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PRODUÇÃO RURAL FAMILIAR

2.1. A mobilização e luta por terra e por educação na Paraíba

As diversas formas de expropriação e marginalização dos trabalhadores do campo no estado da Paraíba resultaram na organização dessa classe na luta pela terra, e no retrato da questão agrária na Paraíba que se tem hoje. Com o aumento do número de usinas e dos engenhos de cana no interior do Estado, ainda na década de 1950, e o decorrente avanço da plantação da cana, ocorreram uma série de transformações das relações sociais no campo, que desencadearam, principalmente, a expulsão do morador de condição20 das grandes fazendas e o aumento dos encargos pagos pelo uso da terra pelo camponês, como o foro21 e o cambão22.

Portanto o morador de condição, em qualquer situação, vivia na iminência de ser expulso da terra, e foi o que aconteceu com grande parte deles. Esse foi o motivo do surgimento do maior movimento camponês brasileiro naquele período: as Ligas Camponesas que nasceram no município de Santo Antão, em Pernambuco e, em Sapé, na Paraíba, em decorrência da hiper-exploração e da ameaça de expulsão dos moradores das grandes propriedades (MITIDIERO Jr., 2008, p.

258).

Foi assim que em finais da década de 1950, os trabalhadores rurais/camponeses se organizaram através das Ligas Camponesas Paraibanas, estado em que houve mais mobilizações e mais associados, tendo como principais lideranças João Pedro Teixeira, Nego Fuba (João Alfredo Dias) e Pedro Fazendeiro (Pedro Inácio de Araújo).

Em 1954, destaca-se a criação da Liga de Sapé, que, logo em seguida, se extingue para ressurgir em 1958 com outras feições, não mais como uma organização doméstica,

20 Morador de condição é aquele camponês que sob a condição de produzir na terra de seus patrões, trabalhando dia e noite com toda a sua família, tinham o direito de viver nas terras da fazenda e alimentar sua família (ANDRADE, 1964).

21  O aforamento, é um contrato bilateral e oneroso, no qual, por disposição de última vontade, o proprietário

do imóvel confere, perpetuamente, a outrem o domínio útil deste, mediante o pagamento de uma pensão anual, invariável, denominada foro.  

22 A principal bandeira de luta das Ligas Camponesas Paraibanas era pelo fim do cambão, uma lei criada pelos patrões que obrigava o camponês e toda sua família a trabalharem gratuitamente de um a três dias por semana (PEREIRA, 2009).

95 sem registro, mas como uma associação registrada legalmente e com sede na cidade de Sapé23.

Essa nova forma de organização da classe procurava mostrar que não era apenas uma organização partidária, apesar do apoio do Partido Comunista nessas mobilizações, mas sim uma organização camponesa, que surgia forte no campo, onde o camponês e o latifundiário eram os sujeitos políticos dessas mobilizações, sobre isso Martins (1995) afirma:

Essas novas palavras - camponês e latifundiário são palavras políticas, que procuram expressar a unidade das respectivas situações de classe e, sobretudo, que procuram dar unidade às lutas dos camponeses. Não são, portanto, meras palavras. Estão enraizadas numa concepção da história, das lutas políticas e dos confrontos entre as classes sociais. Nesse plano, a palavra, camponês, não designa apenas o seu novo nome, mas também o seu lugar social, não apenas no espaço geográfico, no campo em contraposição à povoação ou à cidade, mas na estrutura da sociedade;

por isso, não é apenas um novo nome, mas pretende ser também a designação de um destino histórico (p. 22-23).

Sendo assim, o termo camponês no Brasil surge como uma concepção política muito forte, principalmente em territórios agrários onde as Ligas Camponesas tiveram fortes mobilizações como na Paraíba. O objetivo, com a ênfase nesse novo termo no campo brasileiro, era a afirmação de que existia uma classe de trabalhadores nas áreas rurais que estava unida pelo trabalho na terra, e em luta pela terra e pelo fim de sua subordinação semiescrava aos latifundiários.

Segundo Pereira (2009), as Ligas surgem na Paraíba sob fortes formas de opressão:

Não somente a terra era cativa do latifúndio, mas também as relações de trabalho continuavam subumanas. Até o direito à sindicalização era negado ao camponês. Com o aumento do preço do açúcar, os usineiros se encontravam em plena ascensão e começaram a exigir mais dos moradores, posseiros e foreiros. Para tirar um morador da terra, o proprietário mandava os capangas desacatá-los e até desrespeitavam suas famílias. A polícia era legítimo escudo dos proprietários (p. 100).

