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O ensino superior da Contabilidade e da Gestão em Portugal

CAPÍTULO I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.2. O ensino superior da Contabilidade e da Gestão em Portugal

O Decreto Lei nº 74/2006, de 24 de Março, veio decretar a obrigatoriedade e os limites para que as instituições de ensino superior encetassem as medidas necessárias à implementação de Bolonha nos cursos oferecidos.

A discussão arrastou-se durante algum tempo, desde a assinatura da Declaração de Bolonha, em 19 de Junho de 1999, até ao ano de 2009, em que as instituições superiores, por imposição governamental, tiveram de chegar a um consenso e colocar em prática o preconizado pela Declaração. A duração dos cursos no primeiro ciclo, a existência de um segundo ciclo ao nível de universidades e de politécnicos, e de um terceiro ciclo nas universidades e respectiva estruturação foram aspectos polémicos. A re-estruturação curricular das unidades disciplinares, numa contagem do ensino por unidades de crédito e a redução significativa do número de horas lectivas, foi um processo extremamente moroso e difícil.

As principais dificuldades encontraram-se na re-definição curricular das unidades disciplinares, na adequação das metodologias de ensino a uma abordagem de ensino/aprendizagem centrada nos estudantes, na mudança de atitude dos docentes na escola, no processo avaliativo e na redução do número de horas lectivas. Pensamos que essas dificuldades continuam a existir, dado que os docentes são os mesmos de então e as metodologias não se alteraram significativamente.

Achamos importante analisar a estrutura curricular dos cursos superiores de contabilidade e administração nos institutos politécnicos do nosso país, de forma a percebermos qual a relevância das unidades curriculares práticas nos programas curriculares e que metodologias foram inseridas de forma a alterar o foco do ensino para o estudante. Esta análise aos politécnicos justifica-se dado que a proposta apresentada nesta investigação prende-se com este ensino superior.

Em Portugal, existem diversas instituições superiores politécnicas e escolas integradas em Universidades que oferecem cursos em diversas áreas, no entanto,

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iremos apresentar, de seguida, unicamente, os cursos de contabilidade e da administração.

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Quadro 11 – Cursos Superiores de Contabilidade e Administração no Ensino Politécnico

IP/ ESCOLA CURSO S ECTS

UNIDADES CURRICULARES

DESIG DESIG ECTS

Instituto Politécnico da Guarda - Escola Superior de Tecnologia e Gestão da Guarda Contabilidade (D e Noct) 6 180 E P 2 S – D 1 S – N 17

Instituto Politécnico de Castelo Branco - Escola Superior de Gestão de Idanha-a- Nova Contabilidade e Gestão Financeira (D e Noct) 6 180 E SE 15

Instituto Politécnico de Coimbra - Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra Contabilidade e Auditoria (D e Noct) 6 180 SE (2 S) 16 Instituto Politécnico de Leiria - Escola

Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria Contabilidade e Finanças (D e Noct) 6 180 --- SE (2 S) Instituto Politécnico de Lisboa - Instituto

Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa Contabilidade e Administração (D e Noct) 6 180 --- PSE (2 S) 16

Instituto Politécnico de Santarém - Escola Superior de Gestão de Santarém

Contabilidade e Fiscalidade (D e Noct)

6 180 E ou P SE

(2 S) 11 Instituto Politécnico de Setúbal - Escola

Superior de Ciências Empresariais de Setúbal

Contabilidade e Finanças (D e Noct)

6 180 --- SE 21

Instituto Politécnico de Viana do Castelo - Escola Superior de Ciências

Empresariais

Contabilidade e Fiscalidade (Noct)

6 180 --- PSAE 9

Instituto Politécnico de Viseu - Escola Superior de Tecnologia de Viseu

Contabilidade e Administração (Noct)

6 180 E SE

(2 S) 5,5 Instituto Politécnico de Viseu - Escola

Superior de Tecnologia e Gestão de Lamego

Contabilidade e Auditoria ( D e Noct)

6 180 --- --- ----

Instituto Politécnico do Cávado e do Ave - Escola Superior de Gestão

Contabilidade (D e Noct) 6 180 E PSE 15 (P =180) 5 (TP = 45) Instituto Politécnico do Porto - Escola

Superior de Estudos Industriais e de Gestão

Contabilidade e Administração (D e Noct)

6 180 AIC PSE 21

Instituto Politécnico do Porto - Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto Contabilidade e Administração (D e Noct) 6 180 EC PSE (2 S) 16 Universidade de Aveiro - Instituto

Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro

Contabilidade

(D e Noct) 6 180 --- SE 36

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Legenda das siglas utilizadas no quadro anterior: PSAE – Prática Simulada em Ambiente Empresarial; AIC – Aplicações Informáticas de Contabilidade; D – Diurno; DESIG – Designação; E – Estágio; EC – Estágio Curricular; IP – Instituto Politécnico; Noct – Nocturno; P – Projecto; PSE – Projecto de Simulação Empresarial; S – Semestre; SE – Simulação Empresarial e TP – Teórico- prática.

