos, não se poderá deixar de formular um juízo de apreciação sobre o nível de satisfação das competências adquiridas por cada um dos estudantes.
A avaliação deverá ser realizada de acordo com critérios predominantemente qualitativos, em função de atributos-alvo que se pretende que os estudantes atinjam durante o seu percurso. Todavia, os condicionamentos académicos não permitem, para já, a abdicação do expediente de classificação numérica, por referência a um sistema de valores pré-definido.
Pela natureza do curso, a avaliação insere-se no próprio processo de ensino: aprende-se avaliando e ensina-se ao avaliar. Nesta medida, a avaliação constitui um ingrediente do ensino e da aprendizagem, que contribui para o desenvolvimento da autonomia do estudante, potenciando as suas aptidões profissionais, através da valorização dos saberes previamente acumulados pela
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apropriação do saber fazer, do saber estar e do saber agir, que formatam a competência evidenciada.
Precisamente porque se visa um objectivo amplo de competência, que abarque igualmente o saber estar, o plano de avaliação incorpora também a aferição da conformidade dos comportamentos e atitudes éticas dos estudantes.
O dispositivo técnico da avaliação está construído numa base informática de recolha contínua e de ponderação sistemática da série de indicadores pertinentes para cada um dos predicados da formação de competências, concebidos com objectividade e dados a conhecer com antecedência aos estudantes com transparência, através da explicitação do valor numérico correspondente ao estipulado na grelha de apreciação. Isto permite uma avaliação o mais afastada possível da subjectividade do docente (Regulamento de Inscrição, Frequência e Avaliação das unidades curriculares).
Figura 14 - Algoritmo de Avaliação
Fonte: Caderno de Apoio
Conforme podemos analisar pela figura acima apresentada, a componente com maior significado na avaliação global do estudante são a avaliação contínua (grupo) efectuada em todas as sessões de trabalho, a auditoria aos dossiês físicos da empresa e a elaboração do relatório final. No que concerne à nota
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individual, a assiduidade e a pontualidade, os comportamentos e a ética são parte fundamental deste algoritmo.
Em síntese, a avaliação dos graus de competência adquiridos ao longo da frequência nas unidades curriculares de Simulação Empresarial obedece a um modelo com as seguintes características:
Momento de verificação e notação:
o Contínua, ao longo das sucessivas etapas de ensino/aprendizagem (todas as sessões);
o Pontual, intermédia, mediante auditorias periódicas ao arquivo físico; o Pontual, no termo do processo formativo.
Responsabilidade da avaliação: do docente.
Subdomínios de competência que são objecto de apreciação: o Cargas de trabalho:
Diversidade de tarefas;
Volume de documentos por tarefa; o Oportunidade de execução das tarefas;
o Comportamento (lista de comportamentos negativos);
o Nível de conhecimento (relatórios e apresentação de conclusões); o Grau de cumprimento de objectivos de gestão da empresa;
o Qualidade de interpretação, execução e organização; o Comunicação oral com recurso à autoscopia.
Natureza: formativa, orientada para ajudar o estudante a aprender; Base instrumental de suporte: em formato electrónico;
Personalização do mérito: discriminando a ponderação dos factores avaliativos em função da co-responsabilidade de outros agentes com que o estudante interage;
Retroacção: em cada sessão, segundo os critérios pré-definidos, cada estudante é imediatamente informado da pontuação electronicamente atribuída em função dos diversos factores comportamentais, sendo evidenciados os aspectos positivos dessa sessão em concreto, sendo os
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erros corrigidos pelo docente (Anexo 5 – Avaliação a uma sessão de uma empresa – peças resultantes).