Sob essa conjuntura, a Liga de Sapé foi a Liga Camponesa mais poderosa do Brasil.

A base inicial foram uns mil e quinhentos moradores do Engenho Miriri, pertencente ao

23 Por ter em mira a legalidade da associação, no primeiro encontro, foram convidados o juiz de Sapé, o prefeito, o médico e o chefe de polícia. A Liga instalou-se na própria prefeitura municipal de Sapé sob o nome de Associação. Seu presidente foi o camponês e militante João Pedro Teixeira, apesar de que oficialmente no registro dos papéis da associação constar como presidente Severino Barbosa, pequeno proprietário da região (AUED et al., 2005).

96 grupo Ribeiro Coutinho24. Parte deste engenho se situava em Sapé, e parte em Mamanguape, município vizinho. Camponeses de outras fazendas foram se associando à medida que os companheiros de Miriri iam conquistando melhores condições de trabalho, como a redução das condições de pagamento do foro e a redução dos dias de cambão (PEREIRA, 2009).

As Ligas se espalharam pelo Litoral, pela Várzea, pelo Brejo e pelo Agreste da Paraíba, e se organizaram em vários municípios. Em 1961, foi criada, em João Pessoa, a Federação dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas da Paraíba (Fetag/PB), conhecida como a Federação das Ligas Camponesas da Paraíba, constituída por dezoito Ligas, o seu presidente foi Francisco de Assis Lemos, e como vice, João Pedro Teixeira (PEREIRA, 2009).

Usineiros e latifundiários, incomodados com as denúncias e o crescente sucesso das ligas, começaram a usar a violência como forma de amedrontar os camponeses.

Derrubavam suas casas, destruíam suas lavouras, expulsavam-nos de suas fazendas e usavam a polícia para intimidá-los, já que muitos policiais eram os antigos capangas e/ou pistoleiros, que ingressavam na Polícia por meio de apadrinhamento político.

Com a organização maciça dos camponeses em torno das Ligas, os fazendeiros, temerosos com a possibilidade de perder suas terras, passaram a expulsar os trabalhadores que habitavam as suas áreas, como uma forma de reafirmar o seu poder sobre elas (MITIDIERO Jr., 2008, p. 258).

Após vários conflitos entre capangas, policiais e camponeses, e assassinatos de vários líderes das Ligas, entre eles o próprio João Pedro Teixeira, a organização seguiu sob o comando de Elizabeth Teixeira, companheira de João Pedro Teixeira. Em abril de 1964, a Liga de Sapé chega ao seu fim. O fim dessas organizações foi decorrente principalmente do Golpe Militar de 1964, onde as Ligas foram perseguidas e massacradas até sua extinção.

Com o Golpe Militar de 1964 e a consequente extinção das Ligas, ocorreu o aumente progressivo da expulsão de moradores de condição, na medida em que o regime militar autorizava o desmonte de qualquer manifestação social dando liberdade aos proprietários ou usando o seu efetivo militar/policial para retirar os trabalhadores das áreas. Com isso a saída do trabalhador das terras de propriedade do usineiro ou do grande fazendeiro foi uma realidade anterior e posterior ao Golpe de 1964 (MITIDIERO Jr., 2008, p. 258).

24 Segundo Souza (1996 apud PEREIRA, 2009), o grupo Ribeiro Coutinho era o mais poderoso do Estado.

Dominava grande parte da Várzea Paraibana. Tinha quatro usinas, sendo as mais importantes a Santa Helena, de Sapé e a São João, de Santa Rita, Espírito Santo, Sapé e Mari. Esse grupo elegeu, como governador, o usineiro Flávio Ribeiro Coutinho, além de manter um membro permanente no Congresso Nacional, cinco deputados estaduais, secretários de estado, vereadores e prefeitos de vários municípios.

