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A monarquia de Davi

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I. ISRAEL: DO TRIBALISMO À MONARQUIA

1.4. O Estado Monárquico

1.4.3. A monarquia de Davi

Com a morte de Saul e de seu filho Jônatas, Davi, que estava foragido de Saul, regressa a Judá onde foi coroado rei pelos anciãos do povo (2Sm 2,1-4). O herdeiro de Saul, Isbaal governava o trono de Israel. No entanto, as dissensões no reino setentrional irromperam e Isbaal foi assassinado pelos seus assessores (2Sm 4,1-12). Os anciãos de Israel, por meio de um acordo, elegeram Davi o seu novo rei. Davi tornou-se rei de Judá e Israel e logo buscou uma saída emergencial para o dualismo entre os dois reinos. A saída foi a conquista da antiga cidade jebusita, pois “Jerusalém controlava a principal rota norte-sul no interior, mais do que isso, era a junção natural entre o norte e o sul” (Johnson, 1995, p. 66).

Com a conquista de Jerusalém por Davi, este a transformou em novo centro político e religioso (2Sm 5-7). Ali organizou suas forças militares (1Cr 12) e administrativas.

Davi fixou sua residência em Jerusalém e fez dela a “cidade de Davi”, capital administrativa e religiosa do reino. Com grande festividade, ele transladou a Arca da Aliança para Jerusalém e organizou os levitas (2Sm 6; 1Cr 15,16-24). Sobre a arca e o seu translado, Fohrer (1982, p. 150), se expressa da seguinte forma:

A arca foi considerada o palácio de Deus que era superior a todos os outros seres de âmbito divino e símbolo da eleição de Davi; em outras palavras, ela adquiriu significado teológico e dinástico.

(...) a transferência da arca teve outro aspecto, que provavelmente revela influência Cananéia: além da oferenda de sacrifícios, ali realizou- se uma solene procissão acompanhada por música e dança cultual, a última executada pelo próprio rei, que exercia função sacerdotal.

Davi, em suas campanhas militares, derrotou os filisteus (2Sm 5,17-25), moabitas, arameus, sírios (2 Sm 8,1-18) e livrou Israel de novas ameaças de seus vizinhos estrangeiros. As novas conquistas alicerçaram e fortaleceram a monarquia.

As numerosas conquistas de Davi transformaram Israel num reino composto de elementos variados. Seu poder consistia por um lado num exército tribal que estava sob o comando de Joabe (2Sm 8,16). Este era chamado de ‘al – hassaba, “aquele sobre o exército popular” . Por outro lado, o poder estava firmado num grupo de mercenários (2Sm 15,18) que era denominado de ‘hakkereti wehappeleti, “, creteus e os peleteus” um grupo comandado por Benaia. Esta era a constituição da força militar que garantiu muitas vitórias particulares a Davi, como por exemplo, a conquista de Jerusalém.

O poder de comando sobre o grupo de mercenários, que era de propriedade particular do rei, constituía uma área de competência

independente; Davi quis evitar cruzamentos e sobreposições de competências com os exércitos populares (Donner, 1997, p. 236).

Davi, para sustentar seu exército e a burocracia estatal (2Sm 8,16-18 e 20,23- 26), impôs pesados tributos sobre os povos dominados, uma vez que as tribos de Israel resistiam a qualquer tipo de tributo.

Os casamentos diplomáticos de Davi lhe trouxeram problemas domésticos. O estupro de Tamar, meio-irmã de Amon, foi vingado por Absalão, seu irmão. Davi não castigou Amon por cometer o incesto que, entre os costumes israelitas, era considerado uma violação. A inimizade que doravante passou a existir entre Davi e Absalão não se apagou, apesar da reconciliação de Davi com o filho (Sm 14, 21-33). O governo de Davi dava margem a muita insatisfação. Absalão reagiu contra a forma de Davi exercer justiça (2Sm 15, 3-4), chegando ao ponto de promover uma revolta popular.

O aparelho administrativo em Israel estava centrado na pessoa do rei e teve como conseqüência a desaprovação de grande parte da população, principalmente das tribos do norte e de seus representantes. Outra medida que gerou descontentamento foi a construção de um império que redundava no alistamento militar obrigatório.

O poder de Davi consistia num exército profissional cujos oficiais tinham de ser recompensados por meio de presentes de terra que podiam transformar em feudos para sustentar seus homens. Mas para doar terra, tinha primeiro de tomá-la, e isto não podia sempre ser feito mediante conquista. Disso resultou a série de revoltas e de conspirações contra seu governo, sendo a mais séria delas dirigida por seu próprio filho Absalão (Johnson, 1995, p.65).

Absalão proclamou-se rei em Hebrom, e conquistou grande parte dos israelitas para o seu lado (2 Sm 15,6). Esse acontecimento demonstrou que Davi perdeu muito de seu prestígio em relação ao povo. “As tribos eram separatistas por instinto. Ressentiam o custo das campanhas de Davi, e talvez ainda mais as tendências centralizadoras que acelerou e o aparato da monarquia oriental...” (Johnson , 1995, p.65).

Durante a batalha no bosque de Efraim, Absalão foi morto por Joabe e Davi retorna para Jerusalém conduzido pelos anciãos da tribo de Judá (2Sm 19). Em seguida ocorre um novo levante comandado por Seba, pois as tribos do norte se julgaram preteridas pelo rei em sua ligação com Judá e Jerusalém. Davi recruta novamente seu exército de mercenários e também o exército popular de Judá, o que provocou uma ruptura no governo de Davi (2Sm 15,20). Joabe sufoca a revolta de Seba e Davi reassume o poder sobre Israel e governa as tribos do norte como tirano.

Ao final de seu governo, Davi viu-se com outro problema: a questão da sucessão. A luta pelo poder gerou disputa entre seus filhos Adonias, o filho mais velho, e Salomão, seu filho com Bate-Seba. Isso levou à formação de partidos opostos dentro do governo de Davi.

A intervenção de Bate-Seba foi determinante para a escolha de Salomão como sucessor de Davi. Salomão foi ungido rei e Adonias e seus partidários se submeteram ao novo governo.

Com isso, pensamos ter exposto os traços básicos da história de Israel desde as origens até o reinado de Davi. No capítulo seguinte procuraremos evidenciar como este personagem tão marcante para a história de Israel é apresentado nos textos bíblicos do gênero “historiografia”.

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