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Capítulo 3. Formar o Educador de Infância/Professor do 1º Ciclo

3.4. A Monodocência na Educação Pré-Escolar e 1º CEB

Atualmente a transversalidade é uma forma de organizar e gerir o currículo em torno de competências e saberes multidisciplinares, que atravessam várias áreas curriculares, exigindo um contributo por parte dos docentes.

Na educação Pré-Escolar, utiliza-se a expressão “Áreas de Conteúdo”,

Esta organização toma por vezes como referência as grandes áreas de desenvolvimento enunciadas pela psicologia – sócio – afectiva, motora, cognitiva – que deverão contribuir para o desenvolvimento global da criança; outras vezes prefere-se pensar em termo de áreas de actividades, que se baseiam nas possibilidades oferecidas pelo espaço educativo, remetendo para diferentes formas de articulação (Ministério da Educação, 1997, p. 47).

As áreas de conteúdo integram diversas áreas do saber, pois, para Zabalza (1992, p. 159), “A escola infantil não aborda os conteúdos, entendidos estes em sentido restrito. É um mundo de experiências polivalentes em que os conteúdos desempenham um papel puramente instrumental: servem como oportunidade para a acção” segundo o investigador o que interessa na educação pré-escolar é a procura das funções a desenvolver através do conteúdo, o sentido que lhe atribuímos, neste sentido “ (…) o fundamental é sabermos o que estamos a trabalhar, que possibilidade de enriquecimento experimental o conteúdo ou material possui, uma vez planeado por nós previamente ou então surgido de maneira casual” (idem, p. 59).

Na educação pré-escolar “As diferentes áreas de conteúdo partem do nível de desempenho da criança, da sua actividade espontânea e lúdica, estimulando o seu desejo de criar, explorar e transformar, para incentivar formas de acção reflectida e progressivamente mais complexa” (Ministério da Educação, 1997, p. 48). Assim, “ (…) o objectivo fundamental desta etapa é proporcionar à criança recursos suficientes para manusear a realidade com a qual entra em contacto e movimentar-se relativamente a ela” (Zabalza, 1992, p. 160).

Seguindo esta abordagem transversal e transdisciplinar, o educador deve proporcionar, de forma flexível, experiências e atividades didáticas, que façam sentido para as crianças. Guiando-se pela intenção educativa e pelos objetivos pré- estabelecidos, o educador deve planear a sua ação, articulando as diferentes áreas de conteúdo e a partir da escolha de uma ou outra, promover atividades e o desenvolvimento de competências nas restantes áreas da educação pré-escolar.

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Relativamente ao regime de monodocência no 1º CEB, e de acordo com os Princípios Orientadores da Educação Básica (2011) Art. 3º. Anexo 1,

O Programa do 1º Ciclo é dividido nas áreas curriculares disciplinares de frequências obrigatórias: Língua Portuguesa, Matemática, Estudo do Meio, Expressões: Artísticas e Físico Motoras; e as áreas curriculares não disciplinares: Estudo Acompanhado, Formação Cívica.

No 1º CEB, o regime de organização curricular vigente, permite a integração curricular. A monodocência, em tudo vem enriquecer o conhecimento e acompanhamento por parte do professor, relativamente aos seus alunos, permitindo que o este assuma uma maior responsabilidade educativa no percurso e na atividade educativa dos mesmos. Esta responsabilidade expanda-se ao nível pedagógico, moral e social. Relativo a este modo de organização de trabalho, Carolino in Leite e Lopes (2007, p. 157) defende que,

O modo de trabalho pedagógico no 1º CEB é distinto e peculiar. Peculiar porque, atendendo à faixa etária dos seus alunos, apela a uma relação afectiva de grande proximidade e distinta porque, ao exercer-se em regime de monodocência, é bastante diferente do praticado pelos professores dos outros níveis de ensino, implicando uma prática diária com um grupo continuado de alunos (…)

Neste sentido, a organização do processo educativo, permite ao docente uma maior proximidade com os seus alunos, reforçando assim os laços afetivos. Tal constatação exige ao professor competências pessoais e sociais, de modo, a que este possa desenvolver uma relação interpessoal positiva com os seus alunos.

A Lei de Bases do Sistema Educativo (1986) Art. 8º. 1 a), reforça a ideia da importância da monodocência, mencionando que, “No 1º ciclo, o ensino é globalizante, da responsabilidade de um professor único, que pode ser coadjuvado em áreas especializadas.” Desta forma, constatamos que a coadjuvação é valorizada no processo ensino-aprendizagem do 1º CEB, nomeadamente nas áreas de Expressões. A coadjuvação no ensino de monodocência representa um trabalho cooperativo, de colaboração, de auxílio solidário, que anseia, única e exclusivamente, uma visão mais ampla que enriqueça o processo de ensino-aprendizagem.

Neste contexto, Carolino in Leite e Lopes (2007, p. 169), enfatiza a ideia que os professores atuais deparam-se como várias funções, cargos, na escola, o que dificulta e provoca muitas vezes “um sentido de impotência e de ineficácia aos professores”. Perante este problema, Formosinho (1998, p. 30) menciona que a

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Tendência recente, para iniciar precocemente o ensino de uma língua estrangeira, a valorização do ensino da expressões visuais, físicas e musicais configuram juntamente com as tendências anteriores, um papel do professor tão complexo, que se torna difícil desempenhá-lo adequadamente sem apoio. A monodocência integral exige uma polivalência do professor demasiado ampla.

Assim, a monodocência pode e deve ser exercida através de equipas educativas, nas quais possam se integrar professores especializados, bem como, ser orientada, pelo trabalho entre equipas interdisciplinares, no qual participam psicólogos, assistentes sociais, entre outros profissionais.

Em jeito de conclusão, verificamos que um adequado desenvolvimento das “áreas de conteúdo” na educação pré-escolar e do currículo do 1º CEB, depende dos seus profissionais, da autorresponsabilização, da procura de respostas adequadas à diversidade contextual dos grupos e turmas de crianças e das características de cada educando. Cabe à escola, através do ensino regulamentado pela monodocência, coadjuvada ou não, organizar e conduzir o processo de ensino-aprendizagem, por forma a responder às necessidades e especificidades das crianças que nela se desenvolvem de forma integral.