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Os camponeses foram dispersos, muitos deles fugiram, abandonando seus familiares, outros foram presos, torturados ou desaparecidos, entre eles as lideranças, como Negro Fuba e Pedro Fazendeiro. Porém, segundo Pereira (2009), mesmo abafado pelo golpe militar, o espírito de resistência, adquirido durante o período das Ligas, continuou presente nesses camponeses. Dessa forma, e agora com o apoio explícito da Igreja Católica, entre as décadas de 1970 e 1980, as lutas no campo na Paraíba se organizaram novamente.

Inicialmente, foram os posseiros oriundos das Ligas que tomaram a frente.

A Igreja na Paraíba deixou de ser suplente de sindicatos na organização do povo do campo como no período das Ligas Camponesas. Ela passou a fazer parte da luta com a Pastoral Rural, o que incluía, para além das motivações evangélicas, organizar o povo por meio dos próprios sindicatos (não pelegos), ou de movimentos sociais e estar junto do drama dos camponeses por meio de instituições formadas por ela mesma (MITIDIERO Jr., 2008, p. 303).

A Igreja Católica atua, assim, primeiramente por meio da Pastoral Rural, que cria em 1976 o Centro de Defesas Humanas da Arquidiocese da Paraíba, que a partir de 1988 passou a ser chamada de Comissão Pastoral da Terra (CPT-PB), a qual continuou o trabalho da Igreja Católica junto aos camponeses. Assim, nasce na Paraíba, uma rama articulada da Igreja em defesa dos homens e mulheres do campo. Essa organização, para Pereira (2009), foi fundamental no processo de construção de uma visão social e política dos grupos de trabalhadores rurais nesse estado e no campo nordestino em geral.

A atuação da Pastoral Rural e posteriormente da CPT na Paraíba, segundo Mitidiero Jr. (2008), surge da inspiração com a experiência do Movimento da Igreja Viva, movimento articulado pela Igreja a partir de 1969, o qual tinha como objetivo deslocar as ações da Igreja do centro das cidades para suas periferias, atuando junto às comunidades e auxiliando essas pessoas a se organizarem. Para este autor: “foi nessa experiência que nasceu o trabalho de base como forma de conscientização popular e que inspirou o trabalho da CPT na Paraíba até os dias atuais” (MITIDIERO Jr., 2008, p. 294).

A postura da CPT no estado se pautou, desde a sua chegada, na defesa intransigente dos pobres da terra. Seu trabalho não se resumiu ao simples apoio à luta. Para Moreira e Targino (1997), o trabalho da CPT na Paraíba foi e é muito amplo, abrangendo: a prestação de serviços de assessoria jurídica para os trabalhadores rurais; a denúncia de violência de policiais e capangas de fazendeiros no estado contra os trabalhadores; o acompanhamento quase diário dos trabalhadores rurais em conflito; a divulgação dos fatos, como assassinatos de trabalhadores no campo, em nível local, nacional e internacional; a

98 organização das romarias da terra25; o trabalho de formação da consciência política dos trabalhadores rurais e uma assistência infraestrutural por ocasião dos acampamentos, além de assistência médica aos trabalhadores e cobertura financeira quando se faz necessário (MOREIRA & TARGINO, 1997).

Mesmo sob todas as formas de expropriação sofridas pelo morador de condição das grandes fazendas e usinas, diante do avanço do capital no campo, esse sujeito não se extinguiu totalmente das relações sociais no campo até a década de 1970. Os grandes fazendeiros, na Paraíba, até essa década sempre recorreram a essas relações de produção tradicionais, caracterizadas pela intensa exploração e subordinação do trabalhador/morador, para reduzir os custos com a manutenção de suas terras e assim extrair ao máximo a mais-valia do trabalho não pago, o que permitia a produção de capital mesmo nos momentos de crise no mercado açucareiro.

Pode-se dizer que essa relação social e de trabalho no campo na Paraíba, a do morador de condição, chega ao seu fim na década de 1970, e a criação do Proálcool e outros programas estatais de incentivos à monocultura para exportação e em larga escala no campo, modelos marcantes no desenvolvimento capitalista no campo brasileiro, foi o principal marco histórico dessa extinção:

O Proálcool, criado em 975, seguido de outras políticas de incentivo à agropecuária – como, por exemplo, os incentivos fiscais da Sudene, que repassavam recursos oriundos do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento; o Fundo de Investimento do Nordeste (Finor); e programas, como o Pólo-Nordesre, Proterra e o Projeto Sertanejo – fortaleceu e acelerou os processos de concentração de terras e expulsão dos camponeses. Segundo dados do IBGE que contemplam esse período, de 1970 a 1975, houve no Litoral e no Agreste Paraibano, a redução de 82,3% de moradores de condição e agregados e, de 18,5% de arrendatários; entre 1975 e 1995, houve um aumento de 93,6% de trabalhadores assalariados (MITIDIERO Jr., 2008, p. 260).