As designações dos cursos variam, indo desde a Contabilidade, à Contabilidade e Finanças, à Contabilidade e Gestão, passando ainda pela Contabilidade e Administração. Estruturam-se em 6 semestres e englobam 180 ECTS (Sistema Europeu de Transferência de Créditos). Contemplam ainda a hipótese de os estudantes efectuarem um número entre 6 a 8 ECTS de unidades curriculares optativas (depende da escola) e apresentam, nos dois últimos semestres, unidades disciplinares de carácter prático laboratorial nas áreas científicas da contabilidade e da contabilidade e administração (Despachos nº.s 1808/2007, 8201/2007, 9272/2007, 9273/2007, 19282/2006, Relatório de Concretização do Processo de Bolonha, 20 de Dezembro de 2008, do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC) e outra documentação consultada nos sítios da Internet das diversas escolas em análise).

A unidade curricular de índole prática é designada, na maioria das escolas, por Projecto de Simulação Empresarial I e II e de Simulação Empresarial I e II, apresentando desde um mínimo de 9 ECTS até ao máximo de 36 no total do curso (por cada unidade curricular). Em algumas destas escolas, as unidades curriculares de SE ou PSE podem ser substituídas pelo Estágio e/ou pelo Estágio Curricular ou mesmo por um Projecto, encontrando-se nos dois últimos semestres do primeiro ciclo.

Pela análise efectuada, verificamos que antes e após adaptação a Bolonha, as unidades curriculares mantiveram-se em termos de designações, tendo havido alterações no número de horas e a introdução de outras, essencialmente nas optativas, nos dois últimos semestres do primeiro ciclo.

Os planos curriculares conducentes ao grau de licenciatura organizam-se em três anos lectivos, subdivididos em seis semestres, contrariamente aos anteriores

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planos que eram compostos por dois ciclos de estudos (bacharelato (3 anos) e licenciatura (2 anos)). As unidades curriculares eram diferenciadas em teóricas, teórico-práticas e práticas e estava ainda definido um número de horas presencial. Com as alterações a Bolonha, elas passaram a dividir-se entre teóricas, teórico-práticas, práticas, laboratoriais, trabalho de campo, seminário, estágio, orientação tutorial e outras, sendo estabelecido o número de horas presencial dos estudantes, as horas de trabalho fora da sala de aula e as tutoriais, de modo a que um número mínimo de horas seja equivalente a um ECTS. Um (1) ECTS representa 27 horas de trabalho do estudante, o que para o primeiro ciclo, significa um total de 4860 horas. Estas horas de trabalho repartem-se, de acordo com a unidade curricular, em actividades que envolvem o contacto com o docente em aulas presenciais colectivas, aulas laboratoriais, trabalho de campo, seminários, horas tutoriais, estágios e o trabalho individual, bem como o estudo individual, o trabalho de grupo e o trabalho de projecto, abarcando ainda a avaliação.

As horas de PL (prática laboratorial), de SEM (seminários) e TC (trabalho de campo) representam, em média, 191,5 horas do total de horas (4860) do 1º ciclo, cerca de 3,4%. Não encontramos nas pesquisas efectuadas qualquer referência à fixação do número de horas individuais, estando mencionado em alguns casos, como no ISCAC e no ISCAA (Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro) que o docente tem responsabilidades de calendarização dessas horas junto dos estudantes. Também no que concerne às horas tutoriais, não existe qualquer obrigatoriedade, por parte dos docentes, em disponibilizá-las aos estudantes, a não ser que estes o solicitem.

Verificamos que, e de acordo com a nossa experiência de dez anos nesta área do ensino, Bolonha veio alterar as estruturas curriculares no sentido de lhes conferir uma maior versatilidade de aquisição de saberes parcelares e isolados pelos estudantes (ECTS) e introduziu também unidades curriculares de índole prática laboratorial ou simulada. No entanto, consideramos que o seu peso e o momento de introdução não é suficiente nem eficaz na missão de dotar os estudantes do perfil pretendido ao nível das competências técnicas e vocacionais.

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De acordo com os dados apresentados no quadro anterior, verificamos que existe uma grande amplitude entre os créditos das unidades curriculares práticas de umas escolas para outras, num mínimo de 9 e num máximo de 36. A questão que se nos afigura de resposta urgente prende-se com o facto de existirem ou não outras unidades curriculares pertencentes ao plano curricular que dotem os estudantes das competências práticas exigidas no mercado de trabalho. Para responder a esta questão, seria necessário proceder a um estudo junto destes estudantes e dos demais intervenientes, nomeadamente através da aplicação de um questionário no fim do curso e da realização de entrevistas aos docentes e coordenadores de área. Tal estudo não é objecto desta investigação. No entanto, julgamos ser importante para futuros trabalhos perceber qual a influência destas unidades curriculares num maior ou menor grau de aquisição de competências práticas pelos estudantes, em todas as escolas politécnicas do país. Outra questão que se nos afigura de grande importância relaciona-se com os aspectos metodológicos utilizados nas diversas “simulações”. As opiniões divergem neste âmbito e o seu estudo futuro seria importante, de modo a averiguar se as unidades curriculares de “simulação” são iguais nas várias escolas politécnicas, uma vez que os estudantes têm agora a liberdade de optar por qualquer escola para as efectuarem. É também necessário saber se o grau de licenciado será obtido em condições semelhantes. Serão os cursos apresentados iguais? Um estudante licenciado em Lisboa apresenta as mesmas competências e o mesmo perfil que um estudante licenciado em Viseu ou no Porto?

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