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4.2 INSTRUMENTOS DE PESQUISA UTILIZADOS

4.2.2 A observação

Uma segunda técnica que utilizamos foi a da observação. Esta também foi importante na realização da pesquisa, pois nos possibilitou coletar dados que poderiam ter passado despercebidos na utilização de outros métodos, tais como entrevista, questionários, gravações etc. No entanto “[...] a observação precisa ser antes de tudo controlada e sistemática. Isso implica a existência de um

planejamento cuidadoso do trabalho e uma preparação rigorosa do observador.” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 25).

De acordo com Patton (1980 apud LÜDKE, ANDRÉ, 1986, p. 26), “o observador [...] precisa aprender a fazer registros descritivos, saber separar os detalhes relevantes dos triviais, aprender a fazer anotações organizadas e utilizar métodos rigorosos para validar suas observações.”

Do ponto de vista prático, antes de iniciar as observações entramos em contato com os professores responsáveis pelas disciplinas de Introdução aos

Estudos Linguísticos e Língua e Texto.

Depois desse contato, definimos em que turmas realizaríamos as observações, pautados em Sadalla (1998). A autora relata alguns obstáculos que enfrentou durante a realização de sua pesquisa. Tais dificuldades se deram quando esta começou a realizar a seleção dos participantes da pesquisa e muitos destes se recusaram a participar, ao tomarem conhecimento de quais eram as técnicas que seriam utilizadas na coleta de dados. Por essa razão, um de nossos critérios de seleção é o de que o professor responsável pela disciplina aceitasse nossa presença durante as aulas, após tomar conhecimento dos nossos objetivos e métodos, posto que esta, em geral, é uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores.

Após esse primeiro contato, levamos a esses professores o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), de modo que estes tivessem ciência do que tratava a pesquisa, antes mesmo de levar o TCLE aos alunos da turma, mais uma vez dando a oportunidade aos professores de permitir a nossa entrada em sala de aula ou não. Todos assinaram o TCLE e, após a assinatura, devidamente autorizados, entramos em contato com a turma.

Acompanhados pelo professor de cada disciplina, pedimos permissão para que pudéssemos utilizar alguns minutos da aula para, junto com os alunos, ler o TCLE, e tirar suas dúvidas, de modo a garantir que todos estivessem cientes dos procedimentos que seriam realizados. Isto feito, iniciamos as observações, que ocorriam uma vez ou duas vezes por semana, de acordo com a carga horária da disciplina. Para a realização destas, levávamos os materiais necessários para a realização de uma coleta o mais eficiente possível. Os instrumentos utilizados para fazer o registro dos dados da pesquisa a partir das observações foram o diário de

campo (escrito diretamente no computador) e um gravador para a captação do áudio das aulas. No diário, descrevíamos as ações e reações dos alunos durante as discussões realizadas em aula, em detalhes, a partir de nossa perspectiva.

O interesse ao realizar essas observações também se deu devido à possibilidade de poder acompanhar as aulas, os conteúdos trabalhados nestas e, principalmente, registrar a participação destes alunos durante as aulas, pois é nesses momentos que os alunos têm a oportunidade de expor concepções, dúvidas, enfim, suas crenças em relação aos conteúdos discutidos.

Lüdke (1986) afirma que, apesar das vantagens observadas no método de observação, este também sofre uma série de críticas, dentre elas a de que a presença do observador pode influenciar o ambiente, pois os “observados” podem se sentir desconfortáveis com a presença de alguém estranho ao grupo. Também se cogita a possibilidade de o observador fazer, durante o período observado, interpretações pessoais a respeito do que é observado e, por fim, que o observador distorça, de algum modo, o que é observado, fazendo, por exemplo, uma “representação parcial da realidade.” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 27). Daí a importância de se planejar cuidadosamente o processo de observação.

Por fim, não há consenso sobre o tempo que se deve dispender na observação. A permanência curta no campo de observação pode levar a uma conclusão precipitada, porém nada garante que um longo período em campo signifique sucesso; o que irá garantir sucesso é a experiência como pesquisador/observador. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 30).

As observações transcorreram sem maiores surpresas nas disciplinas de IEL e LT. No entanto, obviamente os alunos sentiram no início a presença de alguém estranho ao meio. Porém o que mais nos chamou a atenção foi a reação dos professores. Sadalla (1998) relata a resistência dos professores antes mesmo da realização da pesquisa quando tinha de explicar aos professores como se daria o processo. No caso da realização da presente pesquisa, os professores se mostravam incomodados após o início das gravações. Uma delas chegava a comentar que só ao ver o gravador já “gaguejava”.

Quanto aos alunos, estes nos receberam muito bem, e até brincavam quando nos viam gravando, aparentemente sem pensar muito se estavam sendo observados ou não.

Assim, os registros de campo nos auxiliaram não somente como forma de anotar o que a gravação impossibilitava, mas também para que pudéssemos voltar e refletir sobre o que havia se passado durante as aulas, coisas que no calor do momento não conseguíamos anotar.

Durante as observações ambas as professoras nos deram a oportunidade de poder participar das aulas e consequentemente das discussões, o que facilitou a interação com os alunos, que nos viam não somente como uma pesquisadora que estava ali para coletar dados, mas também para aprender com eles. Sempre que podíamos, fazíamos questão de deixar claro que, assim como eles, estávamos ali para aprender, e que o aprendizado é eterno, uma vez que sempre estamos nos reconstruindo.