Com todos esses incentivos fiscais do Governo para a produção em larga escala, não sobrava mais terras a serem divididas com relações de moradores de condição,

25 As romarias da terra e das águas, mais de 20, que acontecem Brasil afora, são manifestações religiosas que mobilizam milhares de pessoas. A maioria delas é promovida pela Comissão Pastoral da Terra. Com as romarias, a CPT entrou no universo do povo. Elas são realizadas de diversas formas e em espaços diferentes.

Algumas em locais de romarias populares tradicionais, outras em lugares que a luta e a conquista do povo tornaram sagrados. As romarias da terra e das águas são o templo do encontro do divino com o humano, são grandes celebrações que manifestam e constroem a unidade da igreja. As romarias da terra introduziram ainda como elementos centrais a Palavra e a vida do povo, e, por isso elas sempre tiveram um cunho profético de denúncia da realidade de opressão vivida pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo e das injustiças que contra eles se cometem. As romarias da terra e das águas não se resumem à celebração em si, normalmente elas são precedidas de um processo de preparação das comunidades camponesas que participam.

99 parcerias e arrendamentos, impondo assim, um novo ritmo de trabalho no campo que seria satisfeito pelo assalariamento temporário.

Era “matar dois coelhos com uma cajadada só”, os latifundiários teriam suas terras para plantar com vistas à máxima extração do lucro, e ainda teriam a mão-de-obra disponível para trabalhar em suas terras, pagando como quisessem, pois os direitos trabalhistas, ainda na década de 1970, eram quase inexistentes.

As relações entre trabalhadores e dono das terras se alteram por completo, os moradores de condição tinham garantidos os direitos adquiridos através dos contratos verbais feitos com esses proprietários. Com o avanço da produção de commodities no campo, muitas terras foram vendidas sem nenhuma notificação para esses trabalhadores/moradores de condição, nem lhes era concedido o direito de preferência, os quais deveriam ser garantidos pelo Estatuto da Terra26. Esse descumprimento de lei abria uma brecha para que eles recorressem à justiça, dando início à luta contra a expulsão-expropriação, dando a conformação do espaço agrário em luta na Paraíba (MOREIRA &

TARGINO, 1997).

Os novos donos dessas terras, para não descumprirem as leis trabalhistas, no momento que adquiriam essas terras, pediam as casas dos moradores de volta, botavam gado nas posses e plantavam capim para ocuparem as terras de alguma forma. A esse processo os trabalhadores reagiam de várias maneiras: arrancando o capim ou a cana, plantados no lugar dos seus roçados, e refazendo-os através do sistema de mutirão;

entrando na justiça com solicitação de manutenção de posse; acampando em praça pública; ocupando a sede local do Incra; denunciando a violência dos donos em nível regional, nacional e internacional, através da imprensa, da Igreja e de outras entidades de apoio (MOREIRA e TARGINO, 1997, p. 54).

As lutas sociais no campo na Paraíba, principalmente em finais da década de 1980, com a chegada do MST no estado, marcaram esse momento de mediação do Estado com

26 Oito meses após assumir o poder, o governo militar aprova a Lei 4.505, de 30 de novembro de 1964, o chamado Estatuto da Terra. Tratava-se de uma tentativa de apaziguar os conflitos no campo, que ganhavam força, em especial no Nordeste (Ligas Camponesas) e no Sul (Master, encabeçado por Leonel Brizola). No papel, o Estatuto da Terra representava um avanço, vez que reconhecia a existência do latifúndio e estabelecia que as terras improdutivas eram passíveis de desapropriação. De acordo com o Estatuto, a propriedade de terra desempenha por completo sua função social quando, simultaneamente, favorece o bem-estar dos proprietários e trabalhadores que nela laboram, mantém níveis satisfatórios de produtividade; assegura a conservação dos recursos naturais e ainda observa as disposições legais que regulam as relações de trabalho.

