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Discussão Teórica

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II. DAVI NAS HISTORIOGRAFIAS BÍBLICAS

2.3. Obra Historiográfica Cronista

2.3.1. Discussão Teórica

A fim de obtermos mais entendimento sobre a Obra Historiográfica Cronista, faremos algumas considerações de alguns estudiosos, colocando em relevo as fontes e o propósito do cronista.

Para Rendtorff (1979), o cronista utilizou a Obra Histórica Deuteronomista como fonte. Seu propósito era manter a pureza de fé e do culto, preservando o templo de Jerusalém, o reino e a descendência de Davi. A comunidade do pós-exílio está empenhada em conhecer o plano de Deus na história e a partir de então dominar o presente e o futuro.

Para Reimer (1998), a Obra Historiográfica Cronista não é uma continuação da Obra Historiográfica Deuteronomista e sim uma obra alternativa. Os grupos formadores dessa obra seriam os escribas, cronistas e sacerdotes do 2º templo. Segundo ele, deu-se importância ao templo e ao culto. O cronista não menciona o êxodo e a libertação do Egito e provavelmente não tem esperança messiânica. Os livros de Crônicas, Neemias e Esdras formaram a obra cronista.

Por essa mesma linha vai o autor Fohrer (1993). Para ele, o templo e suas cerimônias eram o centro da vida nacional.

…e o Templo pertencia ao povo, de modo que aquilo que tinha sido um templo real e oficial foi substituído por um templo nacional que pertencia ao povo como um todo. O mesmo sacerdote substituía o chefe dos sacerdotes no ápice da hierarquia (Fohrer, 1993, p. 412).

Fohrer ainda continua:

O cronista revelou alta estima pelo culto do templo de Jerusalém, único santuário legítimo, cujo significado defendeu contra a comunidade samaritana, que se tinha formado por volta de 351 aC. Seu interesse centralizava-se na realização do culto. O templo e o culto eram o centro da vida nacional (Fohrer, 1993, p. 450).

Em geral, afirma-se que os livros de Esdras e Neemias são uma continuação da obra cronista. Esses livros contam a história da restauração judaica no pós-exílio, da construção do templo e dos muros.

Lamadrid (1999) concorda com os autores anteriores que o cronista serviu-se dos livros bíblicos anteriores, sobretudo do Pentateuco e da História Deuteronomista e aduz outra série de obras extrabíblicas, algumas das quais pertencem ao gênero histórico e outras são de caráter profético. Apesar do cronista ter utilizado fontes

bem definidas, o seu trabalho redacional ficou bem articulado e positivo; tornou-se um verdadeiro autor por redigir uma obra nova e original, eliminando conscientemente as dinastias do reino do Norte. “Para ele, o único e autêntico povo de Deus é o reino de Judá, presidido pela dinastia davídica” (Lamadrid, 1999, p. 147). O cronista utilizou o midraxe como gênero literário, “que é uma leitura atualizada dos textos sagrados, com a finalidade de acomodá-los às necessidades e exigências de cada geração” (Lamadrid, 1999, p. 145). Outra inovação do Cronista foi introduzir retoques em suas fontes. Os exemplos podem ser encontrados em 1Cr 21. O relato é pouco favorável a Davi, mas fala da aquisição da eira de Orna; o Cronista, nesta circunstância, escreve sobre o assunto mas com retoques e adaptações.

Em lugar de atribuir a iniciativa de fazer o censo a um impulso de cólera, como fazia a fonte (2Sm 24, 1), o Cronista introduz a figura de Satã (v.1). Como Deus podia ser responsável por uma má ação como o censo? Mais ainda, como podia Deus castigar Davi por uma decisão que o próprio Deus lhe inspirara? O recurso a Satã obedece ao desejo de salvaguardar a justiça e a santidade de Deus, atributos divinos percebidos e expressos imperfeitamente pelo Deuteronomista em 2 Sm 24, 1 (Lamadrid, 1999, 148-149).

A última afirmação de Lamadrid, sobre o trabalho de redação do Cronista foi que a sua obra apresenta múltiplas adições, provenientes de fontes orais ou escritas. Em 1Cr 23-27, há referências à organização do pessoal do culto litúrgico, sob a coordenação de Davi. Muitos argumentos do Cronista vêm carregados de “reflexões pessoais, discursos, juízos ou avaliações – postos na boca dos protagonistas que vão desfilando por suas páginas – com a finalidade de assinalar o sentido teológico da história”.

1 Cr 28,2-10.20-21; 29,1-5.10-19. Todos esses conselhos, exortações, instruções e súplicas, dirigidas algumas vezes a Salomão, outras ao povo e a Deus, são peças redacionais do Cronista, colocadas como palavras de despedida ou testamento na boca de Davi, cujo denominador comum é o templo, outro dos temas prediletos de nossa história.

Von Rad (1973, p. 334) concorda com Lamadrid que a redação do Cronista “intervinha normalmente em seus modelos e em suas origens, eliminando ou acrescentando, corrigindo ou invertendo a seqüência dos acontecimentos”. O Cronista, com relação a Javé, estabeleceu uma relação de causa e efeito.

No que diz respeito a ação de Javé na história dos reis, as Crônicas se basearam inteiramente no Deuteronômio. Há também o propósito de mostrar a relação entre pecado e castigo, convertendo essa correspondência numa evidência racional: nenhum mal sem pecado, nenhum pecado sem castigo (1973, p. 334).

Para Pixley (1991), a casta sacerdotal procurou comandar a vida de Judá no pós-exílio. Eles fizeram uma releitura da história de Israel. Esta história começa com longas árvores genealógicas, com Davi e termina com a destruição do templo por Nabucodonosor. Segundo ele, há uma clara tendência em Crônicas de colocar os cantores do templo no lugar dos homens do espírito de Javé, os profetas. “As Crônicas dão testemunho de um processo de apropriação desta tradição pelo pessoal do templo, que na época persa eram os verdadeiros dominadores” (Pixley, 1991, p. 100).

Devido à importância do templo e do culto, o contexto era legalista e ritual, que foi vivificado por uma corrente de piedade pessoal, pelas doutrinas sapienciais, pela lembrança das glórias ou das fraquezas do passado e pela confiança nas

promessas dos profetas. A fidelidade se manifestava por meio do reconhecimento e fidelidade ao Templo e observância da lei mosaica.

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