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Capítulo 3. Formar o Educador de Infância/Professor do 1º Ciclo

3.1. Construir a Profissão em Prol de um Perfil

A educação infantil é conduzida por agentes educativos, que intervêm conjuntamente na educação das crianças, através da instituição escolar, de forma a serem atingidos objetivos comuns.

O que é a educação Infantil? Zabalza (1992, p. 9) respondeu a esta questão dizendo que, “Em termos muitos genéricos poderíamos dizer que se trata daquele conjunto de intervenções educativas, realizadas na escola com crianças dos 0 aos 6 anos.”

Assumindo que esta resposta é tão pouco clara como insuficiente, aprofundamos este conceito com a ideia, também veiculada por este autor de que a Educação Infantil:

1. Trata-se de um sistema: dado que é um conjunto de elementos (fatores, agentes) que atuam solidariamente tendo em vista uma ideia comum. 2. Esse sistema não está constituído por componentes idênticos, mas sim por

diversos conjuntos diferenciados:

 meio social-ambiental de pertença;

 características dos sujeitos;

 ação educativa propriamente dita;

 mecanismos institucionais e/ou marco normativo (legal político, organizativo) que determina a intervenção escolar (Zabalza, 1993, p. 10).

Podemos verificar no artigo décimo do estatuto da carreira docente (2012), os deveres profissionais do educador/professor que devem apresentar e respeitar no exercício das suas funções, sendo estes:

a) contribuir para a formação e realização integral dos alunos, promovendo o desenvolvimento das suas capacidades, estimulando a sua autonomia criatividade, incentivando a formação de cidadãos civicamente responsáveis e democraticamente intervenientes na vida da comunidade;

b) reconhecer e respeitar as diferenças culturais e pessoais dos alunos e demais membros da comunidade educativa, valorizando os diferentes saberes e culturas e combatendo processos de exclusão e discriminação;

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c) colaborar com todos os intervenientes no processo educativo, favorecendo a criação e o desenvolvimento de relações de respeito mútuo, em especial entre docentes, alunos, encarregados de educação e pessoal não docente;

d) participar na organização e assegurar a realização das atividades educativas; e) gerir o processo de ensino-aprendizagem, no âmbito dos programas definidos,

procurando adotar mecanismos de diferenciação pedagógica suscetíveis de responder às necessidades individuais dos alunos;

f) respeitar a natureza confidencial da informação relativa aos alunos e respetivas famílias;

g) contribuir para a reflexão sobre o trabalho realizado individual e coletivamente;

h) enriquecer e partilhar os recursos educativos, bem como utilizar novos meios de ensino que lhe sejam propostos, numa perspetiva de abertura à inovação e de reforço da qualidade da educação e ensino;

i) coresponsabilizar-se pela preservação e uso adequado das instalações e equipamentos e propor medidas de melhoramento e renovação;

j) atualizar e aperfeiçoar os seus conhecimentos, capacidades e competências, numa perspetiva de desenvolvimento pessoal e profissional;

l) empenhar-se nas e concluir as ações de formação em que participar;

m) assegurar a realização, na educação pré-escolar e no ensino básico, de atividades educativas de acompanhamento de alunos, destinadas a suprir a ausência imprevista e de curta duração do respetivo docente;

n) cooperar com os restantes intervenientes no processo educativo na deteção da existência de casos de crianças ou jovens com necessidades educativas especiais.

Para Araújo (2008, p. 69),

Os educadores de infância são profissionais responsáveis pela organização de atividades educativas, a nível individual e de grupo, com vista à promoção e incentivo do desenvolvimento físico, psíquico, emocional e social de crianças dos 0 aos 6 anos de idade. A sua ação obedece a orientações curriculares e pedagógicas decretadas pelo Ministério da Educação e desenrola-se em instituições vocacionadas para a educação de infância.

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De acordo com o Decreto-Lei n.º240/2001, relativo ao perfil geral de desempenho profissional dos educadores de infância e dos professores do ensino básico, os mesmos devem,

Desenvolver estratégias pedagógicas diferenciadas, conducentes ao sucesso e realização de cada aluno no quadro sócio-cultural da diversidade das sociedades e da heterogeneidade dos sujeitos, mobilizando valores, saberes, experiências e outras componentes dos contextos e percursos pessoais, culturais e sociais dos alunos.