O que no papel representaria um avanço à questão agrária, na prática, se mostrava diferente. Sem qualquer eficácia, por inércia dos governos militares, o Estatuto da Terra serviu aos interesses do capital, facilitando o ingresso deste no campo, de modo que o camponês (aquele que deveria ser o grande beneficiado da Reforma Agrária) viu toda sua organização desmantelada pelo aparelho repressor e, ainda, longe da terra, teve maculada sua consciência de classe social, vez que, a partir de então, uma perspectiva empresarial e de desenvolvimento econômico passou a vigorar no tratamento da questão da terra no campo (BORTOLOZZI JÚNIOR., 2008).

100 as organizações da sociedade civil por meio de movimentos sociais, como uma nova expressão da luta pela terra e pela conquista da Reforma Agrária, entrando nas pautas estatais de governo, não só a luta pelo acesso à terra, mas por direitos sociais historicamente negados, como a educação para essas áreas rurais, por exemplo.

Após 1988 e, principalmente, na primeira metade da década de 1990, surgiu um novo elemento nos conflitos agrários da Paraíba, as ocupações de terra, que apareceram como resultados da luta organizada por movimentos sociais, como o MST, e por organizações como a CPT. No caso do MST:

A primeira ocupação de terras feita pelo MST na Paraíba foi no dia 7 de abril de 1989, quando cerca de 150 famílias de trabalhadores rurais, oriundas de nove municípios da região do Brejo Paraibano, ocuparam a Fazenda Sapucaia, de propriedade do fazendeiro Camilo Oliver Cruz, com 2.400 ha, no município de Bananeiras. A fazenda era uma área de antigos conflitos de terra onde viviam em torno de 40 famílias de assalariados agrícolas em disputa permanente com o fazendeiro, reivindicando o uso da terra para o desenvolvimento de agricultura familiar e de subsistência, já que, segundo o MST, a fazenda era improdutiva. Os trabalhadores foram despejados de forma violenta, porém permaneceram acampados próximos à área até o dia 3 de setembro do mesmo ano. Em função da falta de intervenção do governo em termos de desapropriação da área, as famílias juntaram-se a outras, totalizando o número de 320 famílias e ocuparam a fazenda Maniçoba, no município de Esperança, onde permaneceram acampadas por um longo período, aguardando a imissão de posse da área (LAZARETTI, 2007).

Já a CPT, ao atuar junto à luta dos trabalhadores pelo acesso ao trabalho na terra na Paraíba, ela assume a ocupação de terra como estratégia de luta nesse estado a partir de 1993. E aqui precisamos reconhecer a importância de interlocutores na luta agrária paraibana, como a CPT, que mediados pela Teologia da Libertação naquele momento assume uma postura de organização da classe trabalhadora. E essa não é uma postura que se assume sem grandes conflitos internos à própria Igreja Católica. Além disso, essa relação segundo Mitidiero Jr. (2008), entre CPT e MST no estado, não se deu sem conflitos:

A partir de 1993, o MST retorna à Paraíba a fim de organizar o movimento. O plano foi o de ocupar espaços e aglutinar grupos de trabalhadores ainda não acompanhados pela CPT, mas, na prática, não foi o que aconteceu, o que fez acirrar o confronto entre CPT-PB e MST-PB (MITIDIERO Jr., 2008, p. 372).

Foi por meio destas ocupações, entre outras que ocorreram em toda a década de 1990, em todo o estado da Paraíba, que o espaço agrário paraibano passa a ganhar outras feições.

101 Na década de 1990, junto com a tradicional luta de resistência na terra, as ocupações de fazendas improdutivas foram a estratégia de luta que marcaram esse período. Com a crise instalada no setor sucro-alcooleiro nessa década, uma grande quantidade de trabalhadores rurais foi dispensada e uma grande quantidade de terras tornou-se ociosa, o que inevitavelmente, contribuiu para a organização de grupo de sem-terra e para o acirramento dos conflitos (MITIDIERO Jr., 2008, p. 263).

Essas ocupações foram organizadas em sua grande maioria pelo MST e pela CPT, esses dois movimentos de luta pela terra têm sido os dois grandes responsáveis pelas

Essas ocupações foram organizadas em sua grande maioria pelo MST e pela CPT, esses dois movimentos de luta pela terra têm sido os dois grandes responsáveis pelas