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Al 4 Regulamentação do direito de pousada

C- FAZENDA Cl Aforamento

III. OFÍCIOS e OFICIAIS

3.6. A MILÍCIA

3.6.1. O Coudel-mor

As Ordenações Afonsinas465 dispõem um longo articulado sobre os Coudéis e o

Regimento do seu ofício, que se apresenta cuidadosamente detalhado.

Cargo eminentemente militar, a este oficial cabia o provimento de coudéis e escrivães da Coudelaria por um período de três anos, que podiam ser renovados por autorização régia.

Os diplomas surgem sempre sob forma de ementa: é mencionado o nome do oficial, o local onde iria exercer a sua actividade e o período de duração do cargo, seguido das disposições escatocolares integrais.

Estamos perante um ofício inteiramente patrimonializado uma vez que a titularidade da Coudelaria-mor pertenceu, durante a segunda metade do século XV, à família Silveira. Mesmo os casos de interinidade foram assegurados por elementos desta família, nomeadamente Diogo da Silveira, irmão do nosso biografado, em 1463 e Francisco da Silveira em 1473467 e 1476468. O primeiro detentor do cargo foi Nuno

Martins da Silveira que desde 1449, após a Batalha de Alfarrobeira, o acumulou com o de Escrivão da Puridade. Na sequência do seu falecimento sucede-lhe, em 1454, o filho segundo, titular do ofício no ano em apreço - FERNÃO da SILVEIRA469 e que nele se

manterá pelo menos até 1486. Janeiro. 01 data em que já é Regedor da Casa da Suplicação. À semelhança do que aconteceu anteriormente, depois da sua morte em 1493, foi substituído no cargo pelo seu filho primogénito, Francisco da Silveira.

Em 1471 inventariamos 22 diplomas da sua responsabilidade equivalentes a 2,59% do espólio documental, que se repartem pelas aposentações (9) e pelos

provimentos de ofícios de coudéis e escrivães da Coudelaria (13).

De todos os oficiais palatinos, este é o que apresenta o itinerário mais excêntrico relativamente ao monarca, confirmando a autonomia de que dispunha na sua actividade

463 Ordenações Afonsinas, L. I, tít. LXXI, pp. 473-520.

466 Armando Paulo Carvalho Borlido, A Chancelaria Régia e os seus oficiais..., p. 64. 467 Eliana Gonçalves Diogo Ferreira, 1473 - Um Ano no Desembargo..., vol. I, p. 107. 468 Isabel Carla Moreira de Brito, A Burocracia Régia Tardo-Afonsina...., vol. I, p. 61.

burocrática. Apenas ele subscreve a partir de Almada e, à excepção do rei, é igualmente o único com produção diplomática a partir de Setúbal. O seu percurso cruza-se com o do soberano em Lisboa, e em Santarém uma única vez a 15 de Março.

Os escrivães da Coudelaria são VASCO AFONSO (1467-1473), que apresenta uma actividade corrente ao serviço do Coudel-mor redigindo 19 dos 22 diplomas inventariados e ÁLVARO de LISBOA cuja actividade é difícil de aferir uma vez que escreve apenas 3 cartas.

3.6.2. O Monteiro-mor

"Que o Monteiro Moor dá as montarias das Comarcas per sua carta assinada per elle... ".

"E se alguu Monteiro das Comarcas era velho, e em hidade de settenta annos, o Monteiro Moor ho apousentava... "

Abrimos a presente epígrafe com duas citações do código normativo afonsino que estabelecem algumas das competências do Monteiro-mor471; a escolha não foi

aleatória, correspondem aos dois tipos diplomáticos inventariados no espólio documental referente ao ano de 1471. Mas as funções deste oficial não se esgotam nos provimentos e nas aposentações; a ele cabia também o recebimento das coimas resultantes da invasão das matas régias coutadas, inclusivamente apascentação ilegal de gado, fogo posto, corte de lenha, etc. e a jurisdição sobre a actividade dos monteiros das câmaras, cavalo e moços do monte, podendo mesmo privá-los do exercício das suas funções, aplicar penas ou, pelo contrário, retirá-las.

Já antes mencionamos o fenómeno da patrimonialização de certos ofícios por determinadas famílias; este é um deles: abarca gerações e transpõe reinados. Desde D. João I e durante parte significativa do século XV que a Montaria esteve adstrita a uma

AT)

família com "origem na pequena nobreza de origem local" - os Castelo Branco.

0 Ordenações Afonsinas, L. I, tit. LXVII, p. 402.

'' Ordenações Afonsinas, L. I, tít. LXVII, pp. 398-405.

No ano em apreço encontramos dois oficiais em exercício: LOPO VASQUES de CASTELO BRANCO e JOÃO SOARES de CASTELO BRANCO que em 1471 "tem o

cargo por LOPO VASQUES de CASTELO BRANCO, nosso Monteiro-mor" m . O facto

de subscreverem uma carta cada um não garante informes precisos sobre a sua actividade, principalmente sobre o segundo do qual não existem registos anteriores ou posteriores da sua actividade burocrática.

LOPO VASQUES de CASTELO BRANCO é filho de Nuno Vasques de Castelo Branco, igualmente Monteiro-mor e Almirante-mor do reino e neto de [Martim] Lopo Vasques de Castelo Branco, que havia sido Monteiro-mor de D. João I. O nosso biografado exerceu o ofício em regime de logotenência durante a titularidade do seu pai entre 1441 e 1459, passando, a partir desta data e até 1478, ano em que é assassinado, a cumpri-lo como titular. Mantendo a tradição, o seu filho primogénito suceder-lhe-á no ofício, na Alcaidaria de Moura e no Morgado de Castelo Branco.

Os 2 diplomas da autoria destes oficiais está em consonância com as atribuições que lhes são prescritas na legislação coeva; Lopo Vasques de Castelo Branco subscreve uma carta de provimento de oficio e João Soares de Castelo Branco é responsável por uma carta de aposentação 474. Na data das respectivas subscrições, o seu itinerário é

coincidente com o do soberano em Santarém.

O escrivão que redige para estes oficiais é PEDRO de OLIVENÇA, cuja actividade se limita a estes dois diplomas; quaisquer conclusões são limitadas pela sua intervenção ocasional.

3.6.3. O Anadel-mor

Estamos perante outro ofício de cariz militar, cujas funções do titular passariam pelo apuramento de todos os besteiros do conto do senhorio régio, assim como pelo recenseamento de todos os homens das vintenas do mar, entre muitas outras; da sua responsabilidade seria também o provimento de novos oficiais considerados necessários ao serviço do monarca e a concessão de privilégios a besteiros do monte, de cavalo e da

475

camará .

473IAN/TT, Ch. D. Af. V, L. 16, fl. 80.

474 IAN/TT, Ch. D. Af. V, L. 16, fis. 30v e 80, respectivamente. 475 Ordenações Afonsinas, L. I, tít. LXVIII, pp. 405-421.

No ano de 1471 o titular do ofício de Anadel-mor de besteiros do conto seria Afonso Furtado de Mendonça, do Conselho régio. À semelhança do que se verifica na década de 60, não tem qualquer intervenção redactorial .