Relativamente às funções pedagógicas e deveres do professor, anteriormente mencionadas (os), importa refletir sobre as/os mesmas (os) com maior profundidade. Os professores são, antes de mais, profissionais com responsabilidades na educação dos seus alunos, independentemente do contexto e das instituições educativas onde exercem as suas funções, estes formam-se, de modo a possuírem competências sociais, relacionais e de desenvolvimento profissional, que lhes permitam responder adequadamente às mudanças, cada vez mais acentuadas da sociedade atual.

Atualmente, a educação depara-se com alguma turbulência social relativamente à procura de métodos de ensino mais eficazes e melhores formas de organizar o processo de ensino e aprendizagem. Surgiu a necessidade de observar, refletir e criticar o modelo de ensino atual, no sentido de verificar se este se adequa à contemporaneidade. Sendo assim, é fundamental que “ O professor do 1º CEB se adapte às novas exigências da sociedade e dos alunos. Não basta o professor do 1º CEB saber transmitir conhecimentos, é necessário desenvolver outras competências.” (Afonso, 2009, p. 34)

Segundo Lopes (2007) citado por Afonso (2009, p. 24), “Iniciamos, assim, um processo, em que é imprescindível procurar o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos, de aperfeiçoar a capacidade de pensar e de desenvolver, no aluno, a capacidade de construir o seu próprio conhecimento.”

De forma a obter o êxito profissional, os educadores e professores atuais devem estar conscientes que “A qualidade profissional reside na capacidade de deduzir esquemas estratégicos de ideias gerais, de selecionar, combinar e inventar esquemas práticos mais concretos para desenvolver o esquema estratégico (…) Metodologicamente, isto significa que a formação de professores tem de procurar dotar- se destas componentes e dos métodos e situações em que se aciona o pensamento estratégico” (Nóvoa, 1999, p. 83-84).

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O professor é também, um ser em desenvolvimento, que apresenta uma passado de experiências e um futuro direcionado por princípios de justiça, equidade, isenção, rigor, por forma a orientar e estimular o desenvolvimento de cada aluno. Neste sentido, o professor não assume exclusivamente o papel de cidadão, como também, dispõe os seus saberes e conhecimentos em prol de uma cidadania mais fundamentada, crítica e interventiva.

Leite e Lopes (2007, p. 216) afirmam que

Ser professor é, hoje, ser pessoa, e estar em constante

desenvolvimento e aprendizagem, porque as vertiginosas mudanças deste “nosso” tempo traçam essa “obrigatoriedade”, e a natureza da profissão a isso nos conduz. As exigências e as pressões decorrentes das amplas e profundas mudanças no tecido social, organizacional e económico, (…) colocam-nos, como professores, perante uma crescente e “obrigatória”, necessidade de desenvolvimento e de reconstrução de si mesmo.

De acordo com Grossman (1990) citado por Afonso (2009, p. 36) o professor deve apresentar um saber assente em quatro “componentes do conhecimento, as quais fazem, também, parte dos conhecimentos dos educadores de infância e sobretudo dos professores do 1º CEB:

 o conhecimento pedagógico geral, que diz respeito ao processo de ensino aprendizagem, aos princípios gerais de ensino, ao tempo da aprendizagem académica, à gestão da turma, isto é ao domínio das técnicas didáticas, da estrutura das aulas, da planificação, da avaliação, dos aspetos normativos da educação, etc;

 o conhecimento do conteúdo, que se refere ao conhecimento do conteúdo da área que vai lecionar, que determina o quê e como ensinar;

 o conhecimento do contexto, que se refere ao onde e a quem se ensina. O contexto da sala de aula, ao meio em que a escola se insere, às espectativas dos alunos e dos pais, às características socioeconómicas, às regras de funcionamento da escola, à cultura do coletivo de professores, etc., que condicionam a atuação do professor;

 o conhecimento didático do conteúdo, que se refere ao conhecimento específico que determina e delimita a sua profissionalidade que traduz a simbiose entre o conhecimento da matéria a ensinar e o conhecimento pedagógico e didático relativo ao «como» ensiná-la aos alunos.”

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É de facto basilar perceber a importância que os educadores/professores apresentam na construção do sistema social, pelas interações que estabelecem no exercício da docência. Neste sentido, um educador/professor deve ser, um agente reflexivo em relação ao currículo e ao ato educativo. Só assim, pode encarar a educação de forma eficaz e transpor para a sua praxis conceitos, atitudes e valores fundamentais para o desenvolvimento e crescimento dos seus alunos.