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Esquema 01: Triangulação de dados

4. PERCURSO METODOLÓGICO

4.1 A Metodologia de Natureza Qualitativa

Para responder à questão norteadora desta pesquisa, optamos por uma abordagem de natureza qualitativa na modalidade de estudo de caso. Essa turma pode ser caracterizada como tendo características próprias bem pontuais que descreveremos mais adiante.

Para tanto, procuramos destacar as potencialidades de interação e diálogo entre os diferentes participantes, visando identificar e averiguar as aprendizagens, salientando os saberes matemáticos adquiridos pelas pessoas envolvidas por meio dos processos interativos existentes nos Grupos Interativos. Nessa perspectiva, o processo vivenciado pelos próprios alunos e o percurso teórico-metodológico em que se estruturou esse trabalho, se mostra muito mais

importante que a elaboração de qualquer produto final. Essa ideia está entrelaçada com a definição de investigação qualitativa que adotamos após leituras e estudos teóricos para construção deste referencial. De acordo com Lüdke (1986, p. 18), “o estudo qualitativo [...] é o que se desenvolve numa situação natural, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada”.

Concebemos que uma investigação de cunho qualitativo leva em conta o ser humano como agente do mundo em que vive como ser interpretativo e atuante e não apenas como ser passivo. Segundo Oliveira (2008, p. 3) “o estudo da experiência humana deve ser feito, entendendo que as pessoas interagem, interpretam e constroem sentidos”. Já para Coutinho (2008, p. 7) a abordagem qualitativa:

(...) defende uma lógica indutiva no processo da investigação; os dados são recolhidos não em função de uma hipótese predefinida que há que pôr à prova, mas com o objetivo de, partindo dos dados, encontrar neles regularidades que fundamentem generalizações que serão cada vez mais amplas.

Essa é uma característica presente em nosso trabalho e pode ser observada a partir da formulação da questão norteadora, que não pretende provar nenhum tipo de hipótese inicial, mas sim de destacar as potencialidades de interação e diálogo entre os diferentes participantes, visando identificar e averiguar as aprendizagens, salientando os saberes matemáticos adquiridos pelas pessoas envolvidas por meio dos processos interativos existentes na prática de Grupos Interativos no contexto de uma sala de aula de uma escola pública municipal, que apresenta inúmeras dificuldades, tais como o número excessivo de alunos, a falta de materiais didáticos e mobiliários adequados, a falta de interesse e envolvimento da comunidade local e o pouco interesse em estudar por parte de alguns alunos, e que mesmo assim, se envolvem em tarefas matemáticas de forma dialógica e interativa por meio dos Grupos Interativos.

Em nossa pesquisa, adotamos o papel de pesquisador e ao mesmo tempo de professor, participando da seleção, adaptação e elaboração de todas as tarefas e aplicação das mesmas com a turma do 8º ano.

Entendemos que o duplo papel, professor/pesquisador, pode provocar certa passionalidade na análise das informações, devido ao envolvimento com a turma. Por isso mesmo, optamos por utilizar várias técnicas para coleta de dados,

como a gravação de áudio e de vídeo, fotografias, registros escritos dos alunos acerca de suas conjecturas, entrevistas semiestruturadas com os participantes, testes e descobertas, relatórios descritivos sobre as experiências vivenciadas e anotações pessoais do professor em diário de bordo. Além do que, segundo Lüdke (1986, p. 12), “o pesquisador deve, atentar para o maior número de elementos presentes na situação estudada, pois um aspecto supostamente trivial pode ser essencial para melhor compreensão do problema que está sendo estudado”.

4.1.1 O estudo de caso

De acordo com Ponte (2006), o estudo de caso é caracterizado por estudar uma situação muito particular que pode envolver uma pessoa, um programa, uma instituição ou qualquer entidade social. O pesquisador se debruça sobre uma situação bem específica que se supõe ser única ou especial, mesmo que apenas em alguns aspectos. Segundo o autor, o pesquisador procura descobrir o que há de mais essencial e característico nessa situação e que pode contribuir para a compreensão global de certo fenômeno de interesse. Essa é uma característica que permeia toda a nossa pesquisa, visto que foi realizada com uma turma específica de 8º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal com aspectos próprios, possibilitando um maior aprofundamento acerca das potencialidades de interação e diálogo entre os diferentes participantes, salientando os saberes matemáticos adquiridos, produzidos pelos alunos em suas atividades matemáticas.

Yin (2001, p.32) descreve as características relevantes do estudo de caso:

Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Complementa que “a investigação de um estudo de caso enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, e, como resultado, baseia- se em várias fontes de evidências com os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e, como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados.

Neste trabalho, nos preocupamos com os aspectos citados anteriormente desde o seu início, pois o estudo a todo o momento visou a investigação de novos elementos que podiam surgir por meio do processo dialógico

e interativo, se preocupando em retratar os fatos como ocorreram verdadeiramente por meio de diversas fontes de informação, tais como transcrições de áudio e vídeo, trechos de registros escritos e fotografias de alguns momentos do processo. Preocupamo-nos também, em destacar diferentes tipos de situações que ocorreram com o que podemos chamar de subcasos, quando analisamos mais detalhadamente o processo de algum aluno em especial ou grupos diferentes dentro da turma.

Procuramos analisar as interações e diálogos entre os diferentes participantes, quais os saberes matemáticos adquiridos, como os alunos estavam aprendendo, ou não, para selecionar e/ou elaborar as próximas tarefas e planejar como seriam exploradas e gerenciadas.

Além disso, a sala de aula é o ambiente natural de nosso estudo e o contexto no qual obtivemos a produção de informações, onde os voluntários, os alunos e o professor/pesquisador assumiram papéis únicos e centrais no processo.

O aspecto mais importante para a escolha desta turma como estudo de caso foi o fato de o professor estar nesta unidade escolar há nove anos e, os principais atores serem alunos deste professor/pesquisador desde o ano letivo anterior, o que possibilitou um maior entrosamento entre os protagonistas da pesquisa. O professor conhecia bem seus alunos, suas limitações e potencialidades, e isto foi essencial na elaboração e gestão das tarefas.

O foco central em nossos estudos sempre foi com o processo de ensino e aprendizagem e como ele se dava. Muito mais importante que “quantos”, “quem” ou “onde”, nossas inquietações buscaram respostas ao “como” e aos “porquês”. Nessa perspectiva, Yin apud André (2002, p. 51) afirmou que “deve ser dada preferência a metodologia de estudo de caso quando: as perguntas da pesquisa forem do tipo “como” e “porquê” e/ou quando o pesquisador tiver pouco controle sobre aquilo que acontece ou pode acontecer no desenrolar dos fatos”.

Outro aspecto importante para a escolha dessa modalidade de pesquisa é a questão do produto final esperado. Num estudo de caso, o “produto final” é a própria descrição dos casos analisados. Segundo Merriam apud Brocardo (2001, p. 195), “intimamente relacionado com a natureza das questões, o produto final deverá constituir essencialmente uma descrição detalhada e uma interpretação dos fenômenos estudados”.