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Al 4 Regulamentação do direito de pousada

C- FAZENDA Cl Aforamento

III. OFÍCIOS e OFICIAIS

3.1. A estrutura orgânica da administração régia

3.4.1. Os Vedores da Fazenda

"... devem seer bem diligentes, e avisados em requerer, e arrecadar os Nossos Direitos,

e rendas do Regno, e tirar as Jugadas, e Foros, e fazer boõs emprazamentos, e arrendamentos das Herdades, e Casas, e Foros, que a Nósperteencem... " .

Como podemos inferir pela citação em epígrafe, os Vedores da Fazenda eram uma espécie de gestores do património do monarca, cabendo-lhes a preparação e subscrição de diplomas "que tange a dinheiros, ou a bees, ou a cousas, que aos bees

Nossos perteencem. " 383, ou seja, diplomas de cariz económico.

As suas responsabilidades ao nível da administração incidiam em três esferas de acção:

1. questões relacionadas com o arrendamento dos direitos régios e das rendas do Reino (fiscalidade e emprazamentos);

2. conhecimento dos feitos das sisas;

3. livramento de um vasto leque de diplomas, que iam do provimento de ofícios não enquadráveis na justiça, arrecadamento de direitos régios, prescrições sobre administração dos bens do monarca, abastecimento de castelos e «almazens», cartas relativas a dinheiros ou bens régios, aforamentos e emprazamentos de casas e herdades do monarca, entre

. 384

outras .

O ofício de Vedor da Fazenda, directo sucessor do «Ouvidor da Portaria», foi instituído por volta de 1370, representando a "creação de uma espécie de Ministério das Finanças"385 que trouxe consigo o aparecimento de um imposto geral e permanente: as

386

sisas .

382 Ordenações Afonsinas, L. I, tít. Ill, p. 23. 383 Ordenações Afonsinas, L. I, tít. III, p. 25. 384 Ordenações Afonsinas, L. I, tít. Ill, pp. 23-25.

385 Vitorino Magalhães Godinho, "Finanças públicas e estrutura do Estado", in D. H. P., vol. II, pp. 244-

264.

No ano em apreço, a instância da Fazenda conhece dois titulares: LOPO de ALMEIDA e GONÇALO VASQUES de CASTELO BRANCO. À semelhança do que já foi constatado para anos subsequentes, nomeadamente 1472 e 1473 , JOÃO

LOPES de ALMEIDA assume funções interinamente em lugar de seu pai.

O cargo tende a permanecer na família Almeida pelo menos desde meados da década de 30. O oficial em exercício no ano de 1471, LOPO de ALMEIDA389 é titular

efectivo do cargo desde 1445, ano em que o seu pai, Diogo Fernandes de Almeida, renuncia em seu favor. Com apenas 23 anos, o nosso biografado é chamado à Corte a desempenhar funções na qualidade de interino; aí permanece até 1475, altura em que abdica em nome do filho primogénito. É cavaleiro da Casa real desde 1442, elevado à categoria de Io Conde de Abrantes em 1476; foi membro do Conselho régio, Chanceler-

mor, Mordomo-mor e Escrivão da Puridade de D. Joana390. A sua actividade militar é

igualmente intensa: encontramo-lo ao lado do monarca em Alfarrobeira (1449) , Alcácer Ceguer (1458)392, na expedição a Benacofú (1464)393 e na tomada da vila de

Arzila e cidade de Tânger (1471)394. Participou na comitiva enviada ao novo papa Sisto

IV395 e integrou o séquito que acompanhou a Infanta D. Leonor a Sena para se casar

com o Imperador Frederico III da Alemanha .

Tal como já havia acontecido com o anterior titular, também JOÃO LOPES de ALMEIDA397 herda o ofício em 1475 por renúncia do pai398. No entanto, já em 1465

"...tem carrego de desempenhar os feitos da fazenda real por Lopo de Almeida, seu pai" 399 , acontecendo o mesmo em 1471; mantém o cargo até 1495. Foi Cavaleiro da

Casa real, 2o Conde de Abrantes e membro do Conselho régio, tendo igualmente

participado nas campanhas de 1471 e ainda na expedição a Castela de 1475 .

387 388 389 390 391 392 393 394

Isabel Bárbara de Castro Henriques, Os Caminhos do Desembargo: 1472..., vol. I, p. 123. Eliana Gonçalves Diogo Ferreira, 1473 - Um Ano no Desembargo..., vol. I, p. 93.

Consultar biografia no II vol. deste trabalho: Catálogo Prosopográfico n° 12, vol. II, pp. 65-77. Anselmo Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra., L. II, p. 351.

Humberto Baquero Moreno, A Batalha de Alfarrobeira..., p. 700.

Rui de Pina, "Crónica de D. Afonso V", in Crónicas de Rui de Pina, cap. CXXXLX, p. 779. Rui de Pina, "Crónica de D. Afonso V", in ob. cit., cap. CLVI, p. 811.

A comprovar a sua presença, compulsamos cinco diplomas a partir destes locais. Cf. IAN/TT, Ch. D. Afonso V, L. 22, fis. 14, 17v e 21.

395 Jorge de Faro, Receitas e Despesas da Fazenda Real de 1384 a 1481. Subsídios documentais, Lisboa,

Publicações do Centro de Estudos Económicos, 1965, p. 81.

"Virgínia Rau, Estudos de História Medieval, rééd., Lisboa, ed. Presença, 1986, p.147. Consultar biografia no II vol. deste trabalho: Catálogo Prosopográfico n° 9, vol. II, pp. 48-53. Anselmo Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra., L. II, p. 354.

399 Helena M. Matos Monteiro, A Chancelaria régia..., vol. II, p. 90.

" Eugenia Pereira da Mota, Do "Africano" ao "Príncipe Perfeito"..., vol. II, p. 84.

396 397 398

GONÇALO VASQUES de CASTELO BRANCO ('Dom')401, Cavaleiro da Casa

do Infante D. Fernando, membro do Conselho régio, substituiu diversas vezes o seu irmão, Nuno Vaz de Castelo Branco no cargo de Monteiro-mor entre 1446 e 1462. Foi Vedor da Fazenda (1458) e Escrivão da Puridade (1459) em regime de interinidade. É nomeado, em 1464, Escrivão da Puridade, Vedor-mor das Obras e dos Resíduos por morte do anterior titular, Diogo da Silveira, mas será substituído por João Galvão um ano mais tarde. Neste mesmo ano de 1465, por óbito de D. Fernando de Castro, é empossado no cargo de Vedor da Fazenda402. Aparece ainda a subscrever diplomas na

qualidade de Almotacé-mor, nomeadamente em 1471, cargo em que terá sido provido possivelmente em 1457 por falecimento de Pedro Lourenço de Almeida, anterior titular. Em 1481, quando é nomeado Regedor da Casa do Cível, o ofício de Vedor da Fazenda transita para o seu filho primogénito, Martim Vaz de Castelo Branco. Partidário do monarca em Alfarrobeira encontramo-lo ainda em várias expedições: Alcácer Ceguer (1457), norte de África (1463-64) e Castela (1476)403.

Se compararmos os itinerários do monarca com o destes oficiais, apercebemo- nos do paralelismo de percursos, particularmente no que concerne a Lisboa, Santarém, Sintra e, no caso de LOPO de ALMEIDA, Arzila e Tânger.

Em conjunto, a actividade destes três oficiais superiores não é muito expressiva, uma vez que são responsáveis pela subscrição de apenas 49 diplomas, equivalentes a 5,78% do total de documentos. Quanto à tipologia dos diplomas que subscrevem, dispersa-se pelos provimentos de ofícios, doações de bens e direitos e aforamentos, o que vem de encontro ao prescrito pela legislação vigente.

401 402

Consultar biografia no II vol. deste trabalho: Catálogo Prosopográfico n° 7, vol. II, pp. 31-38.

Humberto Baquero Moreno, "A conspiração contra D. João II: O Julgamento do Duque de Bragança", in Exilados, Marginais e Contestatários na Sociedade Portuguesa Medieval, Lisboa, ed. Presença, 1990, p